1 Nisso, alguém lhe surge à frente,
Homem moço em largo manto,
Por tudo e em tudo irradia
Incomparável encanto.
2 — “Sabina — falou o estranho —
Em que pensa, triste assim?
Não vê que a cidade inteira
É um luminoso jardim?”
3 Ela explica: — “Não, senhor,
Nada vejo, em derredor,
Quando é Noite de Natal,
Meu sofrimento é maior…”
4 — “Que quer você? — disse o jovem —
Dinheiro? Roupas de renda?
Um tanque para lavar,
Um milharal de fazenda?!…
5 — “Ah! Senhor — clamou a pobre,
Tremendo na ventania —
Se o Céu me escutasse agora,
Nada disso pediria…
6 “Como sempre, rogo em prece,
Enferma e só como estou,
O filho que Deus me deu
E a morte me arrebatou…”
7 — “Sua oração foi ouvida…” —
Ele informa, face em luz.
— “Quem ouço?… — indaga Sabina.
Ele diz: — “Eu sou JESUS!…”
8 Do manto Dele um pequeno
Sai envolto em doce brilho…
Clama o garoto: — “MAMÃE!…”
Sabina grita: — “Ah! meu filho!…”
9 Encontro, surpresa, bênção,
Júbilo imenso depois…
SABINA beijava o filho,
JESUS abraçava os dois!…
10 Naquelas pedras de rua,
Que a luz do Céu banha e doura
Clarões pintavam em prata
Lembranças da Manjedoura.
11 Logo após, os três partiam
Ouvindo canções ditosas,
Em nave feita de estrelas
Emolduradas de rosas.
12 Em toda parte, as legendas
Que o mundo nunca esqueceu:
— “Glória a Deus!… Paz sobre a Terra!…
Hosanas!… Jesus nasceu!…” ( † )
13 No outro dia, cedo ainda,
Uma senhora na estrada,
De longe, enxerga Sabina
Como a dormir, recostada…
14 A dama quase supõe
Na pobre que conhecera
Um retrato da alegria
Numa escultura de cera.
15 Volta à casa… Traz um caldo,
Quer saber se a reconforta.
Chama Sabina, de leve,
Mas Sabina…estava morta.
Francisca Clotilde
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