O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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No mundo de Chico Xavier — Entrevistas — F. C. Xavier/Elias Barbosa


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Chico Xavier e o Professor Wallace Leal V. Rodrigues

Dentre os questionários respondidos por Chico Xavier, não seria lícito esquecer aquele que lhe foi apresentado, com muita inteligência, pelo Professor Wallace Leal V. Rodrigues, emérito educador do quadro de professores da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara, Estado de S. Paulo, publicado pela Revista Internacional de Espiritismo, de Matão, Estado de São Paulo (Ano XLIII, nº 6, julho de 1967), que transcrevemos aqui, incluindo o intróito que reflete a opinião do primoroso educador sobre o médium.


UMA ENTREVISTA ESPECIAL n
FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER — 4O ANOS DE MEDIUNIDADE

Ao completar quatro décadas de mediunidade, Francisco Xavier concede esta entrevista especial à nossa Revista. Em 20 respostas singelas e sinceras, o querido sensitivo confessa-nos suas alegrias, trabalhos e esperanças. Chico psicografou, até hoje, 92 livros, 75 deles sozinho e 17 em parceria com o médico Dr. Waldo Vieira, totalizando 17.119 páginas impressas. Neste cômputo ficam postas de lado mensagens (aos milhares!) em português, inglês, espanhol, grego, árabe e japonês, e, ainda, várias de suas obras traduzidas para o espanhol, esperanto e inglês. Isso quer dizer que temos entre nós, no Brasil, talvez o mais notável caso mediúnico da história das ciências psíquicas. E, embora célebre mundialmente, Francisco Cândido Xavier realizou o milagre de continuar sendo, hoje, o que era há 40 anos: a mesma alma simples e boa, desataviada e serena que, defendendo a mediunidade como a Fonte de Jacó do Espiritismo, da qual é retirada a água que dessedenta para sempre, proclama no Evangelho o grande padrão vivencial para si e para todos os seus irmãos de humanidade.

Neste ensejo abraçamos o querido irmão e companheiro, por cujas mãos nosso inesquecível fundador, Cairbar Schutel, tantas vezes tem feito sentir sua permanente atuação, e rogamos a Jesus o envolva em suas bênçãos para que chegue à vitória final, em anos longos de alegria e paz, enriquecidos pelo donativo de sua sublime missão, em favor da família humana, hoje e amanhã.


1 — Chico, como foi, em 1927, que se iniciou o fenômeno mediúnico com você?

— Achava-me na reunião pública do “Centro Espírita Luiz Gonzaga”, na noite de 8 de julho de 1927, em Pedro Leopoldo, quando a médium Dona Carmen Pena Perácio avisou que um Espírito amigo me recomendava tomar o lápis junto ao papel que se achava sobre a mesa, a fim de tentar a psicografia por meu intermédio. Obedeci ao conselho recebido e, de imediato, um amigo espiritual escreveu dezessete páginas, usando a minha mão, com grande surpresa de minha parte, conquanto registrasse fenômenos mediúnicos em minha experiência pessoal desde a infância.


2 — Pode nos descrever sua emoção diante do “Parnaso” publicado?

— Muito grande foi a minha alegria ao ver publicado o primeiro livro de nossos Amigos Espirituais, o que ocorreu em 1932.


3 — Qual foi o segundo livro publicado, “Cartas de Uma Morta”?

— Sim.


4 — Pode dizer algo do seu encontro com Emmanuel?

— Preliminarmente devo afirmar que, a meu ver, tive três períodos distintos em minha vida mediúnica. O primeiro, de completa incompreensão para mim, é aquele, dos cinco anos de idade, quando via minha mãe desencarnada, a proteger-me, até os dezessete anos, época em que me via sob a influência de entidades felizes e infelizes, até que a Doutrina Espírita, por misericórdia do Senhor, penetrou nossa casa, em maio de 1927; o segundo período foi, sem dúvida, de aprendizagem e ensaios, de 1927 a 1931, no qual psicografei centenas de mensagens que os Benfeitores Espirituais, mais tarde, determinaram fossem inutilizadas porque, na opinião deles, essas mensagens eram esboços e exercícios de entidades diversas que, caridosamente, me adestravam para as tarefas em perspectiva; o terceiro período começou com a presença de nosso abnegado Emmanuel, que, em 1931, assumiu o encargo de orientar todas as atividades mediúnicas, em que me encontro de 1931 até agora. Quero admitir que, desse tempo, até hoje, vivo num período de mediunidade dirigida. Emmanuel somente apareceu em minha experiência mediúnica, em 1931, quando atingi a maioridade física.


