Sonetos
I
1 Eu fui pedir à Natureza, um dia,
Que me desse um consolo a tantas dores;
Desalentado e triste, pressenti-a
Cansada e triste como os sofredores.
2 Encaminhei-me à porta da Agonia,
Corroído por chagas interiores,
Buscando a morte que me aparecia
Como o termo anelado aos dissabores,
3 Desvendando esse trágico segredo
Que a alma decifra, pávida de medo,
Com ansiedade e temores dos galés…
4 Mas ah! Que atroz remorso me persegue!
Choro, soluço, clamo e ele me segue
Nesse abismo que se abre ante os meus pés.
II
1 Ninguém ouve na Terra esse lamento
Da minha dor imensa, incompreendida,
Nas pavorosas trevas desta vida
Em que eu julgava achar o Esquecimento.
2 Tenebrosa, essa noite indefinida,
Cheia de tempestade e sofrimento,
No país do Pavor e do Tormento
Onde chora a minhalma enceguecida.
3 Onde o não-ser, a paz calma e serena,
Que me traria o bálsamo a esta pena
Interminável, rude, dolorosa?
4 Ninguém! Uma só voz não me responde!
Sinto somente a treva que me esconde
Na vastidão da noite tormentosa…
III
1 Sirva-vos de escarmento a dor que trago
Na minhalma infeliz e sofredora,
Este padecimento com que pago
O desvio da estrada salvadora
2 Aqui somente ampara-me esse vago
Pressentimento de uma nova aurora,
Quando terei os bens, o brando afago
Da Luz, que está na dor depuradora.
3 Agora, sim! Depois de tantos anos
De tormentos, em meio aos desenganos,
Espero o sol de novas alvoradas
4 De existências de pranto e de miséria,
Para beber no cálix da matéria
As essências das dores renegadas!
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