O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Mensagem do pequeno morto — Carlos por Neio Lúcio


1

Impressões do último dia terrestre

1 Meu caro Dirceu:

Escrevo-lhe esta carta para dizer que não morri.

2 Jamais supus me fosse possível endereçar notícias a você, depois de afastar-me do corpo terrestre. Algumas vezes, vira o enterro de crianças e pessoas grandes, da janela grande de nosso quarto, quando observávamos, em silêncio, o carro triste, enfeitado de flores, conduzindo alguém que nunca voltava…

3 Recorda-se da morte de Osório, o nosso colega do grupo escolar? Nunca me esqueci do quadro enternecedor. Dona Margarida, a mãezinha em lágrimas, conduziu-nos a vê-lo. Osório, brincalhão e bondoso, estava mudo e gelado. Parecia dormir, imóvel sob um montão de rosas e saudades.

4 Quando ouvi dizer que ele jamais voltaria, meu coração bateu forte e empalideci. Nosso velho Tomás, o porteiro da escola que assistia à cena, percebeu o que se passava e afastou-me depressa.

5 Nesse dia, não comi e passei a noite assustado. Atormentei o papai com toda a espécie de perguntas sobre a morte e arrepiava-me todo, recebendo-lhe as respostas. Por fim, ele reconheceu a minha inquietação e aconselhou-me a evitar o assunto.

6 Muito tempo passou, mas a experiência ficou guardada no meu coração. Foi por isso, talvez, que fiquei, durante o período de minha enfermidade, impaciente e aflito.

7 E, para falar francamente a você, tive medo, muito medo, ao perceber que tudo ia acabar-se, pois sempre ouvira dizer que a morte do corpo é o fim de todas as coisas. Agora, porém, posso afirmar que isso não é verdade.

8 Lembra-se do último dia que passei em casa? Mamãe chorava tanto!… Papai, muito sério, ia de um lado para outro, na sala contígua ao nosso quarto.

9 O Doutor Martinho, nosso bom amigo, segurava-me as mãos, e você, Dirceu, sentado na poltrona de vovó, olhava-me ansioso e entristecido.

10 Quis falar, mas não pude. Estava cansado sem saber o motivo. Faltava-me o ar, como se eu fosse um peixe fora d’água. Esforçava-me para dizer alguma coisa, pelo menos para tranquilizar a mamãe; entretanto, havia um peso enorme, oprimindo-me a garganta e a boca.

11 Foi então que parei meu olhar em seus olhos e chorei muito, com receio de ficar mudo e gelado como o Osório, e partir para nunca mais regressar.

12 Não consegui mover os lábios, mas, em pensamento, rezei as orações que mamãe me ensinara. Lembrei-me de Deus e esperei o sono com indizível angústia…

13 Queria dormir, dormir muito; no entanto, era tão grande o meu temor de dormir sem acordar, que, se eu pudesse, teria gritado intensamente, com toda a força de meus pulmões, pedindo ao Doutor Martinho que não me deixasse morrer.


Carlos

Neio Lúcio


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