J. Herculano Pires
Ser fiel à Verdade, saber respeitá-la e fazer-se humilde perante ela são as três pedras de tropeço do homem na Terra. Podemos conhecer a Verdade e proclamá-la, procurar vivê-la e comunicá-la aos outros, mas ter a coragem de sustentá-la nos momentos de crise é quase um privilégio no mundo das vaidades e mentiras terrenas. Por isso os grandes Mestres têm sempre de provar a taça de fel do abandono, como Jesus no Horto, enfrentando sozinho a vigília da traição, ou no Calvário, suportando no abandono a crucificação.
Quase dois milênios passados, um dos mais lúcidos discípulos do Mestre, no dizer de Emmanuel, suportaria em Paris a solidão dos que amam a Verdade e a ela se consagram. A vida de Allan Kardec é o espetáculo da solidão do homem que toca a fímbria da Verdade e tem de suportar sozinho as consequências da sua audácia. Quando a estudamos espanta-nos a terrível solidão em que viveu e lutou, compreendendo só ele, inteiramente só, a grandeza da obra que realizava. Teve dezenas de companheiros, centenas de colaboradores, milhares de adeptos. Mas só ele compreendia a Doutrina que anunciava ao mundo.
À beira da sua tumba, no discurso de exaltação que lhe fazia, Camille Flamarion, discípulo dos mais ardorosos, acusou-o de ter feito “obra um tanto pessoal”, revelando não haver compreendido o seu sacrifício e a significação da sua obra. Após a sua morte, os que deviam dar continuidade ao seu trabalho se entregaram a disputas bizantinas em torno de questões acessórias. E logo mais surgiram os críticos dos seus ensinos, procurando adaptá-los às conveniências circunstanciais.
Em 1925, quando se reuniu em Paris o Congresso Espiritualista Internacional, o próprio Kardec, através de comunicações mediúnicas, teve de forçar Léon Denis, já velho e cego, a sair de Tours, na província, para defender o Espiritismo dos enxertos que lhe pretendiam fazer os representantes de várias tendências, com a aceitação ingênua de ilustres, mas desprevenidos, militantes espíritas. Todos eles professavam inabalável fidelidade à Doutrina, mas concordavam com a tese de que esta devia avançar dos limites kardecianos. Denis foi o baluarte da resistência e venceu a batalha, mas sozinho, também ele solitário.
Transcorridos 75 anos, teríamos de assistir em São Paulo, a praça forte da Verdade Espírita no Brasil e no Mundo, a uma nova e espantosa demonstração da solidão de Kardec. Adeptos da Doutrina, que através de muitos anos pareciam-lhe extremamente fiéis, repetiram o episódio evangélico das três negações de Pedro, enquanto a obra de Kardec — o Evangelho Ressuscitado em espírito e verdade — era crucificado no calvário da incompreensão humana. Antes do cantar do galo, no intermúndio frio e nevoento da madrugada, entre a noite agonizante e o dia que lutava para nascer, os discípulos que se diziam fiéis até à morte negaram e sustentaram a sua negação, ao som metálico das moedas de Judas. Se não fosse a reação de um pequeno grupo, também solitário e sem forças, pouco a pouco apoiado por outros, a obra de Kardec estaria hoje inteiramente deformada em traduções oficiais da Federação Espírita do Estado de São Paulo.
Nada menos de trinta mil exemplares de O Evangelho Segundo o Espiritismo foram postos em circulação no meio espírita brasileiro, numa pseudo-tradução em que se pretendia corrigir expressões da redação original de Kardec, sem o menor respeito pela cultura e o rigor metodológico do Mestre. Foram inúteis os apelos — em documentos pessoais, cheios de explicações minuciosas, dirigidos aos responsáveis pela instituição para que essa edição fraudulenta não fosse posta em circulação. As moedas de Judas soaram mais alto. A instituição preferiu a traição à Doutrina ao prejuízo monetário que teria de sofrer para manter-se fiel à Verdade. E mais tarde, perante o Congresso Espírita Estadual, que felizmente condenou por unanimidade a adulteração, o presidente da referida instituição vangloriou-se de haver sido esgotada a edição. E o responsável direto pela tradução, em carta dirigida à Mesa, acusou o médium Francisco Candido Xavier de corresponsável pela adulteração, colocando-o mesmo na posição de autor intelectual do processo.
