O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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No mundo de Chico Xavier — Entrevistas — F. C. Xavier/Elias Barbosa


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Chico Xavier e o Dr. José Thomaz da Silva Sobrinho

Ao nosso prezado confrade Dr. José Thomaz da Silva Sobrinho, fervoroso jornalista e companheiro da Seara Espírita, em Uberaba, devemos o conjunto de interessantes perguntas e respostas havidas entre ele e Xavier, constando das impressões e considerações do autor, no trabalho que ele, Dr. José Thomaz, publicou em “A Flama Espírita”, de 8 de julho de 1967, e no diário “Lavoura e Comércio” do mesmo dia, ambos de Uberaba.

Tratando-se de documentário alusivo aos oito lustros da mediunidade de Chico Xavier, com a devida vênia, tomamos a liberdade de incluir o valioso diálogo em nosso despretensioso volume.


ENTREVISTA COM CHICO XAVIER — 40 ANOS DE MEDIUNIDADE

1 — Como você se sente depois de 40 anos de exercício na mediunidade?

— Realmente, não sinto cansaço algum. Quarenta anos de trabalho decorreram com tantas bênçãos de Deus e com o amparo de tão dedicados companheiros de ideal que a data de 8 de julho de 1927 me parece ter sido ontem.


2 — Qual é o Espírito que manteve mais contato com você, através desse tempo?

— De todos os Espíritos benfeitores que, por misericórdia de Jesus, têm mantido contato comigo, aquele que, por mais tempo, tem suportado as minhas imperfeições é o Espírito de Emmanuel, que, desde 1931 orienta, revê, aprova ou desaprova todas as minhas pequenas tarefas medianímicas.


3 — Você acha que um médium se demora tanto tempo em serviço por merecimento?

— Não creio que semelhante trabalho, pelo menos em meu caso, provenha de merecimento. Quanto mais os Instrutores Espirituais escrevem por meu intermédio, mais flagrantemente vejo os meus erros e as minhas deficiências. Na obra de Emmanuel, acredito que posso situar-me, na condição de um animal, que, por injunções de serviço, deve conduzir o seu dono professor a uma festa de cultura. Terminada a festa, continuo a ser o animal que sou, enquanto o educador vai crescendo sempre nos benefícios que faz.


4 — Você notou diferença na prática medianímica quando se transferiu de Pedro Leopoldo para Uberaba?

— Precisamente, não. Uberaba é para mim a continuação, em ponto muito maior, do carinho e do entendimento, do apoio e da cooperação da terra generosa que Deus me concedeu para renascer na presente reencarnação.


5 — Como se processou o início da sua mudança de Pedro Leopoldo para Uberaba?

— Em princípios de 1958, comecei a sofrer de uma labirintite que me incomodava bastante. Muito barulho nos ouvidos, muitas dores de cabeça. Bezerra de Menezes, o nosso benfeitor espiritual, tratou-me com a dedicação que lhe conhecemos e pediu, ainda, em meu caso, a consideração de um especialista, tendo eu recorrido ao Dr. Costa Chiabi, distinto otorrinolaringologista em Belo Horizonte. Dr. Costa Chiabi dispensou-me grande atenção. Mediquei-me. Fui a Angra dos Reis, no Estado do Rio, por duas vezes, buscando mudança de clima e refazimento na praia. Melhorei, mas não positivamente como precisava. Em face das recidivas, nossos Amigos Espirituais aconselharam minha transferência para clima temperado, já que Pedro Leopoldo é bastante fria na maior parte do ano. Chegado o assunto a esse ponto, nosso amigo Waldo Vieira convidou-me a experimentar Uberaba. Vim para cá e, graças a Deus, me refiz.


6 — Como você foi recebido pela comunidade espírita e não espírita de Uberaba?

— Devo dizer que fui recebido, em 1959, pela comunidade uberabense, espírita e não espírita, com a generosidade que caracteriza esta abençoada cidade do Triângulo Mineiro, onde tenho hoje a honra de possuir amigos queridos, não só na família espírita, mas em todas as confissões religiosas e classes sociais. Louvado seja Deus!


7 — Você acha que a prática da mediunidade encontra obstáculos por parte das forças espirituais inferiores que nos cercam?

