O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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O Evangelho por Emmanuel — Volume V — 2ª Parte ©

Textos paralelos de Atos dos apóstolos e Paulo e Estêvão

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Paulo em Atenas

16 Enquanto Paulo esperava por eles em Atenas, o seu espírito se indignava ao contemplar a cidade cheia de ídolos. 17 Assim, dialogava na Sinagoga com os judeus e com os adoradores; e todos os dias, na praça, com os que [lá] estivessem presentes. 18 Alguns dos filósofos epicuristas e estoicos deliberavam em [relação] a ele; alguns diziam: o que quer dizer esse tagarela? E outros: parece ser anunciador de daimones estrangeiros, porque [ele] evangelizava Jesus e a ressurreição. 19 E, tomando-o, o conduziram ao Areópago, dizendo: poderemos saber que novo ensino [é] esse que está sendo falado por ti? 20 Pois trazes aos nossos ouvidos algumas [coisas] que são estranhas. Portanto, queremos saber o que vem a ser isso. 21 Ora, todos os atenienses e os estrangeiros que [lá] residem em nenhum outra [coisa] gastavam o tempo senão em dizer ou ouvir algo novo. 22 Paulo, levantando-se no meio do Areópago, disse: varões atenienses, em todas [as coisas] vos contemplo como os mais tementes aos deuses, 23 pois, atravessando [essa região] e observando os vossos objetos de adoração, encontrei também um altar no qual está inscrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Assim, aquele que adorais, desconhecendo, esse eu vos anuncio. 24 O Deus que fez o mundo, e todas as [coisas] que [estão] nele, sendo Senhor do Céu e da Terra, não habita em santuários feitos por mãos [humanas]. 25 Nem é servido por mãos de homens, [como se] tivesse necessidade de algo; ele próprio dá a todos vida, respiração e todas as [coisas]. 26 Fez de [apenas] um todas as nações dos homens, para habitar sobre toda a face da terra, demarcando os tempos predeterminados e os limites atos da habitação deles, 27 a fim de buscarem a Deus se, porventura, o tivessem tateado e encontrado - mesmo não estando longe de cada um de nós. 28 Pois nele vivemos, nos movemos e existimos, como também alguns poetas dentre vós têm dito: “Pois também somos geração dele”. 29 Portanto, sendo geração de Deus, não devíamos supor ser a divindade semelhante ao ouro, à prata, à pedra, ao entalhe da arte e da imaginação do homem. 30 Assim, não atentando para os tempos da ignorância, Deus ordena agora a todos os homens, em toda parte, que se arrependam. 31 Porquanto estabeleceu um dia em que está prestes a julgar a terra habitada com justiça, por um varão que definiu, oferecendo a todos um crédito ao levantá-lo dentre os mortos. 32 Ao ouvirem “ressurreição dos mortos”, uns zombaram e outros disseram: a respeito disso te ouviremos também outra vez. 33 Desse modo, Paulo saiu do meio dele. 34 Alguns varões, associando-se a ele, creram; entre eles [estava] Dionísio, o areopagita, uma mulher de nome Dâmaris e outros com eles. — (Atos 17:16-34)


36 […] Paulo penetrou na cidade possuído de grande emoção. Atenas ainda ostentava numerosas belezas exteriores. Os monumentos de suas tradições veneráveis estavam quase todos de pé; brandas harmonias vibravam no céu muito azul; vales risonhos atapetavam-se de flores e perfumes. A grande alma do Apóstolo extasiou-se na contemplação da Natureza. Recordou os nobres filósofos que haviam respirado aqueles mesmos ares, rememorou os fastos gloriosos do passado ateniense, sentido-se transportado a maravilhoso santuário. Entretanto, o transeunte das ruas não lhe podia ver a alma, e de Paulo viram apenas o corpo esquálido que as privações tornaram exótico. Muita gente o tomou por mendigo, farrapo humano da grande massa que chegava, em fluxo contínuo, do Oriente desamparado. O emissário do Evangelho, no entusiasmo de suas generosas intenções, não podia perceber as desencontradas opiniões a seu respeito. Cheio de bom ânimo, resolveu pregar na praça pública, na tarde desse mesmo dia. Ansiava por defrontar o espírito ateniense, tal como já defrontara as grandezas materiais da cidade.


37 Seu esforço, no entanto, foi seguido de penoso insucesso. Inúmeras pessoas aproximaram-se no primeiro momento; mas, quando lhe ouviram as referências a Jesus e à ressurreição, grande parte dos assistentes rompeu em gargalhadas de irritante ironia.

— Será este filósofo um novo deus? — perguntava um transeunte com ar de pilhéria.

— Está muito desajeitado para tanto — respondia o interpelado.

— Onde já se viu um deus assim? — indagava ainda outro. — Vede como lhe tremem as mãos! Parece doente e enfraquecido. A barba é selvagem e está cheio de cicatrizes!…

— É louco — exclamava um ancião com vastas presunções de sabedoria. — Não percamos tempo.


