3 No outro [dia], aportamos em Sidom; e Júlio, tratando Paulo com Humanidade, permitiu-lhe ir aos amigos para receber cuidados. 4 E dali, fazendo-se [ao mar], costeamos Chipre, por serem os ventos contrários. 5 Atravessando o mar aberto ao longo da Cilícia e Panfília, descemos para Mirra, da Lícia. 6 O centurião, encontrando ali um barco de Alexandria que navegava para a Itália, nos embarcou nele. 7 Navegando lentamente por muitos dias e tendo chegado com dificuldade diante de Cnido, não nos permitindo o vento avançar, costeamos Creta, defronte de Salmona. 8 Costeando-a com dificuldade, chegamos a um lugar chamado Bons Portos, próximo do qual estava a cidade de Laseia. 9 Passado muito tempo, e sendo já perigosa a navegação, em razão do jejum também já ter passado, Paulo recomendava, 10 dizendo-lhes: varões, vejo que a navegação há de ser com dano e muita perda, não somente da carga e do navio, mas também das nossas vidas. 11 O centurião, porém, era persuadido mais pelo timoneiro e pelo capitão do que pelas [coisas] faladas por Paulo. — (Atos 27:3-11)
1 O navio de Adramítio † da Mísia, † em que viajavam o Apóstolo e os companheiros, no dia imediato tocou em Sídon, † repetindo-se as cenas comovedoras da véspera. Júlio permitiu que o ex-rabino fosse ter com os amigos na praia, verificando-se as despedidas entre exortações de esperanças e muitas lágrimas. Paulo de Tarso ganhou ascendência moral sobre o comandante, marinheiros e guardas. Sua palavra vibrante conquistara as atenções gerais. Falava de Jesus, não como de uma personalidade inatingível, mas como de um mestre amoroso e amigo das criaturas, a seguir de perto a evolução e redenção da Humanidade terrena desde os seus primórdios. Todos desejavam ouvir-lhe os conceitos, relativamente ao Evangelho e quanto à sua projeção no futuro dos povos.
2 A embarcação frequentemente deixava divisar paisagens gratíssimas ao olhar do Apóstolo. Depois de costear a Fenícia, † surgiram os contornos da Ilha de Chipre † — de cariciosas recordações. Nas proximidades de Panfília † exultou de íntima alegria pelo dever cumprido, e assim chegou ao porto de Mira, † na Lícia. †
Foi aí que Júlio resolveu tomar passagem com os companheiros numa embarcação alexandrina, que se dirigia para a Itália. Desse modo, a viagem continuou, mas com perspectivas desfavoráveis. O navio levava excesso de carga. Além de grande quantidade de trigo, tinha a bordo duzentas e setenta e seis pessoas. Aproximava-se o período difícil para os trabalhos de navegação. Os ventos sopravam de rijo, contrariando a rota. Depois de longos dias, ainda vogavam na região do Cnido. † Vencendo dificuldades extremas, conseguiram tocar em alguns pontos de Creta. †
3 Observando os obstáculos da jornada e obedecendo à própria intuição, o Apóstolo, confiado na amizade de Júlio, chamou-o em particular e sugeriu o inverneio em Kaloi-Limenes. † O chefe da coorte tomou o alvitre em consideração e apresentou-o ao comandante e ao piloto, os quais o houveram por descabível.
— Que significa isso, centurião? — perguntou o capitão, enfático, com um sorriso algo irônico. — Dar crédito a esses prisioneiros? Pois estou a ver que se trata de algum plano de fuga, maquinado com sutileza e prudência… Mas, seja como for, o alvitre é inaceitável, não só pela confiança que devemos ter em nossos recursos profissionais, como porque precisamos atingir o porto de Fênix, † para o repouso necessário.
4 O centurião desculpou-se como pôde, retirando-se um tanto vexado. Desejaria protestar, esclarecendo que Paulo de Tarso não era um simples réu comum; que não falava por si só, mas também por Lucas, que igualmente fora marítimo dos mais competentes. Não lhe convinha, porém, comprometer sua brilhante situação militar e política, em antagonismo com as autoridades provincianas. Era melhor não insistir, sob pena de ser mal compreendido pelos homens de sua classe. Procurou o Apóstolo e fê-lo sabedor da resposta. Paulo, longe de magoar-se, murmurou calmamente:
— Não nos entristeçamos por isso! Estou certo de que os óbices hão de ser muito maiores do que possamos suspeitar. Haveremos, porém, de lograr algum proveito, porque, nas horas angustiosas, recordaremos o poder de Jesus, que nos avisou a tempo.
Emmanuel
(Paulo e Estêvão, FEB Editora. Segunda parte. Capítulo 9, pp. 441 e 442. Indicadores 1 a 4)