1 Gritava a nobre anciã, em rede morna e langue:
— Bate, meu filho!… Zurze o chicote a preceito!…
Um servo é igual ao boi que nasceu para o eito…
E o filho, Dom Muniz, deixava o servo em sangue.
2 Dos salões da fazenda ao derradeiro mangue,
Esculpira a fidalga um carrasco perfeito.
Mas vem a morte, um dia, e leva o filho eleito,
A matrona pranteia e larga o corpo exangue…
3 No Além, cai Dom Muniz em abismos de prova!…
Aflita, a pobre mãe pede a Deus vida nova,
Quer guardá-lo, outra vez, numa estrada sem brilho…
4 Hoje, mulher sem lar, definha, a pouco e pouco,
E, aos duros repelões de um jovem cego e louco,
Roga, em pranto de amor: “Não me batas, meu filho!…”
Valentim Magalhães
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