Antes de mais nada, devo me apresentar: nasci na Cidade de São Manoel, neste Estado, aos 16 de agosto de 1914, passando a residir em São Paulo desde 1918; fui criado na religião católica apostólica romana, a qual, aliás, é a de toda a minha família; estudei em dois colégios católicos, no Ginásio Municipal de São Joaquim, em Lorena e no Colégio São Luiz, desta Capital; cursei em seguida a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, na qual me formei em 1936, exercendo, desde então, a profissão de advogado; e casei-me em 1940, com minha querida mulher, Olga de Toledo, também católica, de cujo consórcio tivemos três filhos: Heloísa, Antônio Carlos e Carlos Alberto, sendo que os dois primeiros já são casados e o caçula faleceu solteiro, aos 23 de dezembro de 1969, prestes a completar 21 anos de idade.
Mesmo após o falecimento de nosso querido e amado filho, minha mulher não acreditava e nem se interessava pelo Espiritismo. Eu, entretanto, já há bastante tempo, em momentos de aflição ou desânimo, procurava conforto moral participando, vez ou outra, de sessões espíritas, das chamadas “Mesa Branca”, em casa de amigos, pois, além de acreditar em Deus e em Jesus