O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Mensagem do pequeno morto — Carlos por Neio Lúcio


17

Consciência

1 Tenho aprendido aqui muitas lições inesperadas. Jamais pensei que uma criança preguiçosa pudesse fazer tanto mal. Desde que reconheci isso, meu irmão, tenho chorado muito.

2 Lembra-se de Bichaninho, o gato de dona Susana, que eu matei a pedradas? Oh!… como me custa contar tudo a você!…

3 Aqui, nas aulas do Parque, à medida que fui recebendo os ensinos do nosso professor de obrigações humanas, fui recordando minha falta mais nitidamente. 4 O conhecimento de nós mesmos diante do Universo e da Vida, ao que me parece, acende uma luz muito forte nas zonas mais íntimas de nosso ser. 5 Com essa claridade misteriosa, minhas recordações dos dias que se foram surgem completas e movimentadas em minha imaginação. É assim que, penetrando o fundo de mim mesmo, revi minha vítima, ouvindo-lhe, de novo, os gemidos angustiosos. 6 Inundado pela luz da verdadeira compreensão, minha visão interior permanecia como que alterada. Comecei a ver Bichaninho, em toda parte. Trazia-o comigo no estudo e no recreio, no serviço e no descanso.

7 Chegou um momento em que não pude mais. Gritei com toda a força. Pedi socorro ao professor e aos colegas. 8 Nosso instrutor falava, justamente nesse instante, sobre o amor e a gratidão que devemos aos animais e, dentro de minha consciência, nesse minuto inesquecível, os olhos aflitos do gatinho pareciam procurar os meus, suplicando piedade.

9 Vencido, ajoelhei-me em pranto, confessei minha falta grave em alta voz e supliquei ao orientador das lições me afastasse daquele quadro terrível. Voltaram-se para mim os companheiros, assustados, quando caí, gritando.

10 O instrutor, todavia, sorriu, benévolo como sempre, aproximou-se, abraçando-me paternalmente, e disse:

— Já sei o que lhe ocorre, meu filho! Tenha calma e paciência. Você está melhorando, porque já descobre as próprias faltas por si mesmo.

11 Reparei que ele se achava igualmente comovido. Mostrava os olhos rasos d’água.

12 Depois de longa pausa, afagou-me a cabeça e explicou:

— Porque você matou esse gato trabalhador e inocente, sem necessidade, a imagem da vítima está profundamente associada às suas lembranças.

13 Compreendendo que o professor enxergava quanto se achava oculto em minhas recordações, abracei-me a ele e supliquei:

— Meu protetor, meu amigo, ajude-me por piedade!

14 Ouviu-me com emoção a súplica e compadeceu-se efetivamente de mim, porque impôs as mãos acolhedoras sobre a minha cabeça e orou com sentimento tão sublime, em favor de minha tranquilidade, que senti repentina renovação. 15 Aquelas mãos carinhosas irradiaram intensa luz que me penetrou todo o ser, e aquele banho de energias novas, aliado ao alívio da confissão diante de todos, apaziguou-me o espírito.


Carlos

Neio Lúcio


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