O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Os dois maiores amores — Autores diversos


12

Outro conto de Natal

1 NATAL!… Estrelas ao alto
São pontos de luz e arminho…
Caminhando esfarrapado,
Tropeça o pobre Joãozinho.


2 Dez anos de idade apenas,
Rolando ao calçado roto,
Tem febre, não sabe o rumo
Para o descanso no esgoto…


3 “Hosanas! Jesus nasceu!…”
Cantam vozes cristalinas,
Guirlandas pendem no ar,
Brilham bolas nas vitrinas.


4 Muitos carros vão passando,
Muita gente vai e vem,
Ele, no entanto, vai só
Sem atenção de ninguém.


5 Sente frio, sede e fome…
Vê-se tonto em tanta luz…
Um grupo passa exaltando:
— “Louvado seja Jesus!…”


6 Por fim, alcança uma casa,
Bate à porta e pede pão,
O dono agride: — “Cai fora!…
Tão pequenino e ladrão!…”


7 Tremendo, afasta-se e pede
Um copo d’água num bar,
Um jovem grita: — “Chicote
É tudo o que vou te dar…”


8 Arrasta-se amedrontado,
Prossegue gemendo em vão,
Até que desanimado,
Joãozinho tomba no chão.


9 Agora sente-se em paz,
Repousa e pensa, porque
Caiu num recanto escuro,
Quem passa não mais o vê.


10 O pequeno chora e conta,
Na mágoa que o desconforta,
O tempo de solidão
Depois da mãezinha morta.


11 Quantas noites na calçada!…
O menino não se esquece…
Mãe morta, casa fechada,
E mais ninguém que o quisesse…


12 Quantos dias de penúria
Atravessara a sofrer?
Quanto tempo de orfandade?
Não saberia dizer…


13 Não desconhece, no entanto,
Que sofre e que está sozinho…
Por isso mesmo, cansado,
Recorda e chora baixinho…


14 Natal vibrando!… Não mais
A casa de antigamente…
Quem viria agora vê-lo?
Quem lhe daria um presente?…


15 Nisso, um moço de olhar brando
Surgiu e disse-lhe: — “João,
Escute! Que faz você
Aí deitado no chão?…”


16 Ele responde: — “Ah! senhor,
O Natal é hoje e eu…
Eu choro sentindo a falta
De minha mãe que morreu…”


17 Sentou-se o recém-chegado
E, ao retirá-lo do pó,
Acrescentou com bondade:
— “Mas você não está só…”


18 “Que espera hoje?” — Indagou
A voz serena e invulgar —
“Um companheiro, um cãozinho,
Um carro para brincar?”


19 “Deseja uma pipa grande
Ou quer um grande balão?
Estimaria outra coisa?
Que quer você? Fale, João…”


20 O pequeno esclareceu
De olhar triste e fatigado:
— “Ah! senhor, eu só queria
Ter minha mãe ao meu lado!…”


21 O visitante exclamou
De expressão mais doce e bela:
— “Pois vou levá-lo, Joãozinho,
A fim de viver com ela!…”


22 Gritou João abrindo os braços,
Magros braços seminus:
 — “Mas o senhor quem é mesmo?…
E o moço disse: — “Jesus!…”


23 Naquela nesga de rua
Esquecida e esburacada,
Brilhava um clarão divino
Na sombra da madrugada.


24 Viu-se João num colo amigo,
Tudo paz em derredor…
A Terra ficava longe,
O Céu ficava maior!…


25 As vozes no firmamento
Soavam plenas de amor:
— “Hosanas! Jesus nasceu!…
Louvado seja o Senhor!…”


26 No coração do menino
Da angústia nada mais resta,
Sob o fulgor da esperança,
Tudo alegria de festa!…


27 De manhã um verdureiro,
Ao fitá-lo em desconforto,
Pôs-se a chamá-lo de leve,
Mas Joãozinho estava morto.


Francisca Clotilde


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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