90. — As ciências aplicadas, como
a Agricultura, a Engenharia, a Medicina, a Educação e a Economia representam
o campo de esforço dos Espíritos encarnados, para amplificação dos conhecimentos
do homem, em benefício material da Humanidade?
— As ciências aplicadas são as forças que se mobilizam para as comodidades da civilização; todavia, apesar de suas características materiais, é dentro de seus quadros que se organizam os esforços abençoados do Espírito, em provas de regeneração ou em missões purificadoras, na sua marcha ascensional para o perfeito.
Entrosando-se com as atividades complementares das demais expressões científicas do planeta, todas se harmonizam, nas lutas do homem, como recursos terrenos para o desiderato das finalidades divinas.
91. — No quadro das ciências,
as inspirações do Plano superior são destinados a determinados estudiosos,
ou lançadas de maneira geral para todos os cientistas?
— Nos departamentos da atividade científica existe, às vezes, esse ou aquele missionário, com tarefa especializada e conferida tão somente ao seu esforço.
Em se tratando, porém, de ideias e aparelhos novos, nos movimentos evolutivos, as inspirações do Plano espiritual são distribuídas em todas as correntes do pensamento humano, percebendo-as, contudo, somente aqueles que se encontram sintonizados com as suas vibrações.
92. — O agricultor, aplicando
os conhecimentos da ciência para a melhoria do seu meio ambiente e elevação
do nível social em que se encontra, cumpre, também, missão espiritual?
— O homem recebeu, igualmente, uma grande tarefa junto ao solo do globo, fonte de manutenção de sua existência, competindo-lhe o bom serviço de cultivar e aperfeiçoar o trato da terra, sob a sua ordenação transitória, porquanto é na oficina do orbe que se prepara, de modo geral, para o seu futuro infinito, cheio de beleza e de realizações definitivas no Plano eterno.
93. — O engenheiro, na movimentação
dos patrimônios materiais do orbe, alargando as possibilidades de comunicação
entre os povos, é amparado pelas forças espirituais?
— As fontes de proteção do Plano invisível amparam todos os esforços generosos e sinceros que objetivam não só o aperfeiçoamento da escola Planetária, como também o de seus filhos. Assim, temos de reconhecer no engenheiro abnegado um obreiro do progresso e da fraternidade.
Essa a razão pela qual as grandes obras da engenharia, em sua feição beneficiária, apesar de materiais, possuem elevada significação pela extensão de sua utilidade ao espírito coletivo.
94. — Como é considerada nos Planos
espirituais a medicina terrena?
— A medicina humana, compreendida e aplicada dentro de suas finalidades superiores, constitui uma nobre missão espiritual.
O médico honesto e sincero, amigo da verdade e dedicado ao bem, é um apóstolo da Providência Divina, da qual recebe a precisa assistência e inspiração, sejam quais forem os princípios religiosos por ele esposados na vida.
95. — Em face dos esforços da
Medicina, como devemos considerar a saúde?
— Para o homem da Terra, a saúde pode significar o equilíbrio perfeito dos órgãos materiais; para o Plano espiritual, todavia, a saúde é a perfeita harmonia da alma, para obtenção da qual, muitas vezes, há necessidade da contribuição preciosa das moléstias e deficiências transitórias da Terra.
96. — Toda moléstia do corpo tem
ascendentes espirituais?
— As chagas da alma se manifestam através do envoltório humano. O corpo doente reflete o panorama interior do Espírito enfermo. A patogenia é um conjunto de inferioridades do aparelho psíquico.
E é ainda na alma que reside a fonte primária de todos os recursos medicamentosos definitivos. A assistência farmacêutica do mundo não pode remover as causas transcendentes do caráter mórbido dos indivíduos. O remédio eficaz está na ação do próprio Espírito enfermiço.
Podeis objetar que as injeções e os comprimidos suprimem a dor; todavia, o mal ressurgirá mais tarde nas células do corpo. Indagareis, aflitos, quanto às moléstias incuráveis pela ciência da Terra e eu vos direi que a reencarnação, em si mesma, nas circunstâncias do mundo, envelhecido nos abusos, já representa uma estação de tratamento e de cura e que existem enfermidades d’alma, tão persistentes, que podem reclamar várias estações sucessivas, com a mesma intensidade nos processos regeneradores.
97. — Se as enfermidades são de
origem espiritual, é justa a aplicação dos medicamentos humanos, a cirurgia,
etc., etc.?