Explica-se a rejeição do Congresso pela veemência da repercussão dos protestos contra a fraude, que já então ecoavam por todo o Brasil e até mesmo no Exterior. Acusaram-nos de violência, de falta de tolerância e de espírito de fraternidade, de provocar um escândalo pernicioso ao bom nome do movimento espírita, mas esqueceram-se da indignação que sempre, em todos os tempos, os crimes contra a Verdade desencadearam no mundo. Só os espíritos apáticos, indiferentes ou acomodatícios, podem conter o seu ímpeto ante crimes vandálicos dessa espécie. Dóceis criaturas lembraram que podíamos, através de entendimentos prévios e cordiais, impedir a adulteração. Não sabiam, por certo, que o crime havia sido planejado e praticado entre quatro paredes, de maneira que nós, os que o denunciamos, só pudemos fazê-lo quando ele já estava consumado, com a edição adulterada exposta à venda nas livrarias e grande parte já vendida antecipadamente. Só nos restava a denúncia pública e veemente, no cumprimento do dever de advertir o público, livrando os ingênuos do engodo planejado.
Já decorreu mais de um ano dessa ocorrência desastrosa e ainda não é possível avaliar-se o prejuízo causado no meio espírita pela circulação desses trinta mil volumes adulterados da obra básica da Religião Espírita, num país em que o Espiritismo tomou sobretudo uma feição religiosa, O silêncio absoluto da maioria da imprensa espírita e particularmente dos chamados líderes espíritas, em todo o Brasil, provou de sobejo o desconhecimento generalizado da Doutrina Espírita pelas pseudo-corifeus do Espiritismo em nossa terra. Cansamos de receber apelos de tolerância, de fraternidade, de caridade cristã, como se acaso fôssemos os promotores do escândalo, os responsáveis pela situação desastrosa criada no meio doutrinário. A falta de compreensão do valor, da significação, da importância cultural e histórica da obra de Kardec transparecia em todas essas solicitações angustiadas de candidatos à angelitude precoce.
Chegou o momento em que o médium Chico Xavier, apresentado pelos adulteradores como o Pedro arrependido, viu-se obrigado a romper o seu silêncio para declarar, alto e bom som, que não participara do conluio e estava decisivamente contra a deturpação dos textos básicos da Doutrina. Essa atitude de Chico Xavier lavou as “Estrebarias de Álgias”, mas até hoje existem criaturas angélicas que não acreditam na sua posição decisiva. Daí a iniciativa dele, dele mesmo, Chico Xavier, como se constata de maneira inegável neste volume, de solicitar-nos a publicação de um livro em que os fatos ficassem bem definidos.
O livro aqui está, como salvaguarda do futuro, segundo Chico deseja. Os leitores verão que a posição do médium contrasta com a nossa. Chico se pronuncia como intérprete dos Espíritos. Nós falamos por nós, como criaturas humanas indignadas ante a falta de respeito pela obra de Kardec, ante o atrevimento inconcebível dos que aceitaram os alvitres das trevas para corrigir de maneira bastarda os textos puros do Mestre. Não podemos admitir candidamente que os dirigentes de uma instituição até então respeitável, não obstante os seus deslizes doutrinários, tenham sido os promotores desse atentado à Doutrina. O dever impostergável de todos eles, consignado nos próprios estatutos da entidade, é o de propagar a Doutrina em sua pureza e defende-la. Não sabemos o que ainda fazem, depois dessa queda injustificável, no desempenho dos cargos em que permanecem impassíveis, como se nada tivesse acontecido.
