Chico Xavier
“Em nossa reunião pública, no início das tarefas em pauta, O Evangelho Segundo o Espiritismo, ( † ) no capítulo XX, item 4, nos ofereceu a preleção sobre a “Missão dos Espíritas”. Vários comentaristas expuseram o assunto com muita elevação, salientando os valores e as facilidades da civilização moderna que traçam mais amplos caminhos de evolução para a vida planetária em que nos achamos.
No término dos estudos o nosso caro Emmanuel escreveu os apontamentos que lhe passo às mãos.
É uma página que nos leva a refletir profundamente quanto à necessidade das lições de Jesus em nossas experiências.”
NOTA — Como vemos nessa rápida explicação de Chico Xavier, o tema de estudo fornecido pelo Evangelho, sempre aberto ao acaso, não aparece ligado a conversações anteriores como habitualmente temos observado. É possível que Chico não tenha sido informado a respeito, pois há sempre muitos problemas que lhe tomam a atenção antes do início dos trabalhos. Mas a verdade é que o assunto corresponde a uma das necessidades mais prementes do momento espírita que estamos vivendo, numa fase de transição da vida terrena em que as perturbações psíquicas se alastram de maneira alarmante.
Emmanuel
1 Quem lance na Terra ligeiro olhar para a retaguarda de oito lustros se espantará certamente em verificando o progresso dentro do qual a vida planetária vai marchando aceleradamente, para o futuro melhor.
2 Ainda assim reconhecerá que as exigências de ordem espiritual não se alteraram muito no curso do tempo.
3 O homem de hoje dispõe fartamente da televisão pela qual consegue, se o deseja, contemplar de perto as ocorrências do mundo, no entanto, não possui autoconhecimento bastante para analisar-se de modo construtivo.
4 Inventa computadores que o auxiliam efetuando prodígios de informação e de cálculo, mas ainda, não conhece, nas engrenagens perfeitas em que se expressam, as leis de causa e efeito que lhe presidem a experiência e o destino. Utiliza a energia nuclear, todavia, ignora ainda toda a extensão dos poderes do espírito.
5 Realiza voos espaciais aplicando os princípios da Astronáutica, entretanto, é compelido a receber aulas de relacionamento humano a fim de harmonizar-se com os vizinhos que não lhe adotem o modo de pensar ou de crer.
6 Vacina-se contra a poliomielite, mas não consegue, por enquanto, imunizar-se contra os perigos do ódio e do ressentimento, da discórdia e do desespero.
7 Desfruta os recursos do subsolo, até mesmo do próprio mar, e descobre minas de nitrogênio nos céus que o rodeiam, no entanto, não sabe manejar, senão muito imperfeitamente, os valores da alma.
8 Compreendamos que a Humanidade atual efetua proezas admiráveis em todos os domínios da natureza física, mas é necessário que os nossos corações se adaptem às leis do bem que Jesus nos legou, de modo a irmanar-nos e a respeitar-nos uns aos outros, sem o que o lazer na Terra ser-nos-á fator desencadeante de tédio e delinquência e a grandeza exterior se nos erguerá em soberbo palácio — onde prosseguiremos sofrendo à míngua de amor.
Irmão Saulo
Todos somos naturalmente egocêntricos, pois o egocentrismo é a base da individualidade e consequentemente da personalidade. A pessoa humana é um ego conscientemente definido. E é necessário que seja assim, pois do contrário não seríamos um ser, uma consciência estruturada e capaz de agir. Mas o egoísmo é uma deformação do egocentrismo, uma doença do ego. Essa doença se manifesta por vários sintomas bem conhecidos: a arrogância, a avareza, o comodismo, a ganância e sobretudo a falta de respeito pelos outros.
A facilidade com que interferimos na vida alheia, com que xingamos, insultamos, caluniamos, julgamos os outros — é o maior flagelo que assola o mundo. Essa falta de respeito pelos outros é o fruto espinhento do egoísmo que gera os conflitos no lar, na sociedade, nas nações e na vida internacional.
Os espíritas, incumbidos da missão de restabelecer o Cristianismo na Terra, são os que mais necessitam de compreender esse problema. O primeiro dever dos espíritas, no tocante ao respeito pelo próximo, refere-se à própria doutrina que nos foi dada pelos Espíritos Superiores através do trabalho missionário de Allan Kardec. No entanto, a todo momento vemos espíritas que pretendem, sem o mínimo de conhecimento doutrinário exigível, reformar a doutrina e superar Kardec.
No item 4 do capítulo XX de O Evangelho Segundo o Espiritismo ( † ) temos a bela mensagem de Erasto, discípulo do apóstolo Paulo, intitulada “Missão dos Espíritas” que devia ser lida e comentada constantemente nas reuniões doutrinárias. Erasto nos adverte: ( † ) “Cuidado, que entre os chamados para o Espiritismo muitos se desviaram da senda! Atentai, pois, no vosso caminho — e buscai a verdade!”
Emmanuel, em sua mensagem, nos conclama ao amor e ao respeito mútuos,
segundo “as leis do bem que Jesus nos legou”. Amor e respeito não querem
dizer anulação do discernimento e da personalidade, querem dizer compreensão.
Precisamos amar, compreender e respeitar os outros, mas sempre nos lembrando
do respeito que devemos ao Espírito da Verdade e à doutrina que ele
nos legou. O primeiro sinal de obsessão num espírita, num adepto da
doutrina, é a sua leviandade na aceitação das fábulas que desfiguram
o ensino dos Espíritos do Senhor, a falta de respeito para com o Espírito
da Verdade.