— Sim. Acredito que isso acontece não só na pratica mediúnica, mas em todo lugar da Terra onde aparece a luz de Nosso Senhor Jesus-Cristo. Basta que o Evangelho surja aqui ou ali, derramando as suas claridades eternas, para que a sombra do mal se destaque em desafio. Compete a nós todos confiar em Jesus e trabalhar sempre em Sua Seara de amor e de redenção.


8 — Você se sente satisfeito no trabalho de cooperação na Comunhão Espírita Cristã?

— Perfeitamente. A Comunhão Espírita Cristã é um lar de corações acolhedores e abnegados, ante os quais tenho assumido os maiores débitos de amizade e gratidão.


9 — Como ficou seu trabalho mediúnico sem a colaboração do médium Waldo Vieira?

— Sem dúvida, a transferência do nosso caro amigo Waldo Vieira para o Rio, nos impôs a falta de um companheiro eficiente e admirável no serviço espiritual, entretanto, mudou-se nosso amigo, atendendo a motivos tão respeitáveis, como seja a necessidade de progresso na Medicina, que estamos tentando honrar-lhe a confiança na ausência, cumprindo os nossos deveres mediúnicos na Comunhão Espírita Cristã e na obra dos livros de nossos Amigos Espirituais, tarefas essas nas quais o nosso caro Waldo foi e com o amparo do Senhor será sempre um padrão de nobreza e trabalho constantes.


10 — Cite um dos fatos que mais o impressionaram em sua vida social de Uberaba.

— De todos os gestos de solidariedade cristã a que assistimos diariamente em Uberaba, um deles está para sempre guardado em meu coração. Explicar-me-ei em poucas palavras. Em 1965, uma senhora enferma veio pela manhã ao Ambulatório da Comunhão Espírita Cristã, trazendo a carta de um médico em serviço na zona rural, endereçada a distinto cardiologista da cidade, pedindo-lhe amparo em favor dela. A doente, porém, mal informada, veio às portas de nossa instituição, acreditando-se no endereço seguro. Acontece, no entanto, que atingindo a entrada de nosso templo, foi acometida de súbito mal-estar. O coração pulsava descompassado, a palidez cobria-lhe o rosto. Neste justo momento, o médico da casa saíra a socorrer um doente grave. Procurei reanimar a enferma, uma velhinha simpática, e assim que melhorou, convidei-a a seguir-me até o consultório do cardiologista indicado, compreendendo que o socorro médico era assunto de urgência máxima. Caminhamos, vagarosamente, de nossa casa até a Avenida Belo Horizonte em procura de um telefone, à busca de um táxi, no entanto, chegados que fomos ao asfalto, ela entrou novamente em crise agravada de vômitos. Nisso, estacou perto de nós um carro elegante com duas senhoras primorosamente trajadas. Indagaram de mim o que acontecia e contei o que se passava. Ficaríamos felizes se elas nos mandassem um táxi, entretanto, as duas desceram, oferecendo-se para ajudar-nos. Não consideraram as peças valiosas que lhes forravam o automóvel e nem a roupa de alto preço na qual se vestiam. Carregaram comigo a velhinha, cujo estado físico se fizera então lastimável, e instalaram-na, ao meu lado, na poltrona, como se estivessem tratando de uma parenta querida. Logo após, uma delas acionou o motor e o carro avançou devagar… Paramos em telefone próximo e a companheira daquela que se fizera condutora paciente e amiga, conversou pelo fio com o cardiologista citado que optou pela internação imediata da enferma no Hospital das Clínicas. Em poucos minutos, a doente achara o leito e o repouso de que tanto necessitava. Comovidamente, disse às damas: “Rogo perdão às senhoras pelo incômodo que lhes dei”. Ambas sorriram e uma delas falou com bondade: “Não diga isso. Todos somos irmãos perante Jesus.” Até hoje não sei como se chamam e ignoro a que facção religiosa possam pertencer. Sei apenas que elas foram para nós — para a doente e para mim —, duas emissárias do Evangelho, fazendo-me lembrar o samaritano da parábola. ( † ) E quando, na rua, as vejo de novo, no carro que ficou para mim inesquecível, meu pensamento de respeito e gratidão se volta para essas mensageiras de caridade e de ternura humana, rogando a Deus que as abençoe.


Francisco Cândido Xavier

Emmanuel


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