O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Novo mundo — Entrevistas — Emmanuel


11

Entrevista ao jornal “O Triângulo Espírita”

(Uberaba, 20-09-1974)


Chico Xavier entrou numa nova fase de sua existência: a vida pública, isto é, o maior contato com as massas, através do Rádio, da Televisão, da Imprensa, lançamento de livros, etc.

De algum tempo a esta parte, não tem sido outra a tônica da vida do nosso companheiro e médium Chico Xavier.

Dessa forma, se hoje ele recebe títulos de cidadão de várias cidades brasileiras, se comparece a Tardes de Autógrafos fazendo lançamento de novos livros mediúnicos, se concede entrevistas à imprensa, se participa de programas de Televisão, tudo isso, ele o faz com vistas à maior difusão do Espiritismo, da mensagem dos Espíritos.

Sabemos que o Espiritismo não visa a massificação, todavia, o contato com o povo e, sobretudo, numa época em que a confusão é geral, as dores são imensas, constitui uma necessidade imperiosa.

Não se compreende um médium psicógrafo, principalmente, sem o contato com o povo atendendo-o em suas necessidades espirituais.

É claro que isto deve acontecer naturalmente.

Tudo deve ser natural, espontâneo, a fim de que os Desígnios da Providência se manifestem conforme as necessidades do momento.

Nesse sentido, o nosso Chico, desde o seu primeiro programa de Televisão, sempre foi procurado para conceder entrevistas naturalmente, nada acontecendo por solicitação sua, ou da Entidade aonde trabalha.

E sempre com um objetivo: esclarecer o povo, amenizando suas dores pelo consolo, através da difusão do Espiritismo libertador.

É por isso que “O TRIÂNGULO ESPÍRITA” destaca, nesta oportunidade, trechos de algumas ENTREVISTAS concedidas à nossa imprensa espírita e não espírita: “Diário do Povo”, de Campinas, do dia 29 de julho; “Folha Espírita”, de agosto, e “DN Cultura”, de agosto, todos deste ano.


A necessidade de especialização mediúnica


Na presente entrevista, nosso irmão médium Chico Xavier, mais uma vez, volta a falar sobre a necessidade da especialização mediúnica como base de melhor rendimento doutrinário. E o faz, sem dúvida alguma, com base nos ensinos de seu Guia Espiritual Emmanuel que, em “O CONSOLADOR” — FEB, assim aborda o assunto: ( † )

Pergunta 388 — Nos trabalhos mediúnicos temos de considerar, igualmente, os imperativos da especialização?

— “O homem enciclopédico, em faculdade, ainda não apareceu, senão em gérmen nas organizações geniais que raramente surgem na Terra, e temos de considerar que a mediunidade somente agora começa a aparecer no conjunto de atributos do homem transcendente.
A especialização na tarefa mediúnica é mais que necessária e somente de sua compreensão poderá nascer a harmonia na grande obra de divulgação da verdade a realizar.”

Esta é a resposta de Emmanuel.

Todavia, alguém poderia argumentar que o próprio Chico possui várias faculdades mediúnicas.

É certo que nosso irmão já demonstrou possuir outras faculdades, todavia, é justo considerar, igualmente, que a psicográfica é a sua especialização e que as demais estão a serviço dá mensagem, coadjuvando-a, auxiliando-a, secundando-a.

Agora, vamos às respostas de nosso irmão.


Especialização mediúnica


1 — O senhor teria a oportunidade de receber páginas musicais?

— Este assunto já foi abordado certa vez e o nosso Emmanuel nos disse que esta possibilidade existe.

Por uma questão de especialização, enquanto eu possa, devo me deter na psicografia, deixando a outros médiuns esta parte para que a mediunidade, no meu caso, dependendo de muito tempo, possa render maior trabalho espiritual.


2 — Qual o futuro do Espiritismo Cristão no Brasil, ao seu ver?

— Os Espíritos Amigos sempre nos dizem que o Brasil está destinado a grandes realizações na vivência do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Deste modo, é de esperar que tenhamos no Brasil a civilização cristã do futuro, sem qualquer menosprezo a outras nações igualmente cristãs.

Mas sendo o Evangelho de Cristo, especialmente uma norma de vida, no Brasil esta norma vem sendo observada nos procedimentos de vida de seu povo, que procura cultuar a fraternidade cristã, com assistência recíproca, com a paz e com a segurança de todos, cada vez mais.


3 — O senhor poderia tecer considerações sobre o chamado “baixo Espiritismo”, comparando-o com aquele que é um dos seguidores?

