O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Porto de alegria — Familiares diversos


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A vida nova de ilustre médico recém-desencarnado

Dr. José Fonseca Guaraná de Barros nasceu em Aracaju, capital sergipana, a 23 de agosto de 1911. Em 1935, formou-se pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, e nove anos depois fixou residência em Campos para o exercício de sua nobre profissão, não mais deixando essa cidade fluminense até o seu último dia de vida terrena, a 6 de agosto de 1985.

Médico sanitarista e dermatologista, sempre exerceu com grande dinamismo a chefia do Distrito Sanitário, em Campos, implantando “Serviços de Leprologia” (hoje, de Hansenologia) em várias cidades. Dedicou-se com afinco à sua especialidade, sendo sócio fundador da Associação Brasileira de Hansenologia. Em seu consultório particular sempre foi humanitário. Em 1974 e 1975, exerceu a função de Instrutor de Ensino da Faculdade de Medicina de Campos.

Muito culto, Dr. Guaraná de Barros falava fluentemente francês e inglês. Traduzia também textos em espanhol, italiano e alemão. Deixou mais de uma dezena de contos inéditos, chegando a publicar, porém, em 1984, uma coletânea repentista de “casos diversos”.

Em 1981, merecidamente, recebeu o título de Cidadão Campista.

Três anos após sua desencarnação, em reunião pública do GEP, na noite de 15 de outubro de 1988, Dr. Guaraná de Barros voltou a dialogar com a esposa, Dª Elza, revelando-se de “corpo inteiro”, ou melhor “de toda a alma”, merecendo dela, ao se expressar sobre a mensagem mediúnica, o seguinte parecer: “é total e absolutamente verídica.”

Ao lado de questões íntimas, familiares, ele relata interessantes momentos de sua nova vida de médico, ainda dinâmico e estudioso no Mundo Maior, agora a serviço de Jesus, utilizando-se de recursos da própria alma em benefício dos mais necessitados.




MENSAGEM


1 Querida Elza, n
Iniciarei este comunicado, pedindo a Deus que nos abençoe.

2 Veja bem: a desencarnação nos descortina uma vida nova.

3 O ateísmo que me caracterizava; cede agora lugar a uma ideia mais nobre da vida. 4 É verdade. Por aí costumamos estadear um conhecimento que não temos e, ao fazer isso, provocamos discussões inúteis e esnobamos uma superioridade ilusória.

5 Hoje lamento, tarde embora, a inutilidade de seus esforços em conjunto com os nossos amigos, para que eu estudasse os princípios do espiritualismo, até encontrar o caminho para Jesus. Não teria perdido tanto tempo se o fizesse; entretanto, a presunção de saber me atacou o cérebro, à maneira do cupim no telhado e me reencontrei aqui, na Vida Espiritual, quase que absolutamente desvalido de ânimo ativo para viver construtivamente. Lembrava-me de sua paciência e da oportunidade dos conceitos que emitia quando nos diálogos comigo; no entanto, achava-me, tanto quanto me vejo agora, em outras faixas de vibração.

6 Falar com você, e para os nossos aí, era o meu desejo imenso, mas como? Não havia colocado na cabeça a mínima ideia de religamento com a existência terrestre.

7 Confesso-lhe que chorei sobre as ruínas dos meus castelos de palavras vazias, pressionado pela saudade que me tomou o coração redivivo. Esperneava entre as minhas contradições, quando recebi a visita do nosso benfeitor Dr. Alpheu Gomes, n que soubera das minhas condições menos felizes no hospital em que me refugiara, e reanimou-me as fibras da fé em Deus e em mim mesmo. 8 O venerável amigo assinalava no trabalho, o melhor clima para minha recuperação espiritual, pois me via arrasado por indescritíveis depressões e eu, que supunha haver trabalhado muito, conquanto não registrasse qualquer mal-estar na consciência, reconheci, de imediato, que todas as minhas tarefas no mundo não passavam de iniciação para tarefas maiores.

9 A sós de novo, considerava, comigo mesmo, que me cabia a iniciativa de procurar o meu próprio lugar nas atividades do setor em que me encontrava e não hesitei. Rememorei as suas lições de coragem e paciência, humildade e fé, e busquei as autoridades que me poderiam favorecer com a bênção do trabalho e me engajei.