— O homem deve mobilizar todos os recursos ao seu alcance, em favor do seu equilíbrio orgânico. Por muito tempo ainda, a Humanidade não poderá prescindir da contribuição do clínico, do cirurgião e do farmacêutico, missionários do bem coletivo. O homem tratará da saúde do corpo, até que aprenda a preservá-lo e defendê-lo, conservando a preciosa saúde de sua alma.
Acima de tudo, temos de reconhecer que os serviços de defesa das energias orgânicas, nos processos humanos, como atualmente se verificam, asseguram a estabilidade de uma grande oficina de esforços santificadores no mundo. Quando, porém, o homem espiritual dominar o homem físico, os elementos medicamentosos da Terra estarão transformados na excelência dos recursos psíquicos e essa grande oficina achar-se-á elevada a santuário de forças e possibilidades espirituais junto das almas.
98. — Nos processos de cura, como
deveremos compreender o passe?
— Assim como a transfusão de sangue representa uma renovação das forças físicas, o passe é uma transfusão de energias psíquicas, com a diferença que os recursos orgânicos são retirados de um reservatório limitado, e os elementos psíquicos o são do reservatório ilimitado das forças espirituais.
99. — Como deve ser recebido e
dado o passe?
— O passe poderá obedecer à fórmula que forneça maior percentagem de confiança, não só a quem o dá como a quem o recebe. Devemos esclarecer, todavia, que o passe é a transmissão de uma força psíquica e espiritual, dispensando qualquer contato físico na sua aplicação.
100. — A chamada “benzedura”,
conhecida nos meios populares, será uma modalidade do passe?
— As chamadas “benzeduras”, tão comuns no ambiente popular, sempre que empregadas na caridade, são expressões humildes do passe regenerador, vulgarizada nas instituições espiritistas de socorro e de assistência.
Jesus nos deu a primeira lição nesse sentido, impondo as mãos divinas sobre os enfermos e sofredores, no que foi seguido pelos apóstolos do Cristianismo primitivo.
“Toda boa dádiva e dom perfeito vêm do Alto”, — dizia o apóstolo, ( † ) na profundeza de suas explanações.
A prática do bem pode assumir as fórmulas mais diversas. Sua essência, porém, é sempre a mesma diante do Senhor.
101. — Por que não será permitida
às entidades espirituais a revelação dos processos de cura da lepra,
do câncer, etc.?
— Antes de qualquer consideração, devemos examinar a lei das provações e a necessidade de sua execução plena.
Na própria natureza da Terra e na organização de fluidos inerentes ao planeta, residem todos esses recursos, até hoje inapreendidos pela ciência dos homens. Jesus curava os leprosos com a simples imposição de suas mãos divinas.
O Plano espiritual não pode quebrar o ritmo das leis do esforço próprio, como a direção de uma escola não pode decifrar os problemas relativos à evolução de seus discípulos.
Além de tudo, a doença incurável traz consigo profundos benefícios. Que seria das criaturas terrestres sem as moléstias dolorosas que lhes apodrecem a vaidade? Até onde poderiam ir o orgulho e o personalismo do Espírito humano, sem a constante ameaça de uma carne frágil e atormentada?
Observemos as dádivas de Deus no terreno das grandes descobertas, mobilizadas para a guerra de extermínio, e contemplemos com simpatia os hospitais isolados e escuros, onde, tantas vezes, a alma humana se recolhe para as necessárias meditações.
102. — Podem os Espíritos amigos
atuar sobre a flora microbiana, nas moléstias incuráveis, atenuando
os sofrimentos da criatura?
— As entidades amigas podem diminuir a intensidade da dor nas doenças incuráveis, bem como afastá-la completamente, se esse benefício puder ser levado a efeito no quadro das provas individuais, sob os desígnios sábios e misericordiosos do Plano superior.
103. — No tratamento ministrado
pelos Espíritos amigos, a água fluidificada, para um doente, terá o
mesmo efeito em outro enfermo?
— A água pode ser fluidificada, de modo geral, a benefício de todos; todavia, pode sê-lo em caráter particular para determinado enfermo, e, neste caso, é conveniente que o uso seja pessoal e exclusivo.
104. — Existem condições especiais
para que os Espíritos amigos possam fluidificar a água pura, como sejam
a presença de médiuns curadores, reuniões de vários elementos, etc.,
etc.?
