1 E Saulo, ainda respirando ameaça e homicídio contra os discípulos do Senhor, aproximando-se do sumo sacerdote, 2 pediu-lhe cartas para as sinagogas de Damasco, a fim de que, caso encontrasse alguns que eram do Caminho, tanto homens quanto mulheres, os conduzisse presos para Jerusalém. — (Atos 9:1,2)
12 Daí a dois dias, o moço tarsense convocava uma reunião no Sinédrio, à qual atribuía singular importância.
Os colegas acorreram ao chamado, sem exceção. Abertos os trabalhos, o doutor de Tarso esclareceu o motivo da convocação.
— Amigos — declarou ciosamente —, há tempos nos reunimos para examinar o caráter da luta religiosa que se criara em Jerusalém com as atividades dos asseclas do carpinteiro de Nazaret. Felizmente, nossa intervenção chegou a tempo de evitar grandes males, dada a argúcia dos falsos taumaturgos exportados da Galileia. † À custa de grandes esforços, a atmosfera desanuviou-se. É verdade que os cárceres da cidade transbordam, mas a medida se justifica, porquanto é indispensável reprimir o instinto revolucionário das massas ignorantes. A chamada igreja do “Caminho” restringiu suas atividades à assistência aos enfermos desamparados. Nossos bairros mais humildes estão em paz. Voltou a serenidade aos nossos afazeres no Templo. † Entretanto, não se pode afirmar o mesmo quanto às cidades vizinhas. Minhas consultas às autoridades religiosas de Jope † e Cesareia † dão a conhecer os distúrbios que os adeptos do Cristo vêm provocando, acintosamente, com prejuízo sério para a ordem pública. Não somente nesses núcleos precisamos desenvolver a obra saneadora, mas, ainda agora, chegam-me notícias alarmantes de Damasco, a requererem providências imediatas. Localizam-se ali perigosos elementos. Um velho, chamado Ananias, lá está perturbando a vida de quantos necessitam de paz nas sinagogas. † Não é justo que o mais alto tribunal da raça se desinteresse das coletividades israelitas noutros setores. Proponho, então, estendermos o benefício dessa campanha a outras cidades. Para esse fim, ofereço todos os meus préstimos pessoais, sem ônus para a casa a que servimos. Bastar-me-á, tão só, o necessário documento de habilitação, a fim de acionar todos os recursos que me pareçam acertados, inclusive o da própria pena de morte, quando a julgue necessária e oportuna.
13 A proposta de Saulo foi recebida com demonstrações de simpatia. Houve mesmo quem chegasse a propor um voto especial de louvor ao seu zelo vigilante, com aplausos unânimes da reduzida assembleia. Faltava ao cenáculo a ponderação de um Gamaliel, e o sumo-sacerdote, compelido pela aprovação geral, não hesitou em conceder as cartas indispensáveis, com ampla autorização para agir discricionariamente. Os presentes abraçaram o jovem rabino com muitos encômios ao seu espírito arguto e enérgico. Francamente, aquela mentalidade moça e vigorosa constituía auspicioso penhor de um futuro maior, com a emancipação política de Israel. Alvo das referências lisonjeiras e estimuladoras dos amigos, Saulo de Tarso aguçava o orgulho de sua raça, esperançoso nos dias do porvir. Verdade é que sofria amargamente com a derrocada dos sonhos da juventude, mas empregaria a soledade da existência nas lutas que reputava sagradas, ao serviço de Deus.
De posse das cartas de habilitação para agir convenientemente, em cooperação com as Sinagogas de Damasco, aceitou a companhia de três varões respeitáveis, que se ofereceram a acompanhá-lo na qualidade de servidores muito amigos.
Emmanuel
(Paulo e Estêvão, FEB Editora. Primeira parte. Capítulo 10, pp. 174 a 176. Indicadores 12 e 13)