O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Na hora do testemunho — Autores diversos — F. C. Xavier / J. Herculano Pires


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Chico Xavier com Jesus e Kardec

Francisco Cândido Xavier


O Espiritismo com Jesus e Kardec deve estar e estará, sempre, com o auxílio dos Mensageiros do Senhor, muito acima de nós. Assim tenho aprendido de nossa doutrina de luz e amor. Não posso, mas não posso mesmo, considerar-me um médium com qualidades especiais. Preciso, e preciso muito, do amparo de todos os companheiros da nossa causa, principalmente no que se refere aos assuntos de orientação doutrinária, para que as minhas fraquezas de criatura não se imiscuam nas manifestações de bondade dos benfeitores espirituais.


Médium falível, e talvez até mais falível do que os outros de minha singela condição, se estou bem, isso se deve à presença dos benfeitores espirituais em meus passos, e se estou mal, o que acontece muitas vezes, é que estou em mim mesmo e por mim mesmo. Nessa luta prossigo. E, por isso mesmo, necessito do apoio de todos os amigos que amam a nossa doutrina redentora. Continuo, desse modo, a pedir e pedir as preces de todos os irmãos em meu favor, e vou seguindo, na marcha dos dias, confiando nos Mensageiros de Jesus.




O Exemplo Maior


Irmão Saulo


Extraímos os trechos acima de uma carta que Chico Xavier nos enviou, com data de 19 do mês findo. Carta íntima, seguida de outra acompanhando a mensagem para esta seção, que publicaremos no próximo domingo [não encontramos tal publicação]. Os conceitos emitidos pelo médium, com a espontaneidade e a humildade que o caracterizam, são de tal ordem que não nos sentimos no direito de reservá-los apenas para nós e as pessoas de nossa intimidade. Palavras como essas devem ser levadas ao conhecimento de nossos leitores, pois nos dão a imagem exata do médium, de sua posição no momento de crise que estamos atravessando, e oferecem a todos nós o exemplo maior de que carecemos.


O Espiritismo, sendo o Consolador prometido por Jesus, que nos leva a toda a verdade, não pode conciliar-se com as simulações e fantasias das convenções humanas. Temos de aprender a enfrentar a verdade à luz do dia, a mostrar-nos como realmente somos, a não esconder ao público as deficiências naturais da nossa condição humana. Inútil querermos passar por criaturas modelares e infalíveis ou querermos fingir que o movimento doutrinário não tem falhas. Chico sempre nos deu esse exemplo, mas nunca ele se tornou tão necessário e capaz de tocar-nos como agora.


Temos de compreender que o Espiritismo é uma doutrina aberta, sem mistérios reservados a nenhuma categoria de iniciados, sem nada oculto, e que o movimento doutrinário é a própria marcha do homem — em sua expressão individual e coletiva — na busca da verdade sobre a sua própria essência e o seu destino. Todos devem participar dessa marcha, não só os espíritas, como possíveis privilegiados de um deus sectário e caprichoso. Jesus, com o seu sacrifício, não rasgou apenas o véu do Templo de Jerusalém, mas também os véus de Ísis e de todas as confrarias privilegiadas do passado. O Cristianismo implantou na Terra a democracia espiritual, que os homens deformaram com o fermento velho do seu farisaísmo, mas que os Espíritos restabelecem através do Espiritismo.


Os que desejam oferecer ao público uma imagem artificial do movimento espírita, enganam-se a si mesmos, antes de enganar os outros. Os que pretendem apresentar um médium como Chico Xavier, aos olhos do povo, como uma espécie de semideus, perturbam a própria missão do médium, que sempre se esforçou para mostrar-se como um simples homem, sujeito às deficiências humanas. A autenticidade de Chico Xavier e de sua mediunidade ressaltam de suas constantes declarações públicas, sempre marcadas por uma consciência nítida, jamais disfarçada, de sua fragilidade humana.


No fundo, os endeusadores do médium nada mais fazem do que endeusar-se a si mesmos. É a tendência natural da criatura humana de querer engrandecer-se à custa da grandeza alheia: do mestre, do chefe, do sacerdote, do pastor ou do médium. Mas o Espiritismo é contrário a essa tendência, que foi útil e até mesmo necessária no passado, e agora está superada e se transforma num estorvo à evolução humana. A revelação espírita alargou e aprofundou a nossa visão da realidade, mostrou-nos o mundo, a vida e o homem como realmente são, libertou-nos das ilusões mitológicas.


Estamos na era da razão, no limiar da era do espírito. As iniciações ocultas não têm mais nenhum sentido. Os privilégios sacerdotais desaparecem com os privilégios da nobreza política. Avançamos, como anunciou Kardec, para os tempos da aristocracia intelecto-moral, em que os valores individuais não se medem pelos títulos perecíveis, mas pelas aptidões espirituais do desenvolvimento evolutivo. Conhecemos as leis que regem o crescimento moral das criaturas e sabemos que todos, igualitariamente, estamos sujeitos a elas e, como afirmava o Apóstolo Paulo, “somos herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo”. ( † )


É por isso que Chico Xavier, à revelia dos que desejam endeusá-lo, reconhece de público a sua fragilidade humana e não pretende passar por criatura privilegiada. Longe dele essa pretensão orgulhosa. Chico, nosso irmão, nosso companheiro, marcha conosco nas provas do mundo.


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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