O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Porto de alegria — Familiares diversos


9

“Custa-me confessar-lhes que estou cego.”

Mesmo com o nascimento do primogênito, não houve melhora no relacionamento do casal Décio e Rosele, residente em Uberaba, Minas. Aliás, no relacionamento de Décio com todos os seus íntimos, em face de seu comportamento, sempre muito prejudicado pelo uso abusivo de alcoólicos.

E apenas três meses após o nascimento do garoto, a 27 de novembro de 1985, Décio Márcio Carvalho, de 25 anos, pôs fim à vida física utilizando-se de um revólver.

“Não queria que a minha esposa viesse a sofrer qualquer desfeita em casa, em razão de algum deslize meu. (…) Não queria dar ao meu filhinho qualquer exemplo de viciação, e resolvi retirar-me do mundo.” Estas foram as justificativas do ato extremo que ele mesmo, em Espírito, relacionou em sua carta mediúnica de 14 de março de 1986, sentindo-se, na época do fato, derrotado diante do vício. Também revela-se, na mensagem, profundamente arrependido, e esclarece que encontra-se doente, ao exclamar: “Custa-me confessar-lhes que estou cego.”

Sua carta trouxe muita tranquilidade à família, pois, além de mostrar que ele está bem amparado no Plano Espiritual, desfez dúvidas quanto ao desenrolar dos fatos que antecederam o doloroso acontecimento.




MENSAGEM


1 Querida mãezinha Alda n e querida Rosele, n estou presente e escrevo, mas escrevo sob a mão vigorosa da vovó Maria Rezende, n e com a assistência do meu pai Antônio Batista. n

2 Assim é porque estou aqui sem possibilidade de vê-las e nem de ver os amigos que me recebem. Custa-me confessar-lhes que estou cego. n

3 Até hoje não sei que forças entraram em meu Espírito, impelindo-me ao suicídio. n

4 Se eu pudesse tomar a postura mais cabível para mim, estaria de joelhos a fim de lhes pedir perdão. Eu não sabia que a vida continuava e que não nos transfiguramos de um momento para outro.

5 Mãezinha, perdoe-me a leviandade a que me entreguei, sabendo que o meu filhinho n já estava aí no mundo a pedir-me amparo sem palavras. Devia, de minha parte, mostrar mais compreensão e mais maturidade acerca de nossa vida.

6 Rosele, você igualmente me desculpe se a deixei tão só com o nosso filho. Tantos ideais caíram por terra, à maneira de monumentos roídos por insetos daninhos.

7 Mamãe, o seu coração me compreenda e me auxilie como sempre.

8 Naquele dia fatal, ergui-me como quem transportava a morte no próprio corpo. Tivera uma das minhas rusgas com a nossa querida Rosele, uma rusga sem importância da qual dei conhecimento à minha irmã Eliana, n e que foi a chamada gota d’água no cântaro de minhas queixas.

9 Tudo me parecia perseguição e suplício. Até mesmo a minha sogra, Dª Dagmar, n está no meu arquivo de amarguras injustificáveis. Se ela, por vezes, implicava comigo, era por mim, não por ela.

10 Mãezinha, você sabe que, às vezes, parava aqui ou ali para uns momentos de cerveja, ou mesmo de agentes mais fortes; entretanto, não admitia conselhos de ninguém.

11 Minha sogra queria que eu fosse perfeito, mas muito depressa se convenceu de que consertar-me seria impossível. E eu não queria que a minha esposa, a sua filha Rosele, viesse a sofrer qualquer desfeita em casa, em razão de algum deslize meu. 12 Pensei muito e resolvi acabar com meu corpo. Não queria dar ao meu filhinho qualquer exemplo de viciação, e resolvi retirar-me do mundo.

13 Porque foi tudo assim, ainda não sei, mas parecia que um inferno de fogo se me implantou na cabeça, e sentindo que a sogra, embora muito digna pessoa, não me suportaria em tempo algum, deliberei acabar com tudo aquilo que nos cabia suportar com união.