Chico Xavier não diria isso, porque os Espíritos não interferem nas questões de nossa responsabilidade humana, e Chico é um instrumento deles na Terra. Mas nós dizemos, não podemos calar, temos o dever de zelar pela dignidade do movimento doutrinária. Se não mantivermos a ética espírita acima da ética mundana, mas, pelo contrário, a colocarmos abaixo, a pretexto de que no Espiritismo o princípio de fraternidade cobre todos os aleijões, estaremos reduzindo a Doutrina à condição amoral de uma cobertura para a irresponsabilidade. Os princípios de liberdade, igualdade e Fraternidade do Espiritismo resultam, como Kardec acentuou, no senso da responsabilidade individual e de grupo, ambos intransferíveis. Aqueles que falharam nos deveres de que foram investidos, a ponto de conspurcarem as obras fundamentais, os alicerces conceptuais da ética espírita, só têm um caminho a seguir: a renúncia aos seus cargos, para que outros mais capazes possam refazer os erros por eles praticados. E, se não entenderem o seu dever nesse sentido, devem ser advertidos pela corporação, sob pena da desmoralização desta.
Sem a observância ativa e vigilante dos princípios éticos que o informam, nenhum movimento cultural pode subsistir, pois estará minado em suas bases pela irresponsabilidade dos adeptos. O que se evidenciou, no caso da adulteração, desta vez de maneira ameaçadora e até mesmo arrasadora, foi o estado de alienação em que caiu a comunidade espírita no tocante às suas responsabilidades doutrinárias. Este não é um problema superficial, que possamos simplesmente ignorar. É um problema da mais alta gravidade para todas as organizações humanas. O que a ética espírita nos ensina é que não devemos confundir o erro com quem o cometeu. Esse é um princípio superior de ética. Perdoamos o autor ou autores do erro, mas não podemos tolerar o erro. Este tem de ser corrigido. E os autores que não revelaram sensibilidade suficiente para se penitenciarem devem ser corrigidos, sob pena de estimularmos o erro e criarmos no meio doutrinário um clima de indignidade geral.
Chico Xavier deu-nos uma prova eloquente desse procedimento. Envolvido indebitamente no caso da adulteração, por haver sugerido uma modificação em tradução que lhe parecia embaraçosa, sentiu-se responsável pelo crime e assumiu de pronta a sua responsabilidade total. Logo mais passado o estado emocional que o confundira, ao tomar consciência da distância que havia entre a sua sugestão e a intenção dos adulteradores, voltou a público para condenar a desfiguração dos textos kardecianos e retificar a sua posição. Jamais ele podia ter pensado em admitir a adulteração, pois com isso negaria todo o seu passado de cerca de meio século de fidelidade e respeito absoluto a Kardec.
O exemplo da desfiguração do Cristianismo é suficiente para nos mostrar os perigos a que fomos expostos. Essa desfiguração foi tão profunda que levou as igrejas a transformarem Jesus em mito e promoverem perseguições e matanças vandálicas em nome do Mestre e de Deus. Não basta esse terrível exemplo histórico, essa catástrofe moral que redundou na expansão do ateísmo e do materialismo na Terra, para advertir os espíritas, que se colocam sob a égide do Espírito da Verdade, quanto ao perigo da frouxidão moral no campo doutrinário? Queremos, por comodismo e em nome de interesses imediatistas, deixar que a irresponsabilidade deturpe também o Cristianismo Redivivo que o Espiritismo nos traz, mergulhando novamente a Terra em milênios de trevas? Se não lutarmos pela intangibilidade e a pureza da Doutrina, o que é que desejamos divulgar, oferecer, ensinar aos outros, pessoalmente e através de nossas instituições? As nossas ideias imprecisas e muitas vezes absurdas, as nossas pretensões orgulhosas, a pseudo-sabedoria da nossa vaidade, as nossas lamentáveis deficiências em todos os sentidos?
Os pretensos reformadores de Kardec nem sequer conhecem a sua obra, não penetraram ainda no conhecimento da harmoniosa estrutura da Doutrina e com isso não revelam a mínima condição cultural, intelectual e espiritual para suas tentativas de superação doutrinária. Só as criaturas simples, ingênuas, ignorantes ou fascinadas pela sua própria vaidade, pela obtusidade da sua autossuficiência, aceitam e propagam as falsas teorias elaboradas por esses adoradores de si mesmos, incapazes de um mínimo de autocrítica. Eles enxameiam no mundo e fazem apóstolos da mentira e da ilusão por toda parte, pois a vaidade humana se alimenta sempre da pretensão descabida de superioridade, num planeta de provas e expiações em que somos criaturas inferiores, extremamente necessitadas dos ensinos que rejeitamos.