— Nós estamos ligados à interpretação Kardequiana do Evangelho e da vida.

Dentro desta escola, nós nos sentimos na condição de alunos, matriculados numa faculdade de libertação espiritual, com a bênção de Jesus Cristo.

Não podemos julgar os nossos irmãos, de outros setores de atividades mediúnicas ou religiosas, porque compreendemos que a mediunidade é atributo de todos.

Muitas vezes, um companheiro doente, simplesmente doente, é um médium que se encontra psiquicamente enfermo, sem possibilidades de entendimento da sua própria situação.

Nós entendemos, também, que, na Vida Espiritual imediata, temos milhares de criaturas que, tanto quanto nós, não conseguem se alterar de um dia para outro.

Por isso mesmo, continuam com a vida espiritual que possuem aqui no Mundo Físico, diante de horizontes infinitos que se abrem para nós todos, no sentido de trabalhar pelo nosso próprio aperfeiçoamento.

Não compreendo, lugar algum, em religião alguma, que haja planos mais baixos ou mais altos.

Entendo que todos nós somos irmãos em humanidade, porque todos somos filhos de Deus, devendo ser respeitados nas ideias que tenhamos a respeito de Deus.

Se um irmão nosso adora determinada pedra como sendo um objeto divino, devo, pelo menos de minha parte, em meu setor pessoal de comportamento, respeitar este companheiro, porque ele está realizando, dentro dele mesmo a respeito de Deus, o que possui de melhor.

Mas isso não impede que tenhamos na Doutrina codificada por Allan Kardec um campo imenso de iluminação espiritual que está aberto a nós todos e que nos convida à libertação espiritual através do cumprimento dos nossos deveres.

Ela ensina que a nossa liberdade, tem o tamanho do nosso dever cumprido de uns para com os outros, sempre sob a luz dos ensinamentos de Jesus Cristo e dos Evangelhos que Ele nos legou.


Psicanálise e Evangelho


4 — Chico, a Psicanálise cura?

— Benfeitores Espirituais comumente nos asseveram que a Psicanálise é uma Ciência das mais respeitáveis na orientação do comportamento humano, esperando-se, no entanto, que venha a se enriquecer de valores espirituais sempre mais altos para o estabelecimento de motivações nobilitantes para a vida, em favor de quantos lhe recorrem à intervenção e aos ensinos.

Afirmam, ainda, que aguardam isso, porque não será justo despir a nossa alma de todos os recursos do mundo externo, dos quais nos valemos para angariar os patrimônios da Vida Imortal do espírito.

Cremos que o espírito, analisado para deixar todas as crenças ou ideais que haja esposado, mesmo em caráter transitório na existência terrestre, precisa substituir esses mesmos ingredientes de que se vê despojado, por outros que lhe garantam a alegria e o interesse de viver.

Portanto, acreditamos que um tratamento de saúde, qualquer que seja, deve visar a nossa própria melhoria, no capítulo do bom ânimo e da autoconfiança, a fim de que nossa vida alcance o máximo no rendimento do bem de todos. (Neste ponto ele relê em voz alta o que anotara, faz-me uma pergunta e em seguida acrescenta: — “A vida também precisa de ilusão. Se a tiramos de alguém, então temos que encontrar um substituto.”)


5 — O Freudismo nega que haja correlação de causa e efeito entre o sofrimento mental e causas morais. Ocorrerá algum dia a esperada fusão entre Freudismo e Cristianismo?

— Estamos convencidos, com os ensinamentos dos Instrutores Espirituais, que o sofrimento mental, decorrendo habitualmente do complexo culposo, remanesce de causas morais mantidas por nós mesmos na intimidade do próprio ser.

O Universo é regido por forças morais inderrogáveis. Não posso decepar o meu próprio braço num momento de insânia sem sofrer as consequências de minha própria irreflexão.

Causas morais e sofrimentos mentais, criando provações no campo físico se interligam naturalmente em todos os fenômenos da vida, sem que possamos eleger esse assunto à conta de irresponsabilidade ou indiferença, o que seria subverter a ordem que preside a Vida Universal.

Cremos sinceramente que o Cristianismo, especialmente interpretado nas explicações simples e claras da Doutrina Espírita, iluminará todo o território do Freudismo, abrindo novos caminhos para a harmonia e felicidade na vida comunitária.


