Cap. X — Item 17.
1 Há muito aspirava Saturnino Peixoto ao interesse de algum homem público para favorecê-lo na abertura de certa estrada.
Para isso, conversou, estudou, argumentou…
2 Concluiu, por fim, que a pessoa indicada seria o deputado Otaviano, recém-eleito, homem ao qual se referiam todos da melhor maneira, pela atenção e carinho com que se dedicava à solução dos problemas da extensa região que representava.
3 Depois de ouvir o escrivão da cidade, Saturnino redigiu longa carta-memorial, minudenciando a reivindicação.
E ficou aguardando a resposta.
Correram dias, semanas, meses.
Nenhum aviso.
4 Revoltado, Saturnino começou a exprobrar a conduta política do deputado que nem sequer lhe respondera à carta.
5 Sempre que se lembrava do assunto, criticava o político, censurando-o acremente, a envolver todos os homens públicos em condenação desabrida.
6 Nada valiam ponderações da companheira, D. Estefânia, espírita convicta, que lhe pedia perdoar e esquecer.
7 Transcorreram três anos, até que a solicitação caducou.
8 Saturnino, obrigado a desistir da ideia, guardou, contudo, profundo ressentimento do legislador que terminava o mandato.
9 Certo dia, porém, revolvia os guardados de velha prateleira no escritório, quando encontrou, surpreendido, entre livros e papéis relegados à traça, o memorial que escrevera ao deputado, dentro de envelope sobrescritado, selado e recoberto de pó.
10 Saturnino se esquecera de enviar a carta…
Hilário Silva