1 Por vezes, tanto empeço na estrada,
Que indagas, coração, de alma desencantada,
Por que meios humanos prosseguir…
Entretanto, ergue a fronte, ao vasto firmamento,
Da nuvem mais pesada ou do céu mais cinzento
Uma luz há de vir…
2 Deus a ninguém esquece… Ante a sombra noturna,
Sem bússola na selva imóvel e soturna,
O viajor se detém, sem coragem de agir;
Para, pensando em Deus… A névoa se condensa…
Mas a oração lhe diz, além da sombra imensa:
Uma luz há de vir…
3 Abate-se na mina a sinistra barragem,
Pedras, detrito e lama impedem a passagem,
Vozes clamam, no fundo, a gemer e a pedir;
Eis que a prece se eleva e, ao socorro da Altura,
Gritam vozes de irmãos, promovendo a abertura:
Uma luz há de vir…
4 É noite. Sobre o mar, há bulcões em batalha,
Relâmpagos relembram fogo de metralha
No trovão a rugir;
O barco, aos vagalhões, treme, estremece, estala
Pequena multidão, ora, espera e se cala…
Uma luz há de vir…
5 Desse modo, igualmente, alma fraterna,
Quando a prova por sombra te governa,
Qual noite que te oculta as visões do porvir,
Quando tudo pareça escuridão que avança,
Trabalha, serve, crê e ouve a voz da esperança:
Uma luz há de vir…
Maria Dolores
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