O Evangelho segundo o Espiritismo — Cap. VI — Item 1. n
1 Tumulto e vozerio, nos atritos humanos, pedem um tipo raro de beneficência — a caridade de saber ouvir.
2 São muitos os que cambaleiam, desorientados, à mingua de tolerância que os ouça.
3 Convém, no entanto, frisar que palavras não lhe escasseiam. Falta-lhes o silêncio de um coração amigo, com bastante amor para ungir-lhes a alma, no bálsamo da compreensão; e, por esse motivo, desfalecem na luta, à feição do motor que se desajusta sem óleo.
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4 Desdobras a mesa, ergues abrigo seguro, repartes a veste, esvazias a bolsa, atendendo aos que necessitam… Cede também o donativo da atenção aos angustiados, para que se lhes descongestione o trânsito das ideias infelizes, nas veredas da alma.
5 Para que lhes prestes, entanto, o amparo devido, não mostres o ar distante dos que não querem se incomodar e nem digas a frase clássica: “pior aconteceu comigo”, com a qual, muitas vezes, a pretexto de ajudar, apenas alardeamos egocentrismo, à frente dos outros, sem perceber que estamos a esmagá-los.
6 É possível que os teus problemas sejam realmente maiores, entretanto, na Terra, ninguém possui medida conveniente para determinar a extensão dos sofrimentos alheios. Desce, pois, do alto nível de tuas dores, minorando aquelas que te pareçam mais simples.
7 Deixa que o próximo te relacione os próprios desgostos. Se tiveres pressa ou cansaço, não pronuncies respostas tocadas de superioridade ou aspereza, qual se morasses numa cátedra de heroísmo. Faze pausa, mesmo breve, e gasta um minuto de gentileza.
8 Todavia, sempre que possas, ouve calmamente, diminuindo a aflição que lavra no mundo.
9 No instante em que te caiba configurar a palavra, dize a frase que esclareça sem ferir ou que reanime sem enganar.
10 Se as circunstâncias te impelem às referências de ordem pessoal, seleciona aquelas que sirvam aos outros, na condição de escora e esperança.
11 Sobretudo, em ouvindo, não interrompas quem fala com a vara do reproche.
12 Geralmente, os que te procuram o entendimento para descarregar as agonias da alma, conhecem de sobra o calibre da cruz que eles mesmos colocaram nos ombros. Rogam-te apenas alguma pequenina parcela de energia que lhes assegurem mais alguns passos, caminho adiante.
13 Aprendamos a ouvir para auxiliar, sem a presunção de resolver.
14 O próprio Cristo consolando e abençoando, esclarecendo e servindo, não prometeu a supressão imediata das provações de quantos o cercavam, mas, sim, apelava, sincero: “Vinde a mim, que eu vos aliviarei.” ( † )
Emmanuel