Carlos A. Baccelli
De nosso arquivo xavieriano, damos agora à publicidade uma entrevista concedida há tempos pelo médium e que, acreditamos, permaneceu inédita, até hoje.
Assim o fazemos, por acreditar que a palavra de Chico Xavier, sempre inspirada por Emmanuel, projeta luz sobre qualquer assunto, mesmo quando este assunto tenha, aparentemente, perdido a sua atualidade.
Sem maiores delongas, passemos à referida entrevista, esclarecendo, todavia, que não nos foi possível identificar o seu autor e nem tampouco a data de sua realização.
1 — Que é mediunidade, no significado real de sua essência?
— Mediunidade, na essência, é afinidade, é sintonia, estabelecendo a possibilidade do intercâmbio espiritual entre as criaturas, que se identifiquem na mesma faixa de emoção e de pensamento.
2 — Como alcançar bom aprimoramento de um potencial mediúnico?
— Reflitamos no assunto, do ponto de vista da mediunidade em trabalho edificante.
Que se aperfeiçoe o violino, e o artista encontrará nele as mais amplas facilidades de expressão.
Sem cooperador habilitado, a tarefa surge deficiente.
A mediunidade, em si, depende do médium.
3 — Diga-nos o que deve fazer, dentro de suas capacidades, um médium, a fim de poder ser completo e útil para o Plano Espiritual?
— Devotamento ao bem do próximo, sem a preocupação de vantagens pessoais, eis o primeiro requisito para que o medianeiro se torne sempre mais útil ao Plano Espiritual.
Em seguida, quanto mais o médium se aprimore, através do estudo e do dever nobremente cumprido, mais valioso se torna para a execução de tarefas com os Instrutores da Vida Maior.
4 — Existe a tentação? Que é? Qual a sua causa?
— A tentação, no fundo, é a projeção das tendências infelizes que ainda trazemos.
Semelhante projeção, em se exteriorizando em forma de pensamentos materializados, atraem sobre nós aquelas mentes, encarnadas ou desencarnadas, que se nos harmonizam com o modo de ser.
Entendendo que a tentação nasce de nós, recordemos que um pacote de ouro não tenta um coelho, induzindo, muitas vezes, um homem às piores sugestões, enquanto que um pé de couve deixa um homem impassível, levando um coelho ao impulso da aproximação indébita.
5 — Por que deve o homem manter-se no “véu do esquecimento” em relação à sua Vida Espiritual?
De modo geral, a reencarnação objetiva a extirpação do ódio e da inveja, do ressentimento e do ciúme, dos impulsos à discórdia e à delinquência, que nos implantaram na alma, depois de lastimáveis desastres morais.
Semelhantes causas de sofrimento persistiriam conosco, por longo tempo, não fosse o olvido terapêutico que nos é administrado durante a reencarnação.
Nesse sentido, observemos o fato de que, a ablação de um tumor no corpo físico, reclama a anestesia.
O esquecimento temporário na reencarnação é o processo de socorro pelo qual a Misericórdia Divina se digna determinar a sedação das feridas mentais de que porventura sejamos portadores, para o tratamento e a extinção delas.
6 — Que é que pode ser mais prejudicial a um médium?
— O egoísmo que se fantasia de vaidade e orgulho, quando o medianeiro procura irrefletidamente antepor-se aos Mentores Espirituais que se valem dele. Ou o mesmo egoísmo, quando se veste de ociosidade ou de escrúpulo negativo, para fugir à prestação de serviço ao próximo.
7 — Qual a razão de algumas pessoas possuírem dons mediúnicos na Terra, desde o berço, enquanto outras, após muito trabalho é que conseguem conquistar alguns desses valores?
— Quando se trata de mediunidade em ação na cultura ou no progresso espiritual, a bagagem de recursos do medianeiro emerge das suas próprias aquisições de Espírito, efetuadas em existências pretéritas, outorgando-lhe a possibilidade de colaborar com mais eficiência ao lado de quantos pugnam, no Além, pelo aperfeiçoamento e felicidade da comunidade humana.
8 — O jovem de hoje é mais arrojado no rumo de suas ideias, indaga mais, procura aprofundar-se na essência das coisas.
Percebe, então, a desnecessidade de uma série de dogmas existentes no mundo.
Por que lhe são bloqueadas a busca e a tentativa de uma solução melhor?
— Tanto os mais jovens quanto os mais amadurecidos na experiência humana, que procuram hoje soluções construtivas para os problemas terrestres, encontrarão caminho para isso, por mais que a sombra da ignorância ou da resistência negativa lhes tentem obstruir a passagem.
9 — Podemos considerar válidas as palavras “Os inocentes pagam pelos culpados?”
É-nos possível um desenvolvimento sobre o tema?
— Ninguém resgata por alguém essa ou aquela culpa diante da lei de causa e efeito.
Ouvimos de muitos companheiros no mundo a afirmação de que os descendentes pagam pelos erros dos antepassados.
Isso, porém, não corresponde à realidade.
E, em muitos casos, os descendentes são os próprios antepassados em nova encarnação, no mesmo tronco genealógico, para resgate de faltas em que se debitaram no pretérito.
10 — Como encarar as diversas demonstrações mediúnicas existentes e praticadas fora da Doutrina Espírita?
— Os fenômenos medianímicos existiram em todos os tempos.
E em todos os distritos da atividade humana, continuam a existir.
A Doutrina Espírita é o Cristianismo Redivivo esclarecendo mediunidade e médiuns, para que as ocorrências mediúnicas edifiquem elevação e proveito em auxílio da Humanidade.
11 — Qual o verdadeiro caminho que nos levará em rumo a Deus?
— A regra áurea, há séculos, nos traça o roteiro:
“Faze aos outros o que deseja que te façam.” ( † )
E o Cristo lança mais luz sobre a diretriz de todos os tempos:
“Amai-vos uns aos outros como eu vos amei.” ( † )
12 — Existem valores reais nos argumentos que nos chegam da parte da Parapsicologia?
— A Parapsicologia, sempre que age desapaixonadamente, é um instrumento respeitável da Ciência na investigação da Verdade.
Francisco Cândido Xavier
Emmanuel
(“A Flama Espírita” - Uberaba, Minas - 20 de maio de 1989.)