1 ESFORÇAVA-SE por sair, quando ouviu a mesma voz da noite anterior:
— Leonardo! Leonardo!…
2 Estava o Senhor à frente dele, mais belo que nunca.
3 O menino caiu de joelhos, mas notou que Jesus não tinha a mesma alegria da véspera. Parecia triste, muito triste. Mostrava nos olhos profundos e sublimes o pranto que não chegava a cair. E até a Natureza parecia comungar com o Mestre, porque as aves silenciaram e as ondas buliçosas e límpidas do lago imenso aquietaram-se, de manso, obedecendo a estranho poder.
4 Leonardo quis perguntar o motivo de tanta modificação, mas faltou-lhe coragem.
5 Jesus contemplava-o com infinita doçura, aliada, porém, a desapontamento tão grande, que Leonardo se inclinou para o chão, abraçando-lhe os pés, humilhado e choroso.
6 Como Jesus nada dissesse, o menino explicou-se, acanhado:
— Senhor, esperei-te em vão o dia inteiro… Por que não vieste ensinar-me o caminho do Céu, tu que és bom e poderoso? Por que não me deste os sinais prometidos?
7 — Como assim? — Exclamou o Cristo, surpreendido, — dei-te o caminho celeste e, por dez vezes, indiquei-te os sinais da revelação divina. Entretanto, não quiseste ver. Trabalhei contigo, debalde, horas inteiras, insistindo para que visses e compreendesses.
8 Leonardo arregalou os olhos lacrimosos e interrogou:
— Que dizes, Senhor?!…
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Veneranda