5 — Qual foi a sua maior alegria em sua vida mediúnica?

— Por acréscimo de misericórdia do Alto, tenho tido muitas alegrias em minha vida mediúnica. Não posso, no entanto, esquecer que uma das maiores, se verificou no término da psicografia do livro “Paulo e Estêvão”, de Emmanuel, em julho de 1941, quando os benfeitores desencarnados me permitiram contemplar quadros do Mundo Espiritual que ficaram para mim inesquecíveis. Outra grande emoção que experimentei foi a ida, em Espírito, em companhia de Emmanuel e André Luiz até a região suburbana de “Nosso Lar”, em agosto de 1943, acontecimento esse que se deu, não por merecimento de minha parte, mas para que, em minha ignorância, eu não entravasse o trabalho de André Luiz, por meu intermédio, de vez que eu estava sentindo muita perplexidade, no início da psicografia do primeiro livro dele, através de minhas pobres faculdades.


6  — E sua maior tristeza?

— As minhas tristezas são aquelas que assinalam a existência de qualquer criatura terrestre, principalmente as separações pela desencarnação dos entes queridos e as incompreensões de que todos nós partilhamos sobre a Terra. Devo, porém, acrescentar que o amparo dos Bons Espíritos tem sido sempre tão grande em meu caminho, que a falar verdade, nunca sofri uma tristeza que pudesse admitir fosse maior que a dos outros. Isso porque, quando chega o momento das provações que mereço, para resgate de minhas existências do passado ou para correção das minhas faltas do presente, os Amigos Espirituais me aconselham a olhar para a retaguarda e sinto acanhamento de achar que estou sofrendo, quando vejo tantos irmãos em dificuldades muito maiores do que as minhas.


7 — Qual seria sua disposição de espírito se tivesse de começar tudo de novo?

— Se tiver de reencarnar-me, para atender a deveres mediúnicos, rogo ao Senhor para que eu possa tudo recomeçar com obstáculos iguais aos da presente reencarnação, porque, na esfera das imperfeições que ainda carrego, creio que não seja fácil ter vantagens na Terra e obedecer ao Mundo Espiritual, ao mesmo tempo. As lutas e conflitos que tenho experimentado provam para mim próprio que os livros mediúnicos produzidos, por meu intermédio, pertencem aos Benfeitores Espirituais que os escrevem ou ditam e não a mim.


8 — Até hoje quantos livros você psicografou? Num total de quantos mil volumes? De todos eles qual o que guarda sua predileção pessoal?

— Ao todo, 92 volumes, dos quais 75 exclusivamente por meu intermédio e 17 de parceria com o nosso amigo Waldo Vieira.


9 — Como você gostaria de ver o ocaso de seus dias?

— Se Jesus me permitir essa felicidade, gostaria de terminar os meus dias na atual existência, trabalhando com os Amigos Espirituais, no desenvolvimento do livro mediúnico.


10 — Como você define a mediunidade psicográfica?

— Tecnicamente, não sei definir. Sei apenas que os Espíritos Amigos tomam meu braço e escrevem o que desejam e, de 1931 para cá, sempre sob a supervisão de Emmanuel. Certo dia, há muitos anos, eu quis estudar o fenômeno da psicografia em mim mesmo e, no meu entusiasmo pelo assunto, perguntei a Emmanuel, o que pensava ele a respeito. Ele me respondeu: “Se a laranjeira quisesse estudar pormenorizadamente o que se passa com ela, na produção das laranjas, com certeza não produziria fruto algum. Não queremos dizer, com isso, que o estudo para assuntos de classificação em mediunidade deva ser desprezado. Desejamos tão só afirmar que assim como as laranjeiras contam com pomicultores e botânicos que as definem, assim também os médiuns contam com autoridades humanas que os analisam pelo tipo de serviço que oferecem. Vamos trabalhar! Para nós, o que interessa agora é trabalhar.”


11 — Conscientemente, como registra o fenômeno da psicografia?

— Quando escrevo psicograficamente, vejo, ouço e sinto o Espírito desencarnado que está trabalhando, por meu braço, e, muitas vezes, registro a presença do comunicante sem tomar qualquer conhecimento da matéria sobre a qual está ele escrevendo.


12 — Como se sente ao ver transcorridos 40 anos de atividade mediúnica?

— Aos 40 anos de mediunidade, reconheço que não tenho trabalhado tanto quanto deveria, ao mesmo tempo que me vejo, cada vez mais longe, do tipo de médium ideal que os Benfeitores Espirituais desejariam que eu fosse.