A Mulher e o sexo


Chico Xavier relê em voz alta e pausada o que estava no papel. Indaga da minha opinião sobre cada uma das respostas e lhe respondo:

— Boa parte do que aí está é novidade para mim.

Chico retoma a palavra:

— “Peço licença aos presentes (éramos cinco ou seis pessoas presentes à entrevista, os de sua equipe e o repórter) para tocar num assunto muito debatido e causa de muito sofrimento no mundo de hoje: os problemas do sexo com seu cortejo de desencontros, infidelidades, distorções e anomalias.”

Reproduzo a seguir, de memória, o que o inigualável médium afirmou com segurança e clareza nesta ocasião.

Se as palavras de que se valeu não foram exatamente estas, o sentido do que disse é absolutamente fiel, isto é, sem distorções.

Depois de indagar do repórter se eu era médico, (duas vezes Chico Xavier me endereçou a mesma pergunta) e diante de minha negativa, ele prossegue:

— O sexo foi criado por Deus para ser, além do ato procriativo, motivo de prazer e de alegria para os seres humanos.

Nada há nele de vergonhoso ou menos nobre.

… Sabemos o que aconteceu: durante séculos as manifestações sexuais estiveram refreadas dentro de um círculo muito restrito, por alguns que tinham interesse na repressão de suas expressões e anseios. Isto foi possível até certo tempo; passado este, deu-se a grande explosão.

Súbito, as antigas barreiras foram derrubadas, muitos tabus e proibições afundaram na avalanche e, então, o diâmetro do círculo aumentou largamente. (Neste ponto, Chico Xavier toma um lápis e desenha dois círculos: um com dois centímetros de diâmetro e outro, por fora deste, com seis centímetros de diâmetro).

Que aconteceu depois?

Séculos de repressão psicológica muito rígida redundaram numa libertação que ultrapassou os limites mesmo deste círculo mais amplo (Chico Xavier risca linhas paralelas que transpõem os limites do círculo maior) e atingiu o terreno dos extremismos sempre perigosos e potencialmente causadores de grandes males no futuro.


Casamento e Distorções


Alguém pergunta:

6 — E o sexo no casamento?

Chico Xavier retoma o lápis e desenha um retângulo irregular, cobre-o com lápis preto e prossegue:

— Que acontece em muitos casamentos?

Derivando para a disputa de muitas profissões que estão em desacordo com sua principal função, que é a maternidade, a mulher já não entrevê no lar o ponto mais alto de sua missão.

Ela passou a disputar com o homem o lugar deste em quase todas as profissões.

Conseguiu impor-se em igualdade de condições porque a mulher em nada é inferior ao seu companheiro masculino.

Muitas vezes, tem logrado mesmo sobrepujar a este.

Mas qual foi o resultado disto?

Regressando à noite para casa, o homem que trabalha encontra não a esposa que o acolhe e reconforta das canseiras, obstáculos e asperezas do dia mas, sim, UM COMPANHEIRO CANSADO (o grifo é nosso), em nada disposto a integrar-se no papel de esposa e rainha do lar.

Então, o esposo, dependendo de suas inclinações ou receptividades, pode passar horas e horas bebericando num bar, ou procurando fora de casa o afeto e acolhimento que não encontra junto à companheira que Deus lhe deu.

Outras vezes, por obediência a princípios morais rígidos, recusa-se a buscar lenitivo na bebida ou em outras mulheres, mesmo porque em relações extraconjugais podem resultar agressões ao marido enganado, depois gastos com advogados, etc.

Vamos dizer que lá pelas tantas ele se depara com outro esposo com idêntico problema dentro do lar e se tornam amigos.

Passam a encontrar-se amiúde, fazem passeios, caminham distâncias, podendo consolidar-se entre os dois um afeto que resulte inclusive em homossexualismo.


Chico ergue a cabeça, encara os presentes e conclui:

— A culpa da situação, no caso, cabe à mulher que trocou a segurança no lar pelo sucesso profissional.

Tangida pelo exemplo de tantas outras que fazem o mesmo, o lar transformou-se para ela em lugar de descanso da luta que mantém lá fora para realizar-se, trocando o principal pelo secundário.

A permissividade e os excessos do sexo prosseguirão por um período de ainda duzentos anos.


Radiografia das doenças mentais


7 — Chico, a que se atribui na atualidade o crescente aumento das doenças mentais?

— Segundo nossos Benfeitores Espirituais, que se manifestam por nosso intermédio, estamos sofrendo na Terra grande conflito em razão de nossa inadaptação à era tecnológica que, nós mesmos, os habitantes do planeta, criamos sob a inspiração da Vida Mais Alta.