— A caridade não pode atender à situações especializadas. A presença de médiuns curadores, bem como as reuniões especiais, de modo algum podem constituir o preço do benefício aos doentes, porquanto os recursos dos guias espirituais, nessa esfera de ação, podem independer do concurso medianímico, considerando o problema dos méritos individuais.
105. — O fato de um guia espiritual
receitar para determinado enfermo, é sinal infalível de que o doente
terá de curar-se?
— O guia espiritual é também um irmão e um amigo, que nunca ferirá as vossas mais queridas esperanças.
Aconselhando o uso de uma substância medicamentosa, alvitrando essa ou aquela providência, ele cooperará nas melhoras de um enfermo e, se possível, no pleno restabelecimento de sua saúde física, mas não poderá modificar a lei das provações ou os desígnios supremos dos Planos superiores, na hipótese da desencarnação, porque dentro da Lei, somente Deus, seu Criador, pode dispensar.
106. — A eutanásia é um bem,
nos casos de moléstia incurável?
— O homem não tem o direito de praticar a eutanásia, em caso algum, ainda que a mesma seja a demonstração aparente de uma medida benfazeja.
A agonia prolongada pode ter uma finalidade preciosa para a alma e a moléstia incurável pode ser um bem, como a única válvula de escoamento das imperfeições do Espírito em marcha para a sublime aquisição de seus patrimônios da vida imortal. Além do mais, os desígnios divinos são insondáveis e a ciência precária dos homens não pode decidir nos problemas transcendentes das necessidades do Espírito.
107. — Um hospital espírita
tem utilidade para a família espírita?
— A fundação de um hospital, em cujos processos de tratamento estejam vivos os princípios do Espiritismo evangélico, constitui realização generosa, na melhor exaltação dos ensinos consoladores dos mensageiros celestiais.
As edificações dessa natureza, todavia, exigem o máximo de renúncia por parte dos que as patrocinem, porquanto, dentro delas o médico do mundo é compelido a esquecer os títulos acadêmicos, para ser um dos mais legítimos missionários d’Aquele Médico das Almas que curou os cegos e os leprosos, os tristes e os endemoninhados, exemplificando o amor e a humildade na entrosagem de todos os serviços pelo bem dos semelhantes.
Um hospital espírita deve ser um lar de Jesus.
Seu aparelhamento é uma maquinaria divina, exigindo idêntica superioridade nos operários chamados a movimentar-lhe as peças, de modo a se não deturpar a grandeza profunda dos fins.
108. — Onde a base mais elevada
para os métodos de educação?
— As noções religiosas, com a exemplificação dos melhores deveres da vida, constituem a base de toda a educação, no sagrado instituto da família.
109. — O período infantil é
o mais importante para a tarefa educativa?
— O período infantil é o mais sério e o mais propício à assimilação dos princípios educativos.
Até aos sete anos, o Espírito ainda se encontra em fase de adaptação para a nova existência que lhe compete no mundo. Nessa idade, ainda não existe uma integração perfeita entre ele e a matéria orgânica. Suas recordações do Plano espiritual são, por isso, mais vivas, tornando-se mais suscetível de renovar o caráter e estabelecer novo caminho, na consolidação dos princípios de responsabilidade, se encontrar nos pais legítimos representantes do colégio familiar.
Eis por que o lar é tão importante para a edificação do homem, e por que tão profunda é a missão da mulher perante as leis divinas.
Passada a época infantil, credora de toda vigilância e carinho por parte das energias paternais, os processos de educação moral, que formam o caráter, tornam-se mais difíceis com a integração do Espírito em seu mundo orgânico material, e, atingida a maioridade, se a educação não se houver feito no lar, então, só o processo violento das provas rudes, no mundo, pode renovar o pensamento e a concepção das criaturas, porquanto a alma reencarnada terá retomado todo o seu patrimônio nocivo do pretérito e reincidirá nas mesmas quedas, se lhe faltou a luz interior dos sagrados princípios educativos.
110. — Qual a melhor escola
de preparação das almas reencarnadas, na Terra?
— A melhor escola ainda é o lar, onde a criatura deve receber as bases do sentimento e do caráter.
Os estabelecimentos de ensino, propriamente do mundo, podem instruir, mas só o instituto da família pode educar. É por essa razão que a universidade poderá fazer o cidadão, mas somente o lar pode edificar o homem.
Na sua grandiosa tarefa de cristianização, essa é a profunda finalidade do Espiritismo evangélico, no sentido de iluminar a consciência da criatura, a fim de que o lar se refaça para que um novo ciclo de progresso espiritual se traduza, entre os homens, em lares cristãos, para a nova era da Humanidade.
