1 Numerosos companheiros de Allan Kardec já haviam regressado às luzes da espiritualidade, quando inúmeras entidades do serviço de direção dos movimentos espiritistas no planeta deliberaram efetuar um balanço de realizações e de obras em perspectiva, nos arraiais doutrinários, sob a bênção misericordiosa e augusta do Cordeiro de Deus.
2 Vivia-se, então, no limiar do século XX, de alma aturdida ante as renovações da indústria e da ciência, aguardando-se as mais proveitosas edificações para a vida do Globo.
3 Falava-se aí, nesse conclave do Plano Invisível, com respeito à propagação da nova fé, em todas as regiões do mundo, procurando-se estudar as possibilidades de cada país, no tocante ao grande serviço de restauração do Cristianismo, em suas fontes simples e puras.
4 Após várias considerações, em torno do assunto, o diretor espiritual da grande reunião falou com segurança e energia:
— “Irmãos de eternidade: no mundo terrestre, de modo geral, as doutrinas espiritualistas, em sua complexidade e transcendência, repousam no coração da Ásia adormecida; mas, precisamos considerar que o Evangelho do Divino Mestre não conseguiu ainda harmonizar essas variadas correntes de opinião do espiritualismo oriental com a fraternidade perfeita, em vista de as nações do Oriente se encontrarem cristalizadas na sua própria grandeza, há alguns milênios.
5 “Em breve, as forças da violência acordarão esses países que dormem o sono milenário do orgulho, numa injustificável aristocracia espiritual, a fim de que se integrem na lição da solidariedade verdadeira, mediante os ensinamentos do Senhor!… Urge, pois, nos voltemos para a Europa e para a América, onde, se campeiam as inquietações e ansiedades, existe um desejo real de reforma, em favor da grande cooperação pelo bem comum da coletividade. Certo, essa renovação é sinônima de muitas dores e dos mais largos tributos de lágrimas e de sangue; mas, sobre as ruínas da civilização ocidental, deverá florescer no futuro uma sociedade nova, sobre a base da solidariedade e da paz, em todos os caminhos dos progressos humanos… Examinemos os resultados dos primeiros esforços do Consolador, no Velho Mundo!…”
6 E os representantes dos exércitos de operários, que laboram nos diversos países da Europa e da América, começaram a depor, sobre os seus trabalhos, no congresso do Plano Invisível, elucidando-os sinteticamente:
7 — “A França, — exclamava um deles, — berço do grande missionário e codificador da Doutrina, desvela-se pelo esclarecimento da razão, ampliando os setores da ciência humana, positivando a realidade de nossa sobrevivência, através dos mais avançados métodos de observação e de pesquisa. Lá se encontram ainda numerosos mensageiros do Alto, como Denis, Flammarion e Richet, clareando ao mundo os grandes caminhos filosóficos e científicos do porvir.”
8 — “A Grã-Bretanha, — afirmava outro, — multiplica os seus centros de estudo e de observação, intensificando experiências de Crookes e dissolvendo preconceitos.”
9 — “A Itália, — asseverava novo mensageiro, — teve com Lombroso o início de experiências decisivas. O próprio Vaticano se interessa pela movimentação das ideias espiritistas no seio das classes sociais, onde foi estabelecido rigoroso critério de análise no comércio dos Planos Invisíveis com o homem terrestre.”
10 — “A Rússia, bem como outras regiões do Norte, — prosseguia outro emissário, — conseguira com Aksakof a difusão de nossas verdades consoladoras. Até a corte do Czar se vem interessando nas experimentações fenomênicas da Doutrina.”
11 — “A Alemanha, — afirmava ainda outro, — possui numerosos físicos que se preocupam cientificamente com os problemas da vida e da morte enriquecendo os nossos esforços de novas expressões de experiência e cultura…”
12 Iam as exposições a essa altura, quando uma luz doce e misericordiosa inundou o ambiente da reunião de sumidades do Plano Espiritual. Todos se calaram, tomados de emoção indizível, quando uma voz, augusta e suave, falou, através das vibrações radiosas de que se tocava a grande assembleia:
13 — “Amados meus, não tendes, para a propagação da palavra do Consolador, senão os recursos da falível ciência humana? Esquecestes que os excessos de raciocínio prejudicaram o coração das ovelhas desgarradas do grande rebanho? Não haverá verdade sem humildade e sem amor, porque toda a realidade do Universo e da vida deve chegar ao pensamento humano, antes de tudo, pela fé, ao sopro dos seus resplendores eternos e divinos!… 14 Operários do Evangelho, excelente é a ciência bem intencionada do mundo, mas não esqueçais o coração, em vossos labores sublimes… Procurai a nação da fraternidade e da paz, onde se movimenta o povo mais emotivo do globo terrestre, e iniciai ali uma tarefa nova. Se o Cristo edificou a sua igreja sobre a pedra segura e inabalável da fé que remove montanhas e se o Consolador significa a doutrina luminosa e santa de esperança de redenção suprema das almas, todos os seus movimentos devem conduzir à caridade, antes de tudo, porque sem caridade não haverá paz nem salvação para o mundo que se perde!…”
15 Uma copiosa efusão de luzes, como bênçãos do Divino Mestre, desceu do Alto sobre a grande assembleia, assim que o apóstolo do Senhor terminou a sua exortação comovida e sincera, luzes essas que se dirigiam, como aluvião de claridades, para a terra generosa e grande que repousa sob a luz gloriosa da constelação do Cruzeiro.
16 E foi assim que a caridade selou, então, todas as atividades do Espiritismo brasileiro, seus núcleos, em todo o país, começaram a representar os centros de eucaristia divina para todos os desesperados e para todos os sofredores. Multiplicaram-se as tendas de trabalho do Consolador, em todas as suas cidades prestigiosas, e as receitas mediúnicas, os conselhos morais, os postos de assistência, as farmácias homeopatas gratuitas, os passes magnéticos, multiplicaram-se, em todo o Brasil, para a fusão de todos os trabalhadores, no mesmo ideal de fraternidade e de redenção pela caridade mais pura.
Humberto de Campos
(Irmão X)
(Recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier, em 5 de novembro de 1938.)
Nota do Compilador: Embora esse livro não possua prefácio, todos os prefácios nos livros de Francisco Cândido Xavier foram recebidos na conclusão do livro, indicação segura de sua data de edição, ainda que muitas vezes houvessem sido publicados posteriormente. A mensagem datada mais tardia desse livro é a lição nº 10 intitulada “Carta a Gastão Penalva”, ela foi psicografada no dia 6 de outubro de 1939, servindo, portanto, como parâmetro de referência para a data de edição do mesmo, que foi em 1940.