O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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No mundo de Chico Xavier — Entrevistas — F. C. Xavier/Elias Barbosa


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Chico Xavier em vários temas

Cientes de que entrevistaríamos Chico Xavier sobre vários assuntos, na passagem do quadragésimo aniversário de suas atividades mediúnicas, alguns confrades nos trouxeram pequena lista de perguntas que julgam de interesse para os estudos que realizam, à face da experiência haurida por Xavier, em contato incessante com o abnegado Espírito de Emmanuel. Desse modo; mais uma vez, procurei o médium amigo para um diálogo fraternal, de que resultaram as páginas seguintes, nas quais guardamos absoluto respeito à simplicidade original da conversação havida.


1 — Chico, ainda sobre o princípio de suas atividades mediúnicas, vários amigos desejariam mais amplos detalhes, em torno de suas informações sobre o assunto. Como você recebia a atitude dos companheiros que, por volta de 1928 a 1931, enviaram de Pedro Leopoldo a diversos setores da imprensa, as produções psicografadas que você recebia do Plano Espiritual?

R — Eu não tinha experiência mediúnica suficiente para determinar sobre o assunto e vendo os amigos e irmãos de ideal tão entusiasmados com as páginas saídas de minhas mãos, não via qualquer mal em que eles as publicassem. Assim agia, procedendo também de acordo com as vozes dos amigos espirituais que me diziam não haver qualquer inconveniência nisso, porque me diziam naquele tempo que as páginas em formação eram ensaios psicográficos.


2 — Acredita que os amigos teriam tido o desejo de fazer de você um literato de renome?

R — Talvez. Estimavam-me com um carinho que nunca mereci e chegavam a escrever para diversos jornais, às vezes, em meu próprio nome, solicitando a publicação dessa ou daquela produção que lhes despertasse maior interesse.


3 — Lembra-se das primeiras pessoas a quem tivessem escrito, solicitando as referidas publicações?

R — Sim. Na imprensa espírita recorreram primeiramente ao nosso confrade Ignácio Bittencourt que dirigia o jornal “Aurora”, do Rio, e, na imprensa não espírita, solicitaram a cooperação do nosso amigo José Machado Tosta, que se responsabilizava pela coluna “Vários Cultos”, na Gazeta de Notícias, igualmente do Rio. Ambos esses caros companheiros, Ignácio Bittencourt e José Machado Tosta, se fizeram generosos amigos meus, incentivando-me, em abençoadas cartas, ao trabalho mediúnico que começava.


4 — Admite você que os confrades da primeira hora de sua mediunidade psicográfica poderiam ter transformado você num literato, se você se acreditasse como tal?

R — Creio que não. A tarefa mediúnica principiou para meu entendimento como se eu estivesse saindo, muito pouco a pouco, de uma névoa… À medida que o tempo correu, a minha tela íntima se renovou totalmente e passei a compreender com clareza que as produções literárias não eram minhas e sim dos Amigos Espirituais. Dissipadas todas as minhas dúvidas, desde que o nosso abnegado Emmanuel começou a orientar-me em sentido direto, eu não teria coragem de aparecer, em campo, com mensagens que absolutamente não me pertenciam. E hoje creio que se eu insistisse agindo com mais vaidade do que aquela que possuo, afirmando que as produções eram minhas e não dos Espíritos Benfeitores, eles, nossos Amigos do Alto, teriam meios de me afastar caridosamente da obra deles, situando-me na minha absoluta insignificância, que, graças a Deus, reconheço.


5 — Você se reconhece pessoa inteligente, talvez genial como entendem muitos adversários da Doutrina Espírita, sempre interessados em desacreditar o fenômeno mediúnico?

R — Não. Nunca me senti assim. Basta lembrar que fui aluno repetente do quarto ano primário no Grupo Escolar São José, em Pedro Leopoldo, nos anos de 1922 e 1923.


6 — Mas, você se reconhece atualmente dispondo de mais facilidade para falar ou escrever?

R — Sim, não posso esquecer que debaixo da disciplina de Emmanuel que, por misericórdia de Jesus, me dispensa atenções constantes de um professor (não por mim mas pela obra do Mundo Espiritual), estou numa escola constante, desde 1931, portanto, há trinta e seis anos consecutivos. Algum proveito de tantas bênçãos recebidas devo demonstrar.


7 — É você mesmo quem datilografa as produções psicografadas por suas faculdades?

R — Sim.


