1 O Homem que esmorecera no trabalho;
Deitando-se no chão por rebeldia,
Ao sentir-se infeliz e descontente,
De ouvido rente ao solo,
Escutou, de repente,
As palavras que a Terra lhe dizia:
2 — Sou tua mãe, a Terra!… Ergue-te e anda!…
Não te magoes, meu filho, contra a vida,
Tudo o que Deus nos manda
É luz que aperfeiçoa…
A dor vem dessa luz que nos convida
Ao trabalho do bem que não se cansa
De criar a alegria e gerar a esperança…
Levanta-te, caminha, ama, serve e perdoa!…
3 Fita-me a pele desolada,
Fiquei ferida assim, ante os golpes da enxada,
Para que tenhas pão à mesa!…
4 Sofrer para ajudar é lei da Natureza!…
5 Deus pede que eu responda à injúria dos tratores,
Mais frutos produzindo, em braçadas de flores…
A quem me atire lama, lodo ou estrume
O Senhor determina
Que eu forneça mais verde e mais perfume,
Porque, segundo as leis da Bondade Divina,
De tudo quanto existe, o amor somente
É valor permanente
Do verme que se oculta em baixo nível,
À estrela que parece inatingível!…
6 Embora eu tenha o Céu por segurança e escolta,
Tenho milhões de filhos em revolta
E, às vezes, eles mesmos se exterminam
Em conflitos sangrentos,
Mas nunca sabem de meus sofrimentos,
Porque sou mãe vivendo aos sóis no Espaço,
E a todos acalento em meu regaço.
7 Deus é Pai que jamais amaldiçoa,
Por isso, filho meu, ama, serve e perdoa!…
8 Um dia, ao ver o mal a envolver-me de todo,
Em torrentes de ódio, sangue e lodo,
Supliquei ao Criador nos mandasse mais luz
E o Céu nos enviou o ensino de Jesus!…
9 Jesus veio e entreabriu-se nova aurora,
Amou e fez de si divina doação,
E muito embora
Muita gente buscasse a redenção
É preciso dizer que, até agora,
Quase que ninguém quis
Receber de Jesus o dom de ser feliz.
10 Notando o orgulho a dominar o mundo,
Nas guerras sem razão sob o ódio iracundo,
Pisando, desprezando ou destruindo,
Tudo aquilo que fiz de mais puro e mais lindo,
Derramo, às vezes, lágrimas ardentes…
11 O vulcão é meu choro em lavas comburentes!…
Nunca roguei, porém, compensações nem mimos.
12 Guarda a fé, filho meu, contempla de altos cimos
No firmamento azul que nos recobre
A divina grandeza do porvir
Porque o trabalho, em si, não é triste, nem pobre…
E todos viveremos
Nos triunfos supremos
Do privilégio de servir!…
13 Desperta, filho meu, ergue-te e vem,
Trabalhemos com Deus na Seara do Bem!…
14 E o homem deslumbrado,
Levantou-se do chão que atravessara a esmo…
— “Servirei, servirei!…” — prometeu a si mesmo.
15 Ao erguer-se, sentiu a vida em torno…
Não longe, alguém guardava o pão no forno…
Enxergou renovado,
Árvores, animais, lavradores cantando,
As flores se entreabrindo e as abelhas em bando…
16 Depois, em oração que a fé viva descerra,
Gritou alçando ao Alto os braços seus:
— “Louvado seja Deus!
Ouvi a voz da Terra,
Obrigado, meu Deus!…”
Maria Dolores
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