Os tesouros ocultos, a origem do mundo e a imigração japonesa… — Economia e feminismo — Cartas para o médium e para o repórter — Mais perguntas…
PEDRO LEOPOLDO, † 7 (Especial para o GLOBO, por Clementino de Alencar) — Em correspondência anterior tivemos já ocasião de fazer referência ao grande número de cartas que aqui chegam, dirigidas ao médium e algumas ao repórter.
Em geral, consta essa correspondência, pelo menos a já aberta e lida, de consultas dirigidas, por intermédio de Chico Xavier, aos Amigos do Espaço.
E foi exatamente essa série de consultas, por seu número e sua variedade, um dos fatores da espécie de alarme que veio inquietar o médium na sua humildade e na sua despretensão.
Porque, em verdade, são perguntas de todo o gênero, desde as perfeitamente cabíveis até às mais absurdas e estapafúrdias, se tomarmos em consideração o sentido elevado com que os espíritas em geral se entregam à prática de sua doutrina e às possibilidades e cogitações admissíveis, ainda dentro da mesma doutrina, no médium e nos Espíritos desencarnados.
Por essas duas observações, sobre o “sentido elevado” da doutrina e “possibilidades e cogitações espíritas”, certamente não poderemos ser taxados de parcialidade ou simpatia exagerada, visto como aquilo tudo é reconhecido por todos os que, esclarecidos e com isenção, observam ou mesmo estudam os fatos e questões espíritas.
Passamos, porém, à correspondência do médium e também do repórter. Dias houve em que Chico Xavier recebeu de quinze a vinte cartas no gênero a que nos referimos.
Cheio de impedimentos como os que indicamos — seu trabalho diário na venda, seus cuidados com o padrinho enfermo, as repetidas visitas de consulentes vindos de fora e ainda o esgotamento a que chegou afinal — Chico Xavier, ao cabo de alguns dias já não podia, não diremos responder, mas até nem ler e inteirar-se de toda a correspondência. E como esta não cessava, o médium se viu, por fim, diante de um maço de cartas fechadas.
Foi então que o seu “alarme” se acentuou, ainda mais considerando que se declarara nele a necessidade de algum tempo de repouso.
O exame da correspondência
Foi a essa altura que resolvemos acorrer, de certa forma, em “socorro” do médium.
Quedamo-nos também um tanto “alarmados” diante do volume da correspondência.
Por essa época, exatamente, Emmanuel, na sua última mensagem em inglês, conforme publicamos, havia dado como encerrada a “fase de experiências”, a série de testes provocados pelo repórter.
Diante daquele maço de cartas fechadas, e ao qual certamente se viram reunir ainda outras, fizemos ao médium uma sugestão: ele iria abrindo a correspondência paulatinamente e fazendo a seleção das perguntas, dentro do critério indicado por nossas considerações de acima, e ao tempo apresentando-as ao seu guia, para obtenção das respostas.
O repórter, em obediência ao que já determinara Emmanuel a seu respeito, não interviria mais como consulente, mas se deixaria ficar de lado, como um simples observador para que o material colhido no exame da correspondência e as respectivas respostas, colhidas sob a nossa observação, pudessem servir à nossa reportagem.
O médium aceitou a sugestão, pedido-nos apenas com o seu eterno alarme da publicidade:
— Mas, por favor, permita-me realizar esta tarefa em silêncio e tranquilidade; senão creio que não poderei levá-la a cabo.
Asseguramos-lhe que sim; Chico Xavier, por sua vez cumpriu o que prometera. E isso nos proporcionou uma série de novos e interessantíssimos testes.
A tarefa agora, já foi concluída. Cessou, pois, a nossa promessa de silenciar. Resta-nos expor os resultados colhidos.
Segredo…
Desde já, adiantamos o seguinte; da correspondência que ia sendo aberta paulatinamente, na nossa presença, apenas tomamos conhecimento das consultas que ela porventura contivesse, deixando, ignoradas para nós, o nome dos signatários.
Obedecemos assim, ao desejo do médium e a uma delicada atenção sua para com os seus consulentes. O mesmo silêncio adotaremos também, quanto aos signatários das cartas dirigidas ao repórter.
Os tesouros ocultos, a origem do mundo e a imigração japonesa…
Assim, não só em atenção a solicitações francas, como também por dever de ética profissional, deixaremos para sempre ignorados do grande público o nome dos mortais que queriam saber se, com o tempo, obteriam tal ou tal colocação; ou conhecer a origem do mundo das divindades e da diferença de cores entre os homens; ou descobrir o lugar exato onde um antepassado escondera um tesouro; ou inteirar-se das possibilidades futuras — perigo? Ou vantagem? — da emigração japonesa para o Brasil.
Política, moral, economia, feminismo, etc.
São assim, pois, das mais variadas, as indagações contidas na correspondência aqui chegada, para o médium e o repórter, e que convidam ao esclarecimento ou debate de questões de moral, economia, política, finanças, indústrias, feminismo, etc.
Os eternos anseios, dúvidas e esperanças
Cumpre-nos ainda observar — pelo muito que nos merece a atenção e o interesse dispensados pelos que nos leem, a esta espécie de inquérito — que, no exame da correspondência, tanto o médium como o repórter nunca abandonaram o maior respeito para com as solicitações, dúvidas, convicções, esperanças, etc., que todas as consultas envolviam, mesmo quando elas parecessem absurdas ou estapafúrdias.
Porque, em tudo, estivemos sempre a ver o sagrado anseio da alma humana aberta, sinceramente, para todos os rumos de onde lhe possam vir esclarecimentos para suas dúvidas, consolo para suas dores e alimento para suas crenças e suas esperanças.
Clementino de Alencar