Cursou o Colégio São Bento, na cidade de São Paulo. Fez até o segundo ano na Academia Militar (AFA) de Pirassununga e estava prestes a se formar Engenheiro Eletrônico.
Paulinho sonhava com a carreira militar.
Brevetado, conseguiu com os pais a compra de um pequeno avião a complementar sua vida estudantil e preparar-se melhor para os compromissos futuros com a profissão sonhada. Também como rádio amador, pela radiofonia em sua cidade, procurava quando solicitado, objetos e remédios não encontrados em outros Estados.
No morro de Paranaguá Bacacheri em Curitiba, forte nevoeiro atingia a cidade. Paulinho regressava de curta viagem de serviço quando buscava arrecadar, com seu trabalho, algum dinheiro face aos compromissos da compra de seu pequeno avião. Procurava pousar no Campo Militar de Curitiba, quando acidentou-se colidindo com o morro, explodindo em seguida ao choque.
Em longa carta, Paulinho relata de forma segura e esclarecedora a sua queda.
Alivia o coração materno, exterioriza a preocupação com os débitos assumidos pelo pai na compra de seu avião demonstrando, com essa informação, os cuidados que devemos ter para não deixarmos rastros de compromissos.
Ampliada a visão da sua responsabilidade pelo débito assumido, Paulinho preocupa-se muito com a nova situação de sua mãe. Roga a Deus a solidificação do lar que dividiu-se na convivência dos pais queridos. Envolve a mãe em seus pensamentos pedindo que não se isole quando da mudança para um novo recanto, devendo aliar-se sempre aos irmãos de trabalho e fé, tornando mais fácil seu intercâmbio espiritual.
Mensagem: 28 de janeiro de 1981.
Paulo Fernando Furlan:
Nascimento: 20 de abril de 1957.
Desencarnação: 21 de outubro de 1979.
Pais:
Paulino Gothardo Furlan e Wilma F. Valério.
Av. Brigadeiro Luiz Antonio, 2842 — CEP 01402-000 — São Paulo — SP.
Irmã: Eunice Furlan.
Bisavós e avós maternos: Carlos Ferreira Valério.
Anna da Rocha Valério (desencarnado).
Maria Regina Fernandes Valério.
Bisavós paternos:
David Fernandes Tomé e
Aurora de Jesus Fernandes, (desencarnada).
Lar:
LAR DO AMOR CRISTÃO, Entidade Filantrópica. Rua 2 de Julho, 384 — SP.
Ex noiva: Tânia Cristina Sá Dias.
1 Querida mãezinha Wilma, abençoe-me com a sua dedicação de todos os dias.
2 A noite passou porque o sofrimento, a meu ver, sempre uma sombra a toldar-nos os pensamentos. 3 Estou ainda traumatizado pelo impacto da ocorrência que não poderia esperar, mas me reconheço mais calmo a fim de raciocinar com segurança.
4 Havia lutado tanto pela aquisição da máquina. Incentivei tanto a meu pai na compra que, a princípio experimentei pesados conflitos, em me observando despojado do corpo físico.
5 Foi um parafuso em forma de batida na terra, que até hoje não saberia explicar.
6 Demandava eu a cidade em busca de clientes para o meu campo de trabalho, e toda a instrumentação estava legal. Não sei porque motivos, o aparelho começou a falhar de repente, até que mais se assemelhava a um potro desgovernado que a minha inquietação não conseguia manter no equilíbrio necessário.
7 A explosão foi um relâmpago que me apagou de improviso. Detalhes não tenho. Sei, no entanto, que abuso ou imperícia não foram a causa do desastre. Previra tudo o que a minha atenção poderia fazer, a benefício de uma viagem segura.
8 Enfim, querida mãezinha, quando despertei daquele sono compulsório a que me vi subitamente atrelado, vi-me à frente de familiares queridos que me prepararam gradativamente, a fim de receber a verdade.
9 Minhas impressões iniciais foram as do acidentado que agradece a hospitalização de que se vê objeto.
10 Trazia o corpo equimosado, com muitas dores nos olhos, sem recursos para enxergar de modo correto.
Percebia unicamente a presença da luz, mas não identificava contornos de pessoas e coisas.
11 Mas a vovó Anna e a vovó Aurora se incumbiram da tarefa de enfermeiras hábeis e atenciosas, resguardando-me contra choques desnecessários.
12 Tão somente com o passar dos dias é que vim a conhecer a realidade.
13 Eu que me via então em boas condições orgânicas na recuperação precisa, perdera o carro físico no qual me movimentava na Terra, e isso, a princípio, me amargurou o pensamento.
14 Tudo isso, associado ao seu cansaço e à sua angústia, somados às aflições de nossa querida Tânia, me desolava.
15 Confesso-lhe que chorei, partilhando com ambas e com todos os nossos as lágrimas da provação que nos atingira.
16 Eu que havia de certo modo perdido o contato com as orações, voltei a ser o seu menino de outro tempo e, junto das avós que me assistiam, carinhosas e vigilantes, exercitei a confiança em Jesus, como se me dedicasse a um esporte no mundo.
17 A prece foi um bálsamo, cicatrizando-me as feridas da alma, com repercussões benéficas sobre o corpo diferente que passei a envergar…
18 Mãe querida, agradeço a sua abnegação e a sua paciência. Sei quanto se passou depois de meu caminho interrompido pelo desastre…
19 De tudo, o que mais me impressionou foi o afastamento temporário de meu pai, que desejava tanto sustentar ao seu lado!…
20 Conquanto os acontecimentos que nos surpreenderam, peço-lhe confiança e coragem. Ele se viu, quase sem perceber, desencorajado e abatido, com receio do lar que Deus nos concedeu para sermos felizes.
