1 Alguém, um dia,
Perguntou a Michelangelo
Enquanto ele esculpia:
2 — Senhor, por que razão
Martelar, martelar
Esta pedra indefesa?
Não seria mais justo
Deixá-la em paz
No coração da natureza?
3 O escultor, entretanto,
Respondeu simplesmente,
Sem alterar a voz:
— Um anjo mora preso
Neste bloco maciço
E tenho o compromisso
De trazê-lo até nós.
4 E batendo e cortando,
Aresta sobre aresta,
Aparando e brunindo
O mármore que entesta,
Vê, afinal, o instante
Em que ele próprio exulta…
5 A obra-prima que jazia oculta
Aparece, soberana:
É um anjo que sorri quase que em filigrana,
Uma pedra, por fim que se transforma
Com prodígios de forma,
Em requintes de luz e de beleza humana…
6 Assim também, alma querida,
Quando a dor te ameace ou te amarfanhe a vida,
Não grites maldições,
Nem fabriques labéus…
A prova é a força que te aperfeiçoa,
A dor nasce de Deus por dom profundo
Que te arranca do mundo
Para brilhar nos Céus.
Maria Dolores
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