8 — Isso decerto lhe dá motivo a muita aprendizagem?

R — Realmente. A mediunidade para mim tem sido quase que um sistema de aulas diárias.


9 — Você, em seus quatro decênios de trabalho medianímico, veio a conhecer muitos médiuns de efeitos físicos? Qual deles mais o impressionou?

R — Sim, alguns. Guardo excelentes lembranças de todos os companheiros da mediunidade de efeitos físicos, mas um deles ficou de maneira especial em minha lembrança, o nosso irmão Francisco Peixoto Lins, mais conhecido pelo nome afetuoso de Peixotinho, desencarnado em 1966. Nas reuniões a que assisti em companhia dele, presenciei não somente admiráveis fenômenos de materialização, mas também muitas curas de doentes através do processo de socorro que os Amigos Espirituais nomeavam como sendo “transfusão de células”.


10 — Qual a opinião de Emmanuel sobre os fenômenos de materialização?

R — Diz nosso benfeitor espiritual que eles são sempre respeitáveis onde quer que apareçam e que não somente servem como elementos de base à convicção na imortalidade da alma, como também e, principalmente nisso, nos trabalhos de auxílio à saúde humana.


11 — Sabendo nós que Emmanuel não permitiu a você o desenvolvimento mais amplo de suas faculdades mediúnicas de efeitos físicos, queria isso dizer que ele, o nosso amigo espiritual, é menos favorável ao serviço de materializações?

R — Não. O raciocínio não é claramente este. Emmanuel considerou quando eu me achava no desenvolvimento da mediunidade de efeitos físicos que não convinha o meu afastamento, mesmo parcial da psicografia, e que, por isso, aconselhava o encerramento de minha experiência nesse sentido. Acrescentou, ainda, que o serviço do livro mediúnico, em que me encontro, é também tarefa de materialização — a materialização dos pensamentos do Mundo Espiritual.


12 — Você, pessoalmente, que opinião formula? Qual o serviço medianímico que lhe proporciona mais alegria?

R — Para mim, pessoalmente, o trabalho psicográfico é motivo de mais contentamento, porque convivo na intimidade com os Espíritos amigos que se servem de minha mão para escrever. Enquanto trabalham por meu intermédio, fazem-me viver num mundo à parte, onde recebo ensinamentos constantes.


13  — Na sua experiência mediúnica, você acredita que nós, os espíritas, podemos provocar os fenômenos de materialização?

R — Provocar, não, mas devemos estudá-los onde surjam e, se possível, orientá-los nos serviços de cura, em favor dos nossos irmãos doentes, porque, assim, eles auxiliarão, de uma só vez, aos enfermos do corpo e aos enfermos do Espírito, que ainda se vejam órfãos de fé na vida além da morte.


14 — Você quer dizer que os Bons Espíritos se empenham em conduzir-nos, tanto quanto possível, para as obras de assistência social?

R — Perfeitamente. Emmanuel, Dr. Bezerra de Menezes, Batuíra, André Luiz e outros instrutores da Espiritualidade nos dizem sempre que o Espiritismo sem trabalho de auxílio aos semelhantes, com base em nossa própria reforma íntima, deixa de ser o Cristianismo redivivo que é e deve ser, para ficar isolado em teorias e afirmações estanques.


15 — E quanto ao estudo? que dizem nossos Benfeitores Espirituais?

R — A pergunta é muito própria, porque, concomitantemente com a assistência social, os Benfeitores da vida Maior nos recomendam estudar atenciosamente e sempre, porque sem estudo não saberemos raciocinar e sem raciocinar com segurança não saberemos discernir. Emmanuel reafirma sempre que devemos estudar e servir em qualquer idade ou situação.


16 — Como é que os Bons Espíritos definem a parapsicologia?

R — Por movimento de investigação científica digno de todo o nosso acatamento.


17 — Nossos Benfeitores Espirituais, porém, acreditam que nós, os espíritas, devemos abraçar os estudos parapsicológicos?

R — Emmanuel é de opinião que alguma das autoridades espíritas, principalmente os nossos irmãos que se encontram mais ligados ao campo científico e filosófico, necessitam sem dúvida, cooperar com a parapsicologia, para que haja alguma representação da Doutrina Espírita, junto aos investigadores da imortalidade, entretanto, isso se concebe apenas para que façam colaboração espírita, junto aos movimentos de indagação, porque, de modo geral, nós, os espíritas, somos chamados a responsabilidades já determinadas perante a Vida Superior e, trilhando a estrada do serviço e da realização, do burilamento moral e da fé positiva, não seria justo largar as nossas obrigações para abraçar tarefas diferentes, que são, de fato, muito respeitáveis, mas situadas à margem do caminho claro e definido de quem já encontrou a certeza na própria sobrevivência além da morte.