111. — É justa a fundação de
institutos para a educação sexual?
— Quando os professores do mundo estiverem plenamente despreocupados das tabelas administrativas, dos auxílios oficiais, da classificação de salários, das situações de evidência no magistério, das promoções, etc., para sentirem nos discípulos os filhos reais do seu coração, será acertado cogitar-se da fundação de educandários dessa natureza, porquanto haverá muito amor dentro das almas, assegurando o êxito das iniciativas.
Os professores do mundo, todavia, considerado o quadro legítimo das exceções, ainda não passam de servidores do Estado, angustiados na concorrência do profissionalismo. Na sagrada missão de ensinar, eles instruem o intelecto, mas, de um modo geral, ainda não sabem iluminar o coração dos discípulos, por necessitados da própria iluminação.
Examinada a questão desse modo, e atendendo às circunstâncias das posições evolutivas, consideramos que os pais são os mestres da educação sexual de seus filhos, indicados naturalmente para essa tarefa, até que o orbe possua, por toda parte, as verdadeiras escolas de Jesus, onde a mulher, em qualquer estado civil, se integre na divina missão da maternidade espiritual de seus pequenos tutelados e onde o homem, convocado ao labor educativo, se transforme num centro de paternal amor e amoroso respeito para com os seus discípulos.
112. — Como renovar os processos
de educação para a melhoria do mundo?
— As escolas instrutivas do planeta poderão renovar sempre os seus métodos pedagógicos, com esses ou aqueles processos novos, de conformidade com a psicologia infantil, mas a escola educativa do lar só possui uma fonte de renovação que é o Evangelho, e um só modelo de mestre, que é a personalidade excelsa do Cristo.
113. — Os pais espiritistas
devem ministrar a educação doutrinária a seus filhos ou podem deixar
de faze-lo invocando as razões de que, em matéria de religião, apreciam
mais a plena liberdade dos filhos?
— O período infantil, em sua primeira fase, é o mais importante para todas as bases educativas, e os pais espiritistas cristãos não podem esquecer seus deveres de orientação aos filhos, nas grandes revelações da vida. Em nenhuma hipótese, essa primeira etapa das lutas terrestres deve ser encarada com indiferença.
O pretexto de que a criança deve desenvolver-se com a máxima noção de liberdade pode dar ensejo a graves perigos. Já se disse, no mundo, que o menino livre é a semente do celerado. A própria reencarnação não constitui, em si mesma, restrição considerável à independência absoluta da alma necessitada de expiação e corretivo?
Além disso, os pais espiritistas devem compreender que qualquer indiferença nesse particular pode conduzir a criança aos prejuízos religiosos de outrem, ao apego do convencionalismo, e à ausência de amor à verdade.
Deve nutrir-se o coração infantil com a crença, com a bondade, com a esperança e com a fé em Deus. Agir contrariamente a essas normas é abrir para o faltoso de ontem a mesma porta larga para os excessos de toda sorte, que conduzem ao aniquilamento e ao crime.
Os pais espiritistas devem compreender essa característica de suas obrigações sagradas, entendendo que o lar não se fez para a contemplação egoística da espécie, mas, sim, para santuário onde, por vezes, se exige a renúncia e o sacrifício de uma existência inteira.
114. — A economia deve ser dirigida?
— No que se refere à técnica de produção, à necessidade da repartição e aos processos de consumo, é mais que justa a direção da economia; porém, nesse sentido todo excesso político que prejudique a harmonia na lei das trocas, de que o progresso depende inteiramente, é um erro condenável, com graves consequências para toda a estrutura do organismo coletivo.
Tais excessos deram causa aos sistemas autárquicos de governo, da atualidade, onde perecem todos os ideais de justiça econômica e de fraternidade, em virtude dos erros de visão do mau nacionalismo.
A vida depende de trocas incessantes e toda restrição a esses elevados princípios de harmonia é uma passagem para a destruição revolucionária, onde se invertem todos os valores da vida.
Que a economia seja dirigida, mas que as paixões políticas não penetrem os seus domínios de equilíbrio e reciprocidade, porquanto, na sua influência nefasta, o “bastar-se a si mesmo” é a ideologia sinistra da ambição e do egoísmo, onde o fermento da guerra encontra o clima apropriado para as suas manifestações de violência e extermínio.
Emmanuel