1 No cômputo das transformações por que passa o mundo, não são poucos os núcleos de organização espiritual que se instalam na Terra com vistas ao porvir da Humanidade. Se por toda a parte observamos o esboroamento das obras humanas, a fim de que se renove o caminho da civilização, contemplamos também as atividades do exército de operários das edificações do futuro, como se fossem construtores de um mundo novo, dispersos nas estradas terrestres, mas procurando ajustar as suas diretrizes.
2 São esses, sim, os artífices do progresso divino. Empunham o alvião formidável da fé, confiando, acima de tudo, n’Aquele que é a luz dos nossos destinos. No acervo desse aparelhamento de energias renovadoras, objetivando o vindouro milênio, quero referir-me ao Esperanto, abraçando fraternalmente o nosso irmão n que se constituiu pregoeiro sincero da sua causa, obedecendo ao determinismo divino das tarefas recebidas nas luzes do Plano espiritual.
3 Jesus afirmava não ter vindo ao planeta para destruir a Lei, como o Espiritismo, na sua feição de Consolador, não surgiu para eliminar as religiões existentes. O Mestre vinha cumprir os princípios da Lei, como a doutrina consoladora vem para a restauração da Verdade, reconduzindo a esperança aos corações, nesta hora torva do mundo, em que todos os valores morais do orbe periclitam nos seus fundamentos, assaltados pelas doutrinas da violência, que embriagaram o cérebro da civilização atual, qual veneno amargo a destruir as energias de um corpo envelhecido.
4 Também o Esperanto, amigos, não vem destruir as línguas utilizadas no mundo, para o intercambio aos pensamentos. A sua missão é superior, é a da união e da fraternidade rumo à unidade universalista. Seus princípios são os da concórdia e seus apóstolos são igualmente companheiros de quantos se sacrificaram pelo ideal divino da solidariedade humana, nessas ou naquelas circunstâncias.
5 A língua auxiliar é um dos mais fortes brados pela fraternidade, que ainda se ouve nesse planeta empobrecido de valores espirituais, neste instante de isolacionismo, de autarquia, de egoísmo coletivo e de nacionalismo adulterado.
6 O exemplo da Europa moderna nos faculta uma ideia dessa penosa situação. Todos os povos têm seus advogados entusiastas que, com orações ardorosas, justificam esta ou aquela medida dos seus governos. 7 As nações são grandes tribunas, onde cada um fala de si mesmo, humilhando as conquistas do irmão. Cada uma aplaude todo crime político, desde que seja praticado a dentro de suas fronteiras. 8 Entretanto, a grande Europa, essa entidade maternal e sublime, que cooperou para o aperfeiçoamento da Humanidade, que instruiu e educou, elevando o espírito do mundo, essa não tem advogados, não dispõe de uma voz que externe os gemidos de seu coração dilacerado, porque as fronteiras lhe dividiram todos os filhos, estabelecendo separações de areia e aço, transformando-a num deserto triste de corações, onde não existe a fonte de amor para reconfortar as almas.
9 Sim, nesta hora, o Esperanto é uma força que atua para a união e a harmonia, com o facilitar que se estabeleça a permuta dos valores universais do pensamento, em forma universalista. Sonho? Propaganda só de palavras? Novo movimento para criar um interesse econômico? 10 Todas essas suposições poderão ser formuladas pelos espíritos desprevenidos; mas, somente pelos desprevenidos, que aguardam a adesão geral, para comodamente expressarem suas preferências. Os que, porém, buscam a luz da sinceridade para o exame de todos os assuntos saberão encontrar, no movimento esperantista, essa claridade reveladora que, em realizações sagradas, desde agora, esclarecerá, mais tarde, as ideias do mundo, fazendo ressaltar a nobreza de seus princípios, orientados por aquela fraternidade que nasce do pensamento divino de Jesus para todas as obras da evolução humana.
11 Sim, o Esperanto é lição de fraternidade. Aprendamo-la para sondar, na Terra, o pensamento daqueles que sofrem e trabalham noutros campos. Com muita propriedade digo: “aprendamo-la”, porque somos também companheiros vossos que, havendo conquistado a expressão universal do pensamento, vos desejamos o mesmo bem espiritual, de modo a organizarmos, na Terra, os melhores movimentos de unificação.
12 Deus é venerado pelos homens através de numerosas línguas, de que se servem as seitas e as religiões, todas tendendo para o maravilhoso plano da unidade essencial. Copiemos esse esforço sábio da natureza divina e marcharemos para a síntese da expressão, mau grado à diversidade dos processos com que exprimir os pensamentos.
13 Todo esse esforço é de fraternidade legítima e, rogando a Jesus vos abençoe os trabalhos e as esperanças do nosso irmão presente, que lhe santifique os esforços de seus companheiros na tarefa que lhes foi deferida pelas forças espirituais, deixo-vos a todos os meus votos de paz, aguardando para todos nós, discípulos humildes do Cristo, a bênção reconfortante do seu amor.
Emmanuel
(Recebida pelo médium Francisco C. Xavier em 19 de janeiro de 1940, em Pedro Leopoldo, MG)
[1] Refere-se ao prof. Ismael Gomes Braga. NOTA: A partir do final desse parágrafo a mensagem sofreu cortes pelos organizadores do livro impresso, que fizeram a seguinte observação: “A fim de não aumentarmos muito as dimensões deste volume, somos forçados em alguns lugares a dar somente os pontos essenciais da mensagem. — A Editora”. Completamo-la, extraindo-a na íntegra da edição nº 309 d’O Espírita Mineiro, órgão da União Espírita Mineira, Belo Horizonte, MG, Ano 101, maio/junho 2009.