É preciso que pelo menos esse proveito nos sobre do episódio da adulteração, em que tantas almas felinas tiraram a pele de ovelha para revelar a sua verdadeira condição. É preciso aprendermos a respeitar a Doutrina Espírita como a dádiva celeste que Jesus nos prometeu e nos enviou na hora precisa, no momento em que o nosso pobre mundo se preparava para um avanço decisivo na superação das suas condições de indigente do Cosmos. Quem tem autoridade para corrigir Jesus, Kardec e o Espírito da Verdade entre nós? Qual o missionário de sabedoria infusa que apareceu na Terra para nos provar que os ensinos do evangelho proclamados pelo Espiritismo devem ser substituídos por fábulas (como diz o Apóstolo Paulo) forjadas por este ou aquele indivíduo enfatuado e pretensioso?
O avanço das Ciências e da Cultura Geral em nosso século nada mais fizeram até agora do que confirmar, sem o saber, os princípios fundamentais da Doutrina Espírita. Onde está o ponto em que a Doutrina foi ultrapassada pelas concepções contemporâneas? Se tivéssemos hoje na Terra um missionário divino capaz de abrir novas perspectivas no campo doutrinário, a primeira coisa que ele faria, e que a legitimaria aos olhos das pessoas de bom senso, era empunhar de novo o chicote do Messias para expulsar os vendilhões do Templo. Não podemos ser tão néscios ao ponto de relegarmos ao arquivo do passado essa Doutrina que antecipou toda a evolução atual do saber humano em nosso tempo, só porque alguns pretenciosos reclamam vaidosamente o direito de deformar a Doutrina em nome do progresso. O progresso não é deformação, mas aprimoramento. E onde está aquela teoria, aquela doutrina, aquela sabedoria que se sobrepõe à que o Espiritismo nos oferece?
Que o episódio negro da adulteração nos sirva para mostrar a que situações ridículas e insustentáveis podem levar-nos a falta de vigilância e humildade, de oração e estudo. Precisamos de estudar Kardec intensamente, de assimilar os ensinos das obras básicas, de mergulhar nas páginas de ouro da “Revista Espírita”, não apenas lendo-as, mas meditando-as, aprofundando-as, redescobrindo nelas todo o tesouro de experiências, exemplos, ensinos e moralidade que Kardec nos deixou. Mas antes de mais nada precisamos de humildade para entrar no Templo da Verdade sem a fátua arrogância de pigmeus que se julgam gigantes. Precisamos de respeito pelo trabalho de um homem que viveu na Terra atento à cultura humana, assenhoreando-se dela para depois se entregar à pesada missão de nos livrar da ignorância vaidosa e das trevas das falsas doutrinas de homens ignorantes e orgulhosos.
Ao estender as mãos para tocar num livro doutrinário devemos perguntar a nós mesmos qual é a nossa intenção, o nosso estado íntimo. Porque, se não fizermos isso com respeito e humildade, poderemos cair na armadilha das adulterações, que está sempre aberta aos nossos pés inseguros. E não tenhamos dúvidas de que a omissão, em assuntos de tão profunda gravidade, que se refere ao nosso próprio destino e ao destino do mundo, é crime de cumplicidade. As pessoas, as instituições, as publicações que se omitiram na hora crucial da adulteração incidiram irremediavelmente na participação do crime, inscreveram seus nomes na lista dos omissos. Quem assume responsabilidades de divulgação e orientação no campo doutrinário não pode esconder a cabeça na areia quando a tempestade ruge. Essa imperdoável covardia é sempre assinalada com a marca indelével de Caim. Em qualquer setor das atividades humanas a fidelidade a normas e princípios é dever indeclinável de todos. Qual o estranho motivo que livraria os espíritas, integrados no mais alto setor dessas atividades, o da propagação e sustentação da Verdade, da pesada responsabilidade que falava Léon Denis? Seriamos tolos e simplórios se pensássemos que no Espiritismo estamos de mãos livres, sem a obrigação explícita e o dever inalienável de respeitá-lo e defendê-lo?
