Cap. VII — Item 11.
1 O melindre — filho do orgulho — propele a criatura a situar-se acima do bem de todos. É a vaidade que se contrapõe ao interesse geral.
2 Assim, quando o espírita se melindra, julga-se mais importante que o Espiritismo e pretende-se melhor que a própria tarefa libertadora em que se consola e esclarece.
3 O melindre gera a prevenção negativa, agravando problemas e acentuando dificuldades, ao invés de aboli-los. Essa alergia moral demonstra má-vontade e transpira incoerência, estabelecendo moléstias obscuras nos tecidos sutis da alma.
4 Evitemos tal sensibilidade de porcelana, que não tem razão de ser.
5 Basta ligeira observação para encontrá-la a cada passo:
6 É o diretor que tem a sua proposição refugada e se sente desprestigiado, não mais comparecendo às assembleias.
7 O médium advertido construtivamente pelo condutor da sessão, quanto à própria educação mediúnica, e que se ressente, fugindo às reuniões.
8 O comentarista admoestado fraternalmente para abaixar o volume da voz e que se amua na inutilidade.
9 O colaborador do jornal que vê o artigo recusado pela redação e que se supõe menosprezado, encerrando atividades na imprensa.
10 A cooperadora da assistência social esquecida, na passagem de seu aniversário, e se mostra ferida, caindo na indiferença.
11 O servidor do templo que foi, certa, vez, preterido na composição da mesa orientadora da ação espiritual e se desgosta por sentir-se infantilmente injuriado.
12 O doador de alguns donativos cujo nome foi omitido nas citações de agradecimento e surge magoado, esquivando-se a nova cooperação.
13 O pai relembrado pela professora das aulas de moral cristã, com respeito ao comportamento do filho, e que, por isso, se suscetibiliza, cortando o comparecimento da criança.
14 O jovem aconselhado pelo irmão amadurecido e que se descontenta, rebelando-se contra o aviso da experiência. A pessoa que se sente desatendida ao procurar o companheiro de cuja cooperação necessita, nos horários em que esse mesmo companheiro, por sua vez, necessita de trabalhar a fim de prover a própria subsistência.
15 O amigo que não se viu satisfeito ante a conduta do colega, na instituição, e deserta, revoltado, englobando todos os demais em franca, reprovação, incapaz de reconhecer que essa é a hora de auxílio mais amplo.
16 O espírita que se nega ao concurso fraterno somente prejudica a si mesmo.
17 Devemos perdoar e esquecer se quisermos colaborar e servir.
18 A rigor, sob as bênçãos da Doutrina Espírita, quem pode dizer que ajuda alguém? Somos sempre auxiliados.
19 Ninguém vai a um templo doutrinário para dar, primeiramente. Todos nós aí comparecemos para receber, antes de mais nada, sejam quais forem as circunstâncias.
20 Fujamos à condição de sensitivas humanas, convictos de que a honra reside na tranquilidade da consciência, sustentada pelo dever cumprido.
21 Com a humildade não há o melindre que piora aquele que o sente, sem melhorar a ninguém.
22 Cabe-nos ouvir a consciência e segui-la, recordando que a suscetibilidade de alguém sempre surgirá no caminho, alguém que precisa de nossas preces, conquanto curtas ou aparentemente desnecessárias.
23 E para terminar, meu irmão, imagine se um dia Jesus se melindrasse com os nossos incessantes desacertos…
Cairbar Schutel