18 — Que pensa Emmanuel do espírita diante do sincretismo religioso?

R — Nosso amigo espiritual nos aconselha a respeitar crenças, preconceitos, pontos de vista e normas de quaisquer criaturas que não pensem como nós, mas adverte-nos que temos deveres intransferíveis para com a Doutrina Espírita e que precisamos guardar-lhe a limpidez e a simplicidade com dedicação sem intransigência e zelo sem fanatismo. Emmanuel costuma dizer-me sempre que se nós, os espíritas evangélicos, estivermos atentos ao volume enorme das obrigações que carregamos, seja no aprimoramento de nós mesmos; no devotamento ao trabalho que nos é próprio, seja na família ou no grupo social a que pertencemos; no estudo constante; na execução de nossos deveres para com o próximo e no desempenho das funções espíritas nas instituições que frequentamos e que nos beneficiam, não encontraremos tempo, nem disposição para comentar as atividades de outros agrupamentos religiosos. Assevera nosso benfeitor da Vida Maior que já possuímos área suficiente de interesses, aspirações, tarefas, lutas, dificuldades e alegrias para viver, aprendendo a conviver e a servir nos moldes que Jesus nos ensinou.


19 — Cabe-nos, assim, defender a obra de Allan Kardec, em qualquer tempo?

R — Sim. Os Espíritos Amigos nos dizem que nos compete a obrigação de defender os ensinamentos de Allan Kardec, sobretudo, na vivência dessas benditas lições, através de nossas próprias vidas. Compreendendo assim, reconheceremos que é necessário sermos fiéis a Kardec em todas as nossas atividades, mas não podemos esquecer que Allan Kardec nos trouxe a Doutrina Espírita, na condição de Cristianismo Restaurado, em nome de Nosso Senhor Jesus-Cristo, e, por isso mesmo, não seria justo, de nossa parte, repelir os irmãos que desejem estudar Allan Kardec conosco, tão só porque não demonstrem, de imediato, uma visão tão ampla da Missão Kardequiana, como seria de desejar.


20  — Como julga Emmanuel podermos fazer isso?

R — Afirma ele que podemos e devemos ser fiéis a Allan Kardec, com o nosso exemplo e verbo claro, onde estivermos, e que isso não invalida o dever de abençoar ou auxiliar os que não conseguem ver o caminho ou a vida com os nossos olhos. Nesse sentido, respondendo, há tempos, a uma consulta desse teor, nosso amigo espiritual replicou alegando que um médico pode e deve auxiliar ao doente, sem que, para isso, seja obrigado a compartilhar-lhe o leito enfermiço.


21 — Chico, entendemos que o nosso diálogo está longo, mas pode dizer-nos o que pensa Emmanuel quanto ao problema de doenças e obsessões?

R — Muitas vezes, adverte-nos que doenças e obsessões são testes que nos põem à prova a capacidade de resistência moral, ensinando-nos a valorizar a saúde do corpo e o equilíbrio da alma.


22 — Qual a melhor profilaxia contra as obsessões?

R — Nossos Benfeitores Espirituais são unânimes em declarar que o estudo das obras de Allan Kardec para que venhamos a adquirir o conhecimento e a educação de nós mesmos é o passo inicial indispensável, porque precisamos sanar as obsessões que nos flagelem, sem herdar qualquer cativeiro à superstição e ao medo negativo, de que vemos muitos irmãos prejudicados, quando conseguem a suspirada melhoria psíquica em outros setores religiosos. Explicada a necessidade de Allan Kardec para o afastamento do processo obsessivo, temos na profilaxia respectiva, a oração e o serviço ao próximo na base de toda ação restaurativa. Quem quiser estudar, orar, cumprir com os próprios deveres e trabalhar em auxílio dos outros, principalmente daqueles que atravessam dificuldades e provações maiores que as nossas, alcança libertação e tranquilidade, com toda certeza, porque os nossos adversários desencarnados são sensíveis às nossas palavras, mas só se transformam para o bem com apoio em nossas próprias ações.