Embora não tenhamos a intenção de ferir ninguém, sabemos que são duras estas explicações que não são nossas, mas do próprio Cristo, quando lembrou aos fariseus que o fato de saber a verdade os condenava, porque em seu lugar ensinavam e sustentavam a mentira. Fomos acusado de intransigente. Pode alguém transigir com o erro sem dele participar? Fomos acusado de ortodoxa. Mas ortodoxia quer dizer “doutrina certa” e a heterodoxia, largamente pregada em nosso meio em nome de uma falsa tolerância quer dizer “mistura de doutrinas. confusão de princípios, colcha de retalhos”. Não nos julgamos puros nem santos e muito menos sábios. Todos nós, que nos reunimos para repelir a adulteração, só tivemos em vista a pureza, a santidade e a sabedoria da doutrina que professamos. Somos apenas fiéis, conscientes de nossas responsabilidades doutrinárias e contrários a todas as formas de aviltamento do Espiritismo. E isso porque? Porque a Doutrina Espírita é o Código do Futuro, elaborada para melhorar o homem e o mundo. Não nasceu da cabeça de um homem, de uma corporação científica ou de uma escala filosófica, e muito menos de um colégio de teólogos, mas da realidade natural dos fatos, dos fenômenos rejeitados pelos materialistas mas hoje aceitos e integrados por eles mesmos na realidade científica mais avançada. Não se constitui de preceitos, normas, dogmas, axiomas, mas de princípios ou leis que se impuseram à pesquisa científica mais rigorosa, de laboratório e de campo. Essas pesquisas não são apenas as de Kardec, mas as realizadas por cientistas eminentes nos meios universitários de todo o mundo, em geral iniciadas com o propósito de negar as conclusões de Kardec, mas sempre confirmando-as. Trata-se, pois, de um patrimônio cultural que se formou na sequência do desenvolvimento da cultura, bem enquadrada na História e na Teoria do Conhecimento. Podemos mesmo dizer que as conclusões da Doutrina Espírita não são postulados, mas fatos. São os fatos, sempre à disposição dos que pretenderem revisá-los, ou negá-los ou mesmo contraditá-los, que constituem a base do Espiritismo. Diante de um patrimônio cultural assim sólido e até hoje inabalável em todas as suas dimensões, como podemos admitir que pessoas ou grupos inscientes se atrevam a alterar, modificar, corrigir pretensiosamente aquilo que não estão sequer à altura de bem compreender?
Essa a justificativa legítima da nossa indignação ante o atentado inqualificável da adulteração que se pretendia realizar, abrangendo toda a estrutura doutrinária. Precisávamos não ter convicção, nem certeza do que admitimos, para aceitar de espinha curvada as pretensões alucinadas desta ou daquela instituição doutrinária. Nem Jesus agiu com mansidão ante a petulância dos fariseus vaidosos. Nem Paulo usou de tolerância conivente com os que, já no seu tempo, aviltavam o Cristianismo. Nem Kardec deixou de defender a Doutrina em nome de um falso conceito de fraternidade, e defende-la com firmeza e energia, empregando as palavras devidas. As sensitivas que murcham ao serem tocadas não são flores do jardim espírita. Porque o Espiritismo requer virilidade e franqueza dos seus adeptos. o sim, sim e não, não do Evangelho, para impor-se neste mundo de ambiguidades e comodismos.
Aqui está, pois, o livro que faltava em nossa bibliografia espírita sobre o caso da adulteração. Não é um livro de ódio ou ressentimento, mas de lealdade e amor. O amor não é capa de ilusões, não deve acocar o erro, mas defender e sustentar a Verdade, custe o que custar, para o bem de todos, adversários e companheiros. Amor e Verdade são as duas faces de Deus, que conformam o rosto divino aos olhos dos que sabem e podem encará-lo.