13 — Nesses 40 anos, qual a modificação mais substancial que assistiu no Espiritismo no Brasil?

— Em minha reduzida capacidade de observação, creio que a vivência da Doutrina Espírita, principalmente no testemunho das obras assistenciais, é o traço mais belo da obra dos nossos dedicados irmãos do Brasil, nos últimos trinta anos.


14 — Qual foi a experiência mais valiosa que o exercício da mediunidade lhe trouxe?

— O reconhecimento de minha inferioridade e o encontro constante com as minhas imperfeições. Quanto mais os Instrutores Espirituais escrevem, por meu intermédio, mais claramente observo a distância espiritual que me separa deles. Quanto mais corre o tempo sobre o trabalho dos Mentores do Além através de minhas pobres forças, mais me vejo na condição da laranjeira de má qualidade providencialmente cortada para serviços de enxertia. Os frutos no galho são substanciosos e doces porque pertencem à laranjeira nobre que não desdenhou produzir sobre o pé da laranja azeda.


15 — Você se sente fatigado findos estes 40 anos de lutas incessantes?

— Não sinto cansaço algum.


16 — Como foi que você tomou conhecimento da existência de Cairbar Schutel? Ele ainda se encontrava encarnado quando você iniciou seu trabalho mediúnico. Vocês se cartearam?

— Depois da publicação do “Parnaso de Além-Túmulo”, em 1932, um amigo de São Paulo que não cheguei a conhecer, pessoalmente, nesta encarnação, de nome Umberto Brússulo, me enviou alguns números de “O Clarim”. Através de “O Clarim “ passei a admirar profundamente a obra de Cairbar Schutel. Carteamo-nos, algumas vezes, e tive a honra de abraçá-lo, em pessoa, na tarde do 31 de março de 1937, em São Paulo, onde fui, pela primeira vez, participar das atividades da Semana de Espiritismo e Metapsíquica, que se realizava, naquela cidade. Achava-me hospedado na residência do nosso confrade, hoje desencarnado, Dr. João Batista Pereira, à rua Júpiter, no bairro da Aclimação, quando Cairbar, com muita gentileza, apareceu para um abraço. Conversamos, ele, Dr. Batista Pereira e eu sobre nossos ideais doutrinários, notadamente sobre a divulgação do Espiritismo através do rádio, por mais de uma hora. Em seguida, saímos para uma visita ao Dr. Militão Pacheco que se achava retido no lar para tratamento de um braço. Depois dessa visita, despedimo-nos. Lembro-me que Dr. Batista Pereira pediu a ele, Cairbar, velar pela própria saúde, afirmando que o achava fisicamente muito abatido. “Seu” Schutel sorriu e prometeu cuidar-se. Desde então, em corpo físico, não mais o vi.


17 — “Seu” Schutel costuma usar o seu veículo mediúnico. Como você o registra?

— Vejo o nosso amigo Cairbar Schutel, na mesma forma com que se apresentou, em 1937, no encontro pessoal em São Paulo, porém, mais moço, mais sorridente e mais lépido.


18 — Que planos faz para o futuro?

— Se Jesus me permitir, estimaria, de futuro, poder dar mais tempo ao trabalho dos Amigos e Benfeitores da Vida Maior, na formação do livro mediúnico.


19 — Podemos ter a esperança de possuir mais um dos belos romances de Emmanuel?

— Quem sabe? Rogo ao Senhor para que isso aconteça.


20 — Admite você que o Espiritismo pode servir ao bem comum sem vincular-se à religião?

— Não creio. Tenho aprendido com os Mensageiros da Vida Superior que qualquer trabalho de melhoria, burilamento, corrigenda ou elevação da alma, sem apoio religioso, fracassa na certa. Compreendo, pois, que para nós, os cristãos, servir sem Jesus é impossível.


Francisco Cândido Xavier

Emmanuel



N. da R. — Cairbar Schutel, noticiando em “O Clarim” de 10 de Abril de 1937, a “Semana Metapsíquica” realizada em São Paulo, em Março daquele ano, assim se referiu ao médium Francisco Cândido Xavier: …“Após a conferência do Dr. Scholders, o médium Francisco Cândido Xavier transmitiu uma comunicação de seu guia Emmanuel, em inglês e com escrita invertida da direita para a esquerda. Depois disso transmitiu ainda dois sonetos, um de João de Deus e outro de Augusto dos Anjos, e em seguida uma mensagem de Humberto de Campos, verdadeira peça literária.”


[9] Exclusivo para a Revista Internacional de Espiritismo.


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