10 Fui surpreendido com o reconforto de reencontrar o nosso amigo Severino Rosa, n que, em Campos, se notabilizara pelo humanitarismo e não me envergonhei de lhe pedir instruções. Severino abriu-me as portas da nova oficina e comecei a vida nova, aceitando a assistência aos enfermos semi-abandonados da periferia.

11 Atravessava todos os dias o nosso hoje magro Paraíba n e dediquei-me, quanto se me fez possível, à necessária renovação.

12 Mas você não pode avaliar a minha alegria ao colaborar na recuperação de uma criança de seis meses, que se achava perto da última fase da vida corpórea.

13 Dedicara-me a estudos de imunização do ambiente em que o doente se achasse, n e fiquei imaginando a felicidade de Pasteur, ao reaver a vida normal para uma pequenina vítima de pneumonia, com todos os lances de suposto triunfo para as colônias viróticas que a martirizavam.

14 Em lágrimas agradecia a Jesus, a quem me recomendava diariamente, e da criança salva da morte certa, parti para outras realizações.

15 Você sabe que sempre tive muitos corações amigos ligados ao Estado em que nasci, mas longe de me voltar para Aracaju, elegi em Campos a minha tenda de ação, sobretudo porque, ao lado da comunidade campista, possuía você e nossos filhos mais acessíveis à minha presença.

16 A saudade se fizera uma ferida em meu coração de esposo e pai; no entanto, afogava as minhas mágoas de médico recém-desencarnado, no serviço que se tornava mais intenso.

17 Naturalmente procurei a aproximação com os nossos familiares domiciliados na Vida Espiritual, e não tive dificuldades para localizar o estimado sogro, para quem guardava sempre os meus cuidados filiais. O nosso pai, ou melhor, Augusto Machado Vianna Faria, n se via hospitalizado para refazimento de forças e mantivemos longo entendimento. 18 Seu pai, no entanto, ainda se reconhecia longe do próprio restabelecimento. Tivera uma existência longa e se prendera a múltiplos afetos, dizia ele, tentando justificar a demora da própria restauração espiritual, e ainda assim, mostrava-se animado com as melhoras obtidas. 19 Passei a visitá-lo, quase que diariamente, e posso asseverar a você que as nossas conversações, ao que me parece, funcionavam para ele, na condição de exaustores dos pensamentos amargos que ainda trazia.

20 O mesmo não sucedeu ao nosso prezado Renato Tinoco, n que por aqui sente muita dificuldade para desarraigar-se das impressões negativas que ainda traz da experiência terrestre; mas o Severino Rosa, médico e psicólogo de recursos admiráveis, em minha companhia, tomou-o à conta de cliente que vem reavendo a posse dele mesmo, vagarosamente.

21 Outros amigos e parentes constituem campo de trabalho minucioso para nós, Severino e eu, e continuamos em nossa luta abençoada na qual os beneficiados somos nós, os médicos desencarnados, surpreendidos com as maravilhas da mente humana, especialmente quanto ao trato de si mesmo.

22 Sei como são grandes os obstáculos que você tem a vencer, mas não se constranja diante da vida. Observe que as provas vão sendo minimizadas e você já consegue viver sem chumbar-se aos nossos filhos, que possuem obrigações diferentes da nossa.

23 Apesar de me reconhecer consciente quanto a isso, visito a Heloísa, Ricardo e a Beatriz sempre que isso se me faça possível. A princípio, tudo era excessivo para mim. Agora, porém, dispondo de tempo, visito a Rua das Laranjeiras, a Avenida Pelinca e a Rua Tabapuã, n em que nossos filhos situaram a residência que lhes é própria, notadamente quando se lembram do papai, atualmente em uma outra vida. Todos estão bem e peço a Jesus para que não se percam por excesso de conforto.

24 Desculpe-me se me expresso com notícias pessoais tão íntimas; no entanto, esta é a primeira vez que posso escrever longamente sem maiores preocupações. n

25 Continue, querida companheira, nas suas tarefas que eu não compreendia. n Prossiga ligada às amizades queridas que lhe possibilitam acesso ao serviço de assistência aos nossos irmãos menos favorecidos.

26 Este comunicado vai excessivamente longo e preciso de ponto final sem encontrá-lo. Os que se amam precisariam de nova pontuação para se comunicarem mutuamente.

