Membro da Academia Brasileira de Letras, Membro da Academia Brasiliense de Letras, Membro da Academia Goiana de Letras, Membro do Instituto Histórico Geográfico de Goiás, Membro da União Brasileira de Escritores. Tem publicadas nove obras, sete de ficção e duas de ensaio, inúmeras crônicas e contos literários.
“Minha jovem repórter, você me pediu a impressão sobre Chico Xavier e eu fiquei de dar.
Digo-lhe que pensei muito sobre o assunto e pareceu-me prudente calar. O momento é para falar de divórcio, de controle de natalidade, de mordomias, novelas de televisão e acima de tudo é para se falar de título eleitoral, esse documento que ultimamente vem assumindo uma importância formidável, embora eu não possa compreender a razão. Estamos, pois, num tempo de mulheres nuas (ou quase, não sejamos exagerados!), num tempo de piadas. Você já viu o Brasil está cheio de piadas? Não, ninguém que não tenha a última (muito boa) para contar assim meio no cochicho, que parede tem ouvidos… E Chico Xavier é assunto sério. Imagine que ele só pensa em dar, num tempo de tomar de qualquer maneira; ele só fala no próximo, num tempo em que todos são distantes; fala do outro mundo, num tempo em que o tempo é pouco para devorar este nosso pobre mundinho; ele fala de caridade num momento que a suprema felicidade é ver arder a barba do vizinho. Então esse homem é um perigo. Contudo, como você está cobrando, vou falar de Chico Xavier quase em tom de piada. É o caso que Voltaire entendia que os patrões só deviam empregar criados que fossem cristãos convictos. Dizia que um cristão convicto verdadeiramente é incapaz de roubar o patrão e nessa segurança reside a paz na terra. Mas se Voltaire ficou aí, outros filósofos prosseguiram no raciocínio e concluíram que um cristão convicto oferece ainda outra comodidade: a do patrão desonesto roubar impunemente o cristão convicto, para quem só valem os bens do outro mundo.
Por aí você pode imaginar. Se todos os que vivem do próprio trabalho, nesse mundo fossem cristãos convictos, o mundo seria o Paraíso dos patrões (desonestos)! Nesse pontinho é que divirjo um pouco de Chico Xavier: naquilo que ele possui de humilde, manso, desprendido dos bens terrenos, atitude que é uma delícia para os patrões desonestos e para os donos do mundo. “Faze-te de mel que as abelhas te comem.” — já diziam os portugueses de outrora. No mais, se existir santo Chico Xavier é um dos maiores; se houver Céu, dele será o melhor lugar, salvo se por lá já não houverem chegado os desonestos, ambiciosos, hipócritas e outros seres que é costume chamar poderosos.” (O Popular — Goiânia — 25.9.1977)