1
João — Capítulos: 5 — Versículos: 105 — Destinatários: Não especificado.
2
João — Capítulos: 1 — Versículos: 13 — Destinatários: À senhora eleita.
3
João — Capítulos: 1 — Versículos: 15 — Destinatários: Ao amado Gaio.
O Apocalipse — Capítulos: 22 — Versículos: 405 — Destinatários: Às sete igrejas da Ásia.
Além de um dos Evangelhos, existem três cartas e um apocalipse, cuja
tradição atribui a autoria ao Apóstolo João.
Embora a maioria dos chamados Pais da Igreja, como Policarpo, Ireneu,
Tertuliano, Orígenes, não tivessem qualquer dúvida em relação à autoria
desses textos, a partir do século XVIII, alguns autores levantaram questionamentos
que levaram à formulação de uma hipótese de que eles seriam o fruto
de uma escola de pensamento joanino e não do apóstolo em si. Os fundamentos
principais para essa hipótese são as aparentes divergências de conceitos
existentes entre o Evangelho de João e os demais textos. Um exemplo
disso é o tratamento dado ao παράκλητοv (paracleto) que, no Evangelho
de João, versículo
14.15, é aquele que o Pai enviaria a pedido de Jesus, e
em 1 João, 2.1, trata-se do próprio Jesus. Essas aparentes divergências derivam
de se atribuir ao texto do Novo Testamento o caráter de tratado teológico,
que obedecesse a regras e rigores que eram desconhecidos, tanto da teologia
do Cristianismo do primeiro século, quanto dos próprios autores, cuja
intenção de divulgação da Boa-Nova representava o objetivo primordial,
ao qual os demais rigores de forma e conteúdo deveria ser submetido.
Quando analisamos principalmente 2 João e 3 João, é de
se estranhar, à primeira vista, que textos tão pequenos e de um conteúdo
geral tão pessoal poderiam compor o cânone do Novo Testamento. Isso
se explicaria mais facilmente se a autoria fosse realmente de um dos
apóstolos, em especial de alguém tão próximo a Jesus, como João Evangelista.
Isso, contudo, não implica que esses textos não receberam nenhuma alteração
e que chegaram até nós integralmente como foram concebidos. Existe pelo
menos uma bem conhecida evidência de que a primeira Carta de João
recebeu um adendo, conhecido entre os estudiosos como comma johanneum
ou “parêntese joanino”. Trata-se de uma inserção feita entre os versículos
7 e 8 do capítulo 5, onde é inserido um texto que suporta a ideia da
Santíssima Trindade. Tanto os manuscritos mais antigos, como a própria
Igreja Católica, na atualidade, rejeitam essa inserção, considerando-a
não autêntica. Ainda assim, é possível encontrá-la em algumas traduções,
mesmo que o texto crítico já não a inclua.
Essas considerações colocam em evidência as dificuldades e desafios
em lidar com aspectos pontuais de textos tão antigos, cuja história
às vezes conserva lances controversos e que, apesar disso, tiveram e
têm um papel tão importante na formação dos valores da nossa sociedade.
Serve também de alerta, não só para o estudioso, mas para o adepto sincero,
de que é preciso ter um conhecimento amplo do texto e evitar estabelecer
formulações definitivas e categóricas, a partir de elementos esparsos.
Em geral, predominam a coerência e a base fundamental de valores e orientações
que representam uma luz a guiar a criatura humana nos caminhos da vida.
Saulo Cesar Ribeiro da Silva.