38 Paulo tudo ouvia, notou a fila dos retirantes, indiferentes e endurecidos, e experimentou muito frio no coração. Atenas estava muito distanciada das suas esperanças. A assembleia popular deu-lhe a impressão de enorme ajuntamento de criaturas envenenadas de falsa cultura. Por mais de uma semana perseverou nas pregações públicas sem resultados apreciáveis. Ninguém se interessou por Jesus e, muito menos, em oferecer-lhe hospedagem por uma simples questão de simpatia. Era a primeira vez, desde que iniciara a tarefa missionária, que se retirava de uma cidade sem fundar uma igreja. Nas aldeias mais rústicas, sempre aparecia alguém que copiava as anotações de Levi para começar o labor evangélico no recinto humilde de um lar. Em Atenas ninguém apareceu interessado na leitura dos textos evangélicos. Entretanto, foi tanta a insistência de Paulo junto de algumas personagens em evidência, que o levaram ao Areópago, para tomar contato com os homens mais sábios e inteligentes da época.


39 Os componentes do nobre conclave receberam-lhe a visita com mais curiosidade que interesse.

O Apóstolo ali penetrara por mercê de Dionísio, homem culto e generoso, que lhe atendera às solicitações, a fim de observar até onde ia a sua coragem na apresentação da doutrina desconhecida.

Paulo começou impressionando o auditório aristocrático, referindo-se ao “Deus desconhecido”, homenageado nos altares atenienses. Sua palavra vibrante apresentava cambiantes singulares; as imagens eram muito mais ricas e formosas que as registradas pelo autor dos Atos. ( † ) O próprio Dionísio estava admirado. O Apóstolo revelava-se-lhe muito diferente de quando o vira na praça pública. Falava com alta nobreza, com ênfase; as imagens revestiam-se de extraordinário colorido; mas, quando começou a discorrer sobre a ressurreição, houve forte e prolongado murmúrio. As galerias riam a bandeiras despregadas, choviam remoques acerados. A aristocracia intelectual ateniense não podia ceder nos seus preconceitos científicos.


40 Os mais irônicos deixavam o recinto com gargalhadas sarcásticas, enquanto os mais comedidos, em consideração a Dionísio, aproximaram-se do Apóstolo com sorrisos intraduzíveis, declarando que o ouviriam de bom grado por outra vez, quando não se desse ao luxo de comentar assuntos de ficção.

Paulo ficou, naturalmente, desolado. No momento, não podia chegar à conclusão de que a falsa cultura encontrará sempre, na sabedoria verdadeira, uma expressão de coisas imaginárias e sem sentido. A atitude do Areópago não lhe permitiu chegar ao fim. Em breve o suntuoso recinto estava quase silencioso. O Apóstolo, então, lembrou que seria preferível arrostar o tumulto dos judeus. Onde houvesse luta, haveria sempre frutos a colher. As discussões e os atritos, em muitos casos, representavam o revolvimento da terra espiritual para a semente divina. Ali, entretanto, encontrara a frieza da pedra. O mármore das colunas soberbas deu-lhe imediatamente a imagem da situação. A cultura ateniense era bela e bem cuidada, impressionava pelo exterior magnífico, mas estava fria, com a rigidez da morte intelectual.


41 Apenas Dionísio e uma jovem senhora de nome Dâmaris e alguns serviçais do palácio permaneciam a seu lado, extremamente constrangidos, embora propensos à causa.

Não obstante o desapontamento, Paulo de Tarso fez o possível por evitar a nuvem de tristeza que pairava sobre todos, a começar por ele próprio. Ensaiou um sorriso de conformação e tentou algo de bom humor. Dionísio consolidou, ainda mais, sua admiração pelas poderosas qualidades espirituais daquele homem de aparência franzina, tão enérgico e cioso de suas convicções.

Antes de se retirarem, Paulo falou na possibilidade de fundar uma igreja, ainda que fosse num humilde santuário doméstico, onde se estudasse e comentasse o Evangelho. Mas os presentes não regatearam excusativas e pretextos. Dionísio afirmou que lamentava não lhe ser possível amparar o cometimento, dada a angústia de tempo; Dâmaris alegou os impedimentos domésticos; os servos do Areópago, um por um, manifestaram dificuldades extremas. Um era muito pobre, outro muito incompreendido, e Paulo recebeu todas as recusas mantendo singular expressão fisionômica, como o semeador que se vê rodeado somente de pedras e espinheiros.


42 O Apóstolo dos gentios despediu-se com serenidade; mas, tão logo se viu só, chorou copiosamente. A que atribuir o doloroso insucesso? Não pôde compreender, imediatamente, que Atenas padecia de seculares intoxicações intelectuais, e, supondo-se desamparado pelas energias do Plano superior, o ex-rabino deu expansão a terrível desalento. Não se conformava com a frieza geral, mesmo porque, a nova doutrina não lhe pertencia e sim ao Cristo. Quando não chorava refletindo na própria dor, chorava pelo Mestre, julgando que ele, Paulo, não havia correspondido à expectativa do Salvador.

Por muitos dias, não conseguiu desfazer a nuvem de preocupações que lhe ensombrou a alma. Todavia, encomendava-se a Jesus e suplicava-lhe proteção para os grandes deveres da sua vida.

Nesse bulcão de incertezas e amarguras, surgiu o socorro do Mestre ao Apóstolo bem-amado. Timóteo chegara de Corinto,  †  carregado de boas notícias.


Emmanuel



(Paulo e Estêvão, FEB Editora. Segunda parte. Capítulo 6, pp. 368 a 371. Indicadores 36 a 42)


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