Avançando a Ciência a passos largos e estando nosso sentimento na retaguarda do progresso intelectual, somos hoje intimados a trabalho imenso de aprimoramento íntimo para cogitarmos de manejar o progresso tecnológico, com amor e compreensão de nossas responsabilidades e no respeito que devemos uns aos outros.


O doente mental no lar


8 — Qual seria o melhor comportamento da família com um dos seus integrantes que surja em desequilíbrio mental?

— Naturalmente, quando temos conosco no recinto doméstico alguém portando desequilíbrio mental, somos devedores a esse alguém do máximo de carinho na obra de assistência familiar.

Tanto quanto possível é importante conservarmos os nossos companheiros, portadores de doença mental, no campo da família, evitando a ausência deles, de vez que na base do tratamento das doenças mentais está o amor.

O amor que estabelece prodígios na vida de cada um de nós.


Revisão da rotulagem das doenças mentais


9 — Os Benfeitores Espirituais consideram plenamente aceitável o tratamento dispensado pela Psiquiatria aos doentes que a ela recorrem?

— Amigos nossos da Vida Maior expressam-se comumente sobre o assunto e asseveram que a Psiquiatria, tanto quanto a Psicologia e a Análise, são caminhos da Ciência que estão sendo proporcionados a nós outros na humanidade para a libertação dos desequilíbrios mentais, tanto quanto possível.

Afirmam que o progresso na Psiquiatria, seja a criação de tensiolíticos ou neurolépticos ou para o alívio ou a cura mesmo das enfermidades mentais, é muito grande e devem prestigiar ao máximo os domínios da Psiquiatria, neste sentido, embora reconheçam amigos nossos, dentre os quais destacamos o nosso benfeitor, Dr. Bezerra de Menezes, que é de opinião que a rotulagem das doenças mentais deveria sofrer uma revisão da parte dos senhores médicos e cientistas, neste capítulo da Patologia, porque a maioria dos doentes mentais está lúcida.

O nosso irmão que sofre desequilíbrios mentais comprovados, tem, por vezes, um teor muito grande de lucidez e o conhecimento do diagnóstico com respeito à moléstia de que o doente é portador, pode criar uma fixação mental no próprio enfermo, inibindo o êxito do processo terapêutico. Nesse sentido, o Dr. Bezerra de Menezes acredita que a Ciência, no futuro, com o amparo da administração dispensará aos nossos irmãos que se encontram em segregação carcerária, determinados medicamentos que possam frenar neles os impulsos de agressividade exagerada, melhorando, mas de muito, o problema de contenção em nossos hospitais-do-espírito, que são as prisões.


A esquizofrenia e sua origem espiritual


10 — Por que razão a esquizofrenia surge na idade infantil ou mesmo depois da puberdade, quando a vida da criança começa a desabrochar em plenitude de esperança doméstica?

— A esquizofrenia, na essência, decorre de transformações de caráter negativo no quimismo da vida cerebral.

Esse problema, no entanto, procede da Vida Espiritual.

Antes do processo reencarnatório, transferimos conosco para o Mundo Espiritual o problema da culpa que tenhamos instalado dentro de nós.

Muitas vezes sofremos condições de vida que podemos chamar de vida purgatorial no Outro Mundo, mas somos devolvidos à Terra mesmo, aos núcleos habitacionais em que as nossas culpas foram adquiridas e muitas vezes trazemos conosco o problema da esquizofrenia.

Quando o processo de esquizofrenia está muito violento, ele se manifesta na própria criança, mas, na maioria dos casos, a esquizofrenia aparece depois da puberdade ou logo após a maioridade física da criatura.

É um problema decorrente de nossos débitos no campo espiritual de nossas vidas.


Disritmia cerebral: Mediunidade e obsessão


11 — Existiria, na opinião dos Amigos Espirituais, alguma correlação entre disritmia cerebral e mediunidade?

— Estamos na certeza de que o futuro dirá, do ponto de vista científico, que sim.

A chamada disritmia cerebral, na maioria dos casos, funciona como sendo um implemento de fixação de onda do espírito comunicante.

Muitas vezes também a mesma disritmia cerebral está no processo obsessivo.

São questões que o futuro nos mostrará em sua amplitude, com as chaves necessárias para a solução do problema.


Francisco Cândido Xavier

Emmanuel


(“O Triângulo Espírita” - Uberaba, Minas - 20 de setembro de 1974.)


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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