23 — Desejará você contar-nos alguma cousa de sua experiência ao contato de Emmanuel, com respeito à atitude que devemos assumir perante as nossas próprias doenças?

R — Nosso amigo espiritual é de opinião que precisamos guardar calma e paciência perante quaisquer enfermidades de que sejamos acometidos procurando, ao mesmo tempo, atenuá-las ou afastá-las por tratamento adequado. A esse respeito, narrarei um dos primeiros diálogos que tive com ele, Emmanuel, em 1931. Achava-me sob o domínio da doença complexa que trago até hoje em meu olho esquerdo, quando o nosso mentor espiritual me apareceu pela primeira vez. Depois de ouvi-lo em diversas reuniões sobre planos de trabalho que ele nos trazia, certa noite, em dezembro de 1931, roguei a ele orientação para o meu caso. Estava sofrendo muito e queria curar-me.

— Tenha serenidade — falou ele, bondosamente, — você está sob o cuidado de benfeitores espirituais dedicados e sob a assistência de médicos atenciosos e amigos.

— Então, devo prosseguir sob a orientação da medicina? perguntei.

— Sim, como não? A medicina está no mundo em nome da Divina Providência.

— Quer dizer que preciso tratar-me?

— Com o máximo cuidado. O corpo é comparável à enxada e o Espírito reencarnado lembra o lavrador. Todo zelo do lavrador é necessário para conservar a enxada em condições de trabalhar com acerto e segurança.

— O senhor quer dizer que embora eu seja médium e veja o senhor ao meu lado com tanta bondade e cultura, não posso esperar a intervenção do Plano Espiritual, em meu benefício para curar-me?

— Por que você receberia privilégios por ser médium? A intervenção do Plano Espiritual está operando, em seu favor, sustentando as suas forças, através do magnetismo curativo, e secundando a ação dos oculistas que nos amparam. A condição de médium não exonera você da necessidade de lutar e sofrer, em seu próprio benefício, como acontece às outras criaturas que estão no Plano Físico.

— O senhor tem dito que pretende escrever por meu intermédio e que, se Deus permitir, fará livros, mas o senhor acredita que posso desempenhar a tarefa mediúnica, assim doente dos olhos como estou?

— Sem dúvida nenhuma. Se formos esperar pela saúde perfeita a fim de trabalhar, quando aprenderemos a cumprir os nossos deveres? Se você estivesse na Terra com todas as facilidades em mão, no estado de evolução deficitária em que ainda nos achamos, talvez que as dificuldades no serviço espiritual para você fossem muito maiores.

— Então, como é que o senhor considera a doença do olhos, em meu caso, quando tanto preciso de me esforçar para a tarefa em início?

— Observamos a sua enfermidade como sendo um abençoado apoio que o Senhor concedeu caridosamente a você para que venhamos a caminhar com menos riscos e perigos, em sua atual romagem na Terra. Confie no Senhor, pois sua doença é arrimo que ele enviou em seu auxílio…

Ao ouvir estas últimas palavras, indaguei alegremente:

— Então Jesus vai curar-me?

Emmanuel me fitou com bondade e mandou que eu abrisse “O Evangelho segundo o Espiritismo” no capitulo VI, intitulado “O Cristo Consolador” e recomendou que eu começasse a leitura do texto. Então comecei a ler em voz alta, as palavras do Cristo: “Vinde a mim todos vós que estais aflitos e sobrecarregados, que eu vos aliviarei…” Quando atingi a palavra “aliviarei”, nosso Amigo Espiritual sustou a leitura e disse-me: Compreendeu bem? Jesus não nos promete curar-nos, isto é, retirar-nos da bênção das obrigações que nos cabe cumprir, perante as leis de Deus, mas sim promete aliviar-nos e auxiliar-nos. Confiemos no Mestre Divino e trabalhemos.”

Entendi a lição que me era dada e resignei-me.

Hoje, depois de transcorridos trinta e seis anos sobre este diálogo, agradeço ao Senhor a bendita doença que carrego nos olhos, sempre tratada por médicos amigos e por amigos espirituais, pois, ela tem sido em todo esse tempo um agente providencial, induzindo-me à reflexão e ensinando-me a respeitar o sofrimento dos outros.


Francisco Cândido Xavier

Emmanuel


A nossa conversação se mantinha em elevado nível de interesse e entusiasmo, entretanto, o horário tanto chamava Chico Xavier quanto eu mesmo a deveres inadiáveis e, à vista disto, resolvemos terminar.


Elias Barbosa


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