27 Perdoem-me se termino aqui as minhas pobres notícias e receba, nas mãos abnegadas, o beijo mais abençoado e carinhoso que eu possa ter no coração.
Sempre seu,

José Fonseca Guaraná de Barros


NOTAS E IDENTIFICAÇÕES


1 — Querida Elza — Elza Faria Guaraná de Barros, esposa, residente à Rua Salvador Correia, 21, Campos, RJ.


2 — Dr. Alpheu Gomes — Em Campos, Dr. Alpheu Gomes de Oliveira Campos (Carangola, MG, 29/8/1885 — Niterói, RJ, 19/9/1929) foi médico homeopata e professor da antiga Escola Normal. Deixou escrito o livro espírita Amor à Verdade. É patrono de um grupo espírita em Campos.


3 — Severino Rosa — Médico, patrono de um Centro Espírita em Campos.


4 — Atravessava todos os dias o nosso hoje magro Paraíba — O rio Paraíba corta a cidade de Campos. Na ocasião da mensagem, havia longa estiagem e o rio estava bem menos caudaloso.


5 — Dedicara-me a estudos de imunização do ambiente em que o doente se achasse (…) ao reaver a vida normal para uma pequena vítima de pneumonia. — A propósito, destacaremos um tópico de uma das cartas mediúnicas de Lineu de Paula Leão Júnior, no qual ele assim esclareceu sobre a assistência espiritual prestada a seu pai, meses antes, quando se submeteu à operação cirúrgica para implantação de pontes de safena, no Instituto do Coração, em São Paulo: “Durante a intervenção de que foi objeto, formamos na própria sala em que foi cirurgiado um grupo de orações em prece com o desejo de inflar-lhe energias renovadoras. Éramos nós os amigos e familiares de sempre: o Aristides Waldomiro Nery e esposa, Dª Agripina; o vovô Aristides de Paula e a vovó Alayde Silveira; a nossa querida Etelvina Augusta e eu mesmo. Explicou-nos o irmão Aristides que as nossas orações teriam fins bactericidas para a limpeza completa do ambiente hospitalar em que encontraria as medidas providenciais de que necessitava. Até então, não sabia que, carregadas pelas forças de nossos desejos reunidos, as preces que iríamos formular em silêncio, atuariam no âmago do estabelecimento, afastando os corpúsculos negativos suscetíveis de interferir em sua posição orgânica. Aprendi mais essa lição: que a prece funciona como recurso preservativo, garantindo a higienização integral do meio ambiente em que nos reunimos ao seu lado, com o firme propósito de extinguir quaisquer focos ambulantes de bactérias que não se harmonizavam com as suas necessidades de cura.” (Vida Além da Vida, Francisco C. Xavier, Lineu de Paula Leão Júnior, CEU, S. Paulo, SP, 1ª ed., 1988, p. 54/55.)


6 — O estimado sogro (…) O nosso pai, ou melhor, Augusto Machado Vianna Faria — Ambos, genro e sogro, quando na Terra, cultivavam grande amizade, sempre saboreando longas conversas. Augusto Machado, nascido em Portugal, a 09/10/1896, desencarnou em Campos, a 16/5/1987.


7 — Renato Tinoco — Renato Tinoco Faria, cunhado, desencarnou a 08/02/1987, no Rio de Janeiro, com 57 anos.


8 — Visito a Heloísa, Ricardo e a Beatriz (…) visito a Rua das Laranjeiras, a Avenida Pelinca e a Rua Tabapuã — Seus filhos: Heloísa de Barros Spaggola Hermida, Ricardo Faria G. de Barros e Beatriz Faria G. de Barros Caggiano, — citados na ordem cronológica dos nascimentos; e, corretamente, a relação dos endereços respectivos, nas cidades de Rio de Janeiro, Campos e São Paulo.


9 — Esta é a primeira vez que posso escrever longamente — Dª Elza entendeu que ele não teve oportunidade de escrever-lhe, nas vezes anteriores que ela esteve em Uberaba, após a desencarnação dele. Ele gostava de escrever longamente, tendo deixado muitos contos sem publicação.


10 — Continue nas suas tarefas que eu não compreendia. — Refere-se às atividades assistenciais espíritas de Dª Elza, adepta do Espiritismo desde a idade de 13 anos.


Hércio Arantes


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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