1 Ó igreja, a tempestade imensa e escura assoma,
Apesar das funções políticas de Roma,
Enegrecendo o mundo e ensanguentando a Terra!…
2 E enquanto a fome, a dor e os martírios da guerra
Humilham sem cessar a grande massa humana,
Fazes o carnaval da Comédia Romana,
Onde os clowns e arlequins, pierrôs e colombinas
São grandes multidõies de mitras e batinas…
3 Quando a dor faz do mundo um triste sorvedouro,
Exibes sem cuidado as arcas do teu ouro!…
Guarda-te da extorsão das listas e sacolas,
Olha o espelho de dor das lutas espanholas.
4 Não deves te iludir no movimento enorme!
O coração do povo é como um leão que dorme,
E o povo há de pedir
Que a noite de hoje pague à aurora do Porvir!
5 São as ânsias sociais que Leão XIII e Pio XI
Tentaram dirimir com dogmas de bronze.
6 É preciso atenuar os raios da tormenta,
Com a energia do Amor que salva e que alimenta,
Deixa o balcão do Altar, os Púlpitos e as Missas,
Procura reparar as grandes injustiças!…
7 Igreja, o mundo inteiro anela um Novo Dia,
Remodela o interior de tua sacristia,
8 Porque depois da treva há de haver uma luz,
Luz que há de esclarecer tua lei feita à socapa;
Liberta-te das mãos sacrílegas do Papa
E volta enquanto é tempo aos braços de Jesus.
Abílio Guerra Junqueiro
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