A partida de Álvaro fora um rude golpe para seus pais, Álvaro da Silva Gonçalves e Elza Devecchi Gonçalves.
Família solidamente constituída, três filhos, Álvaro e as irmãs Elza e Denize, “a notícia do acidente que levou de nosso convívio o filho dileto, aos 25 anos”, comentou conosco o Sr. Álvaro, “foi daqueles golpes que se absorvem, mercê da Miseticórdia Divina”.
Além da estrutura familiar muito firme, em verdade, pai e filho eram amigos inseparáveis.
Dois meses após o retorno ao Plano Espiritual, seu pai teve um sonho tão singular em que se encontrou com o filho querido. Foi na noite de 29 de dezembro de 1978, pouco depois de deitar-se.
Com meridiana clareza, o Sr. Álvaro viu o filho no quintal da casa e, surpreso, perguntou:
— Álvaro, você por aqui?
— Sim, pai, estive internado, mas obtive autorização para visitar o lar. E vocês, pai, como estão?
— Como é que poderíamos estar, meu filho…
— Pai, você é mais forte, “pega no pé” da mãe para ela não chorar mais, pois seu desespero está fazendo mal para mim.
Pai e filho conversaram mais alguns minutos, após o que o Sr. Álvaro acordou e relatou o sonho à esposa.
No depoimento que se segue, o Sr. Álvaro nos conta de sua aproximação de Chico Xavier e da expectativa até o recebimento da primeira de uma série de mensagens, uma das quais apresentamos neste livro.
PRIMEIRO CONTATO DOS PAIS COM O ESPIRITISMO
Obrigado Jesus, obrigado Augusto Cezar!
Sim, caro leitor, foi através da leitura das mensagens deste querido jovem que nós chegamos até nosso querido Chico Xavier, como vocês poderão acompanhar, através de nosso depoimento.
Passados alguns dias da desencarnação do querido Álvaro, uma jovem amiga aconselhou-me a leitura do livro Crianças no Além; dirigi-me a uma livraria espírita, onde o senhor que me atendeu aconselhou-me também ler Jovens no Além e Somos seis.
Era um sábado. Comprei os livros, tomei o ônibus até o serviço e, após sentar-me no coletivo, abri Jovens no Além, ao acaso, justamente na página em que começava uma das mensagens do Augusto.
Durante o trajeto, li algumas vezes a mensagem que tanto me sensibilizou; não via o momento de retornar a casa, para mostrar à minha esposa os livros e, de modo especial, as palavras do Augusto Cezar.
Algum tempo depois, partíamos rumo de Uberaba.
Aproximava-se o Natal de 1978 e haviam decorrido quase dois meses do inesperado acidente que nos levou Álvaro.
Chegamos a Uberaba, sem nada conhecer, nem mesmo de que modo chegar até o Chico.
Por agradável coincidência, depois de muita expectativa, foi justamente a genitora de Augusto, D. Yolanda, que também lá se encontrava, e que ficamos conhecendo naqueles momentos, quem se prontificou a apresentar-nos ao querido médium.
A partir desse encontro, aparentemente casual — hoje creio que os Benfeitores Espirituais nos aproximaram — passamos a participar do grupo de trabalho de D. Yolanda e fomos mais frequentemente a Uberaba.
As cartas de Álvaro, então, se sucederam quais tesouros do Alto a enriquecer-nos de paz e alegria.
Chico, de que modo agradecer? Palavras não conseguiriam expressar nosso sentimento de gratidão por você. Deus lhe conserve sempre e sempre a vida tão importante para todos nós, os familiares que pelas suas mãos voltaram a viver.
Mensagem
1 Querida mãezinha Elza e meu querido papai Álvaro, rogo-lhes a bênção para o filho amigo de sempre.
2 Estou na mesma onda de saudade em que se encontram, mas venho pedir-lhes fortaleza. Os dias passam e as lembranças ficam.
Espero, no entanto, que as nossas se façam selecionadas. Conservemos as recordações felizes e as certezas melhores do coração.
3 A vovó Marieta n está comigo e me recomenda estarmos unidos na mesma faixa de esperança.
É preciso sintonizar a estação da alma na emissora da fé viva em Deus.
4 Pai, compreendo. Ausência de pessoas amadas é lesão no espírito. Dura lesão invisível que os exames do mundo não certificam. Ainda assim, atrevo-me a pedir-lhe, extensivamente à mamãe, para ficarmos equilibrados na confiança. Não se descuidem da saúde. 5 A hora mais difícil da criatura na Terra é aquela em que indaga de si própria: “viver para quê?”.
6 Auxiliem-me, sustentando o contato com a gratidão a Deus que nos uniu para sermos felizes. Agradeçamos os dias lindos, as horas de união, as bênçãos inesquecíveis da família, e a tranquilidade que nos alimentava os corações.
7 Penso em tudo e agradeço, incluindo os planos de amor que a nossa querida Fátima, n com tanta grandeza de coração, me inspirava e, de todo esse tecido de lembranças, faço um tapete mágico que me transporta ao futuro, no qual nos veremos de novo juntos.
8 Entretanto, sei que para merecer tanta ventura, precisamos prosseguir amando e servindo, acolhendo os corações aos quais possamos ser úteis e cooperando na felicidade dos outros. Rogo com insistência para que estejamos corajosos e animados na convicção de que Deus jamais nos abandona.
9 Espero que o papai continue em seu necessário tratamento de saúde. O corpo é um instrumento com que se trabalha no Campo Físico. Não nos será lícito largá-lo ao acaso e, sim, atendê-lo em todas as requisições de socorro que nos apresente.
10 Se me ampararem com alegria de viver, sei de mim que estarei mais forte, a fim de apoiá-los, conquanto me reconheça ainda tão frágil. 11 O que peço, no entanto, é muito importante, porque a segurança espiritual na base da fé em Deus é o primeiro medicamento que valoriza qualquer outro.
12 Conosco, veio nesta noite, o nosso amigo Frei Clemente n que promete amparar-nos. Cercados por amigos tão prestimosos, não podemos duvidar de que tudo está bem e de que tudo é o bem a proteger-nos, por ordem dos Céus, muito embora, muitas vezes, na Terra, o bem seja apresentado com o nome de sofrimento.
13 Querida mãezinha Elza e querido papai, reanimem-se e doemos o melhor de nós à vida, para que a vida nos conserve cada vez mais fortalecidos para as tarefas que o Senhor nos chama a desempenhar.
14 Recebam os dois, o abraço envolvente de amor e gratidão do filho e companheiro de sempre,
Álvaro
27/06/1979.
[1] Vovó Marieta — Maria Celeguini Devecchi, desde 1950 no Plano Espiritual.
[2] Fátima Silveira, noiva do Álvaro.
[3] Frei Clemente batizou o Álvaro na Igreja Nossa Senhora da Conceição, bairro do Jaraguá, em São Paulo, nos idos de 1954. Veio a falecer no ano de 1968 em Santo Amaro da Imperatriz, Estado de Santa Catarina. Muito sugestivo o reencontro na Vida Maior de Álvaro com o sacerdote que o batizou.
Caio Ramacciotti