1 Falar-vos de martírios e tormentos,
É perpetrar amargas redundâncias,
Redizer minhas mágoas, minhas ânsias,
Renovar minhas síncopes de dor…
Não sorvo mais os tóxicos violentos
Do desespero e da melancolia,
Após a derrocada
Das construções de um sonho superior.
2 Tudo outrora, Senhor,
Na minha pobre vida abandonada,
Era o tédio cruel que me impedia
De vislumbrar a claridade intensa
Da luz do sol puríssimo da crença,
Tudo em volta de mim era a cegueira
Que torturou a minha vida inteira,
Que me seguiu o espírito ambicioso!
3 A carne é pobre e é cheia de fraqueza,
Simbolizando o ciclo tenebroso
Das sínteses de dor da Natureza.
E a carne subjugou-me inteiramente,
Fez-me fraco e descrente,
E transformou a minha mocidade
Num montão de ambições, de fama e glória,
Adormeceu-me aos cantos da vaidade
E me afastou da estrada meritória
Da crença e da bondade…
4 Misericordiosíssimo Senhor!
De tortura em tortura amargurado,
O meu frágil espírito inferior
Viu-se presa de trevas, no passado,
E a desgraça suprema o amortalhou.
5 Tudo sofri, de dor e de miséria,
Mas a tua bondade me levou
A esquecer a influência deletéria
Da carne passageira…
Rompeste a minha venda de cegueira
E divisei o excelso panorama
Do Universo infinito, que TE aclama
Como a fonte do amor ilimitado!
6 Relevaste, meu Deus, o meu pecado
E pude ouvir as harmonias puras
Que equilibram mundos nas alturas!…
7 Cheio de amaridúlcida ansiedade,
A esperança o espírito me invade
Aguardando das lágrimas futuras
A minha redenção…
8 Que a confiança, pois, em Ti me anime,
Que no porvir a dor bela e sublime
Jorre em minhalma a luz da perfeição.
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