O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Mensagem do pequeno morto — Carlos por Neio Lúcio


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Despertando

1 Cansado, porém, de interrogações interiores a se repetirem sem resposta, rendi-me aos carinhos de nossa tia e passei à inconsciência completa.

2 Quanto tempo gastei, nesse sono pesado, sem lembranças? Não conseguiria responder.

3 Sei somente que despertei, assustado, sem atinar com a situação. Encontrava-me sozinho, encerrado numa câmara muito limpa e inundada de luz. A solidão infundia-me repentina tristeza; entretanto, semelhante impressão era atenuada pela janela aberta, dando passagem a jorros de intensa luz.

4 As paredes mostravam pinturas alegres; eu, porém, perguntava a mim mesmo se não fora transportado para algum hospital. Ao longe, através da janela de vastas proporções, via a paisagem desdobrar-se… O céu azul-radioso parecia mandar-me brisa suave e refrigerante.

5 Examinei, atenciosamente, em torno. O mobiliário era muito diverso. Pelas poltronas acolhedores e divãs convidativos, concluí que a sala era exclusivamente consagrada ao repouso.

6 Reparei em mim próprio, surpreendido. Teria passado a difteria? O Doutor Martinho conseguira finalmente curar-me? Minha garganta não doía mais.? Não fosse a fraqueza em que me achava, quase poderia levantar-me e ensaiar alguns passos. Toquei meus cabelos e meus pés.

7 Que ocorrência me levara a semelhante modificação? Estaria, porventura, em casa? aquele compartimento, porém, me era totalmente desconhecido.

8 Recordava os últimos quadros que haviam precedido meu grande sono. Fortemente admirado, recordava-me de suas mínimas particularidades.

9 E mamãe? por que não aparecia? onde estava, sem trazer-me o abraço carinhoso de felicitações pela convalescença? Relembrando-lhe a ternura das últimas horas de meu corpo terrestre, experimentei funda saudade, com infinito desejo de chorar. Somente então observei que passara longas horas sem dizer coisa alguma. Minha garganta estaria em condições de auxiliar-me? Tentei a prova e gritei: — Mamãe! mamãe!

10 Logo após uma voz lamentosa ressoou dentro de mim. Bem notei que não a registava com os ouvidos. Parecia nascer de meu próprio coração, dilacerando-o. Era bem a voz de nossa mãezinha, exclamando com acento angustioso:

— Carlos! Carlos!… meu filho, volta, volta!… não me abandones! não me abandones!…

11 Antes que eu pudesse refletir sobre a nova situação, abriu-se uma porta próxima, dando passagem à Tia Eunice, que se aproximou de mim, sorridente, e, sentando-se ao meu lado, disse-me, na perfeita compreensão do que me ocorria:

— Não se assuste, Carlinhos! Você está presentemente entre nós.


Carlos

Neio Lúcio


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