14 Mãezinha, quando a vi chegando à porta de nossa casa, temi as suas repreensões chamando-me à realidade, e antes que pudéssemos entrar num diálogo pacífico, acionei o gatilho contra a minha cabeça. 15 Sei que caí num lago de sangue, enquanto o seu amor, em aflição, fazia preces por mim, encomendando-me a Deus. 16 Escutava o que seus lábios me diziam, mas não compreendia as minudências do que se passava. Em breve tempo, os homens do rabecão entraram a socorrer-me por imposição, porque me sabiam desencarnado, 17 e até hoje a sua dor de mãe se me insinuou no coração à maneira de um tormento de que não consegui me desvencilhar, e aqui estou incapaz de controlar os meus impulsos, controlados por meu pai Antônio Batista, que se compadeceu de mim para liberar-me da condição deprimente a que fui levado por mim próprio.

18 Não sei explicar o fenômeno que se passa comigo, porque vejo apenas os quadros de dor em que adquiri minha culpa maior, mas espero voltar numa apresentação menos infeliz.

19 Querida Rosele, se você puder, dê ao nosso filhinho a saúde e a paz de que ele necessita. Peça à minha sogra para criá-lo qual se fosse o próprio filho. Este é um pedido arrojado, de minha parte, a quem reconheço não haver conquistado o mínimo grau de simpatia, mas uma petição de um homem que atravessou as portas do suicídio achará eco não somente no amor de Dª Dagmar, mas, também, no coração de qualquer pessoa que procure penetrar nos sentimentos de uma criancinha.

20 Quanto a mim, querida mamãe e querida Rosele, seguirei como a Lei de Deus determina, tentando a minha recuperação que não sei quando surgirá. Os fracos de vontade são iguais a mim: indecisos e omissos.

21 Querida mãezinha e querida Rosele, isso é tudo que lhes pode dizer o filho e companheiro infeliz. Orem por mim. 22 A prece, em casos dolorosos, tanto quanto o meu, constitui valioso tranquilizante para a alma cansada de pensar.

23 Não as vejo, mas sinto-as aqui, sem possibilidade de localizá-las. Compadeçam-se de mim, perdoem-me e ajudem-me.

24 O meu beijo de pai no nosso pequenino que parece residir em meu coração, e recebam todo o arrependimento e toda a dor, mas não sem esperança e sem fé em Deus, do filho e companheiro sofredor e reconhecido,


Décio


NOTAS E IDENTIFICAÇÕES


1 — Mãezinha Alda — Alda Gomes Carvalho, residente em Uberaba, MG.


2 — Querida Rosele — Rosele de Jesus Alkmin Carvalho, residente à Rua Padre Zeferino, 1220, Uberaba.


3 — Vovó Maria Rezende — Avó materna, desencarnada em Uberaba, há mais de 40 anos.


4 — Pai Antônio Batista — Antônio Batista Carvalho, seu progenitor, desencarnado em acidente na Via Anhanguera, entre Ribeirão Preto e Jardinópolis, SP, a 10/8/1969.


5 — Estou cego. — Observa-se que o corpo espiritual (ou perispírito), após a desencarnação, apresenta-se lesado nos órgãos ou regiões correspondentes aos mesmos locais traumatizados do corpo físico, exigindo tratamento médico. No caso de Décio, o projétil atingiu uma zona cerebral ligada à função visual. Atualmente, seu filhinho, com a idade de 3 anos, o tem identificado pela vidência. Pelas descrições da criança, Décio está bem melhor, com recuperação de sua visão.


6 — Até hoje não sei que forças entraram em meu Espírito, impelindo-me ao suicídio. (…) Porque foi tudo assim, ainda não sei, mas parecia que um inferno de fogo se me implantou na cabeça — Com estas expressões, Décio dá-nos a impressão de que ele esteve sob o jugo de grave processo obsessivo, frequente entre os alcoólatras.


7 — Meu filhinho — Antônio Batista Carvalho Netto, nascido a 27/8/1985.


8 — Irmã Eliana — Eliana de Carvalho Borges, irmã, residente em Uberaba.


9 — Minha sogra, Dª Dagmar (…) muito depressa se convenceu de que consertar-me seria impossível. — Sua sogra, Dagmar de Jesus Alkmin, sendo espírita, sempre o alertava sobre a Verdadeira Vida, no Além, e as consequências dessa realidade, mas ele não acreditava.


Hércio Arantes


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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