1 Então, depois de termos sido salvos, soubemos que a ilha se chama Malta. 2 Os bárbaros nos mostraram extraordinária humanidade, pois acolheram a todos nós, acendendo uma fogueira, por causa da chuva que chegara e por causa do frio. 3 Quando Paulo juntou um monte de gravetos e os colocou sobre a fogueira, uma víbora que saia do calor agarrou-se à sua mão. 4 Quando os bárbaros viram a fera pendurada na mão dele, disseram uns aos outros: sem dúvida, este homem é um assassino que, tendo sido salvo do mar, ajustiça não permitiu viver. 5 Ele, no entanto, sacudindo a fera em direção ao fogo, não sofreu nenhum mal. 6 Eles, porém, aguardavam que ele [Paulo] viesse a inchar ou a cair morto repentinamente. Depois de muito esperarem, vendo que nada de anormal lhe sucedia, mudando de opinião, diziam ser ele um deus. — (Atos 28:1-6)
10 Os naturais da Ilha, bem como os poucos romanos que lá residiam a serviço da administração, acolheram os náufragos com simpatia; mas, por numerosos, não havia acomodação para todos. Frio intenso enregelava os mais resistentes. Paulo, todavia, dando mostras do seu valor e experiência no afrontar intempéries, tratou de dar o exemplo aos mais abatidos, para que se fizesse fogo, sem demora. Grandes fogueiras foram acesas rapidamente para aquecimento dos desabrigados; mas, quando o Apóstolo atirava um feixe de ramos secos à labareda crepitante, uma víbora cravou-lhe na mão os dentes venenosos. O ex-rabino susteve-a no ar com um gesto sereno, até que ela caísse nas chamas, com estupefação geral. Lucas e Timóteo aproximaram-se aflitos. O chefe da coorte e alguns amigos estavam desolados. É que os naturais da Ilha, observando o fato, davam alarme, asseverando que o réptil era dos mais venenosos da região, e que as vítimas não sobreviviam mais que horas.
11 Os indígenas, impressionados, afastavam-se discretamente. Outros, assustadiços, afirmavam:
— Este homem deve ser um grande criminoso, pois, salvando-se das ondas bravias, veio encontrar aqui o castigo dos deuses.
Não eram poucos os que aguardavam a morte do Apóstolo, contando os minutos; Paulo, no entanto, aquecendo-se como lhe era possível, observava a expressão fisionômica de cada um e orava com fervor. Diante do prognóstico dos nativos da Ilha, Timóteo aproximou-se mais intimamente e buscou cientificá-lo do que diziam a seu respeito.
O ex-rabino sorriu e murmurou:
— Não te impressiones. As opiniões do vulgo são muito inconstantes, tenho disso experiência própria. Estejamos atentos aos nossos deveres, porque a ignorância sempre está pronta a transitar da maldição ao elogio e vice-versa. É bem possível que daqui a algumas horas me considerem um deus.
12 Com efeito, quando viram que ele não acusara nem mesmo a mais leve impressão de dor, os indígenas passaram a observá-lo como entidade sobrenatural. Já que se mantivera indene ao veneno da víbora, não poderia ser um homem comum, antes algum enviado do Olimpo, † a que todos deveriam obedecer. […]
Emmanuel
(Paulo e Estêvão, FEB Editora. Segunda parte. Capítulo 9, pp. 444 e 445. Indicadores 10 a 12)