21 E com isso, dá uma suposta impressão de haver deixado a nossa casa, entretanto, mãezinha, aguardemo-lo na volta.
O poder do tempo é indiscutível e temos dele as melhores provas de bondade e compreensão.
22 Que as bênçãos do nosso amor possam acompanhá-lo onde estiver e seja com quem for. Ele merece o nosso carinho e o nosso amor imenso.
23 Sei que a sua sensibilidade de mãe sabe desculpar e esquecer quaisquer espinheiro que lhe atirem na estrada e, assim, venceremos.
24 A hora, mãezinha, é de muita paciência e de muita coragem. Não se sinta sozinha, nem desprezada, porque são muitos os Amigos Espirituais que lhe prestam assistência.
25 Graças a Deus a nossa Tânia harmonizou-se com o problema e peço a Jesus para que ela seja sempre muito feliz.
26 Compreendo que não é fácil desprender-se um coração de outro, mormente quando num deles a afeição é tudo o que se tem para acariciar, como sendo a nossa felicidade maior no mundo.
27 A minha presença se fez frequente de tal modo junto dela, no intuito de consolá-la, que a nossa querida Tânia me supunha no corpo físico e que a notícia do acidente não passava de lastimável engano…
28 Agora, graças a Deus e graças aos seus diálogos com ela, vejo-a refeita e fortalecida, a fim de seguir estrada afora…
29 Querida mãezinha, com as atitudes de meu Pai, a nossa Eunice deixou-se contaminar pelo desespero e, no processo de angústia em que a vemos, busquemos socorrê-la no silêncio.
30 Entendo o que significa essa prova para o seu carinho…
Um filho morto e vivo em suas lembranças e corações queridos aparentemente mortos, mas vivos, a lhe proporem sofrimento e mais sofrimento… Entretanto, o seu querido coração que perdoa sempre as nossas faltas, encontrará energias novas para perdoar-nos a todos pela carência de afeto em que a vejo relegada temporariamente.
31 Creia, querida mamãe, que nada perderemos por esperar, e agradeceremos o dia em que a paz voltará aos corações despreparados para a ausência. 32 Graças a Jesus temo-la num grupo de amigos abençoados que lhe iluminam o tempo com o serviço ao próximo, isso é uma bênção de Deus para que as nossas forças se refaçam.
33 Continue com as crianças de seu habitual convívio de agora e esperemos o tempo. Sempre que possível, para não se sentir sozinha, procure meu avô e a vovó Regina para as nossas conversações amenas e edificantes.
34 Em se mudando para o recanto novo, não se isole dos irmãos de trabalho e fé, porque com semelhante companhia é sempre mais fácil o nosso intercâmbio.
35 Querida mãezinha, quando me recordar, especialmente à noite, não mentalize a minha figura como se me tivesse perdido para a morte, que efetivamente não existe.
36 Recorde-me tranquilo e robusto, buscando melhorar-me, a fim de progredir na vida.
Isso é muito importante para a nossa paz.
37 O meu avô David pede-lhe calma e confiança, e fique na certeza de que a nossa vida sem as atrações da Terra está continuando…
Tudo está seguindo para uma composição melhor de todos os nossos assuntos.
38 Formulo votos a Jesus para que a nossa Tânia se veja plenamente feliz, sem qualquer nuvem nas recordações de nossos projetos, que afinal estavam, corno nós, submetidos a Deus. O tempo, com a proteção do Céu, tudo reajusta para o melhor, e devemos estar confiantes.
39 Quando estiver com o paizinho, diga-lhe que não o esqueço e peço aos Orientadores de Cima auxiliarem a ele nos pagamentos do débito que criei.
40 Com a perda do avião, perdi igualmente os meus recursos, mas chegará o momento em que me será possível resgatar a dívida que ficou sendo minha e não dele.
41 Mamãe querida, estou quanto possível trabalhando ao seu lado, em auxílio das crianças do Lar que nos acolheu. 42 Não podia ser de outra forma, porque a morte inesperada me devolveu à condição do menino de seu colo, necessitado de amor. Roguemos a bênção de Deus para quantos corações nos partilhem a jornada…
43 À nossa querida Taninha, os meus votos de tranquilidade e alegria. 44 Os acontecimentos da vida ou da morte não separam os que se amam realmente, e continuo sendo agora, diante dela, o irmão e o companheiro que lhe deseja todo o bem, na realização de votos benditos, que Deus protegerá na pessoa dela e do companheiro a quem se consagre, com a sinceridade que lhe conhecemos. A conformação dela foi para mim uma bênção.
45 A vovó Regina, à nossa Eunice e a todos os nossos, sem excetuar o papai que sempre nos deu tanto carinho, as minhas lembranças do coração.
Mãezinha, não estranhe as minhas palavras, corte as impressões negativas do momento que lhe afligem o coração, em vista do desespero dele [do papai], com a minha ausência involuntária, e arquivemos na memória somente aquela nossa união do princípio que sofreu agora alguma distorção, e que voltará a ser harmonia e beleza espiritual, no futuro.
46 Estou contente e reconfortado com a possibilidade de escrever ao seu carinho minhas presentes notícias. 47 Estaremos juntos, seja em suas tarefas abençoadas de agora ou seja no recanto de preces e bênçãos que se lhe fará a nova moradia. 48 Perdoe-me, se me dilatei nesta carta do coração. A saudade me obrigou a agir assim com espontaneidade e descontração.
49 Mãezinha querida, eu que recebi todos os valores de que disponho da sua dedicação e do seu carinho, em verdade nada tenho de mim, ainda, para lhe retribuir tanto amor.
50 Entretanto, com as minhas melhores esperanças, guarde na alma sempre querida todo o coração reconhecido do seu filho, sempre o seu
Paulinho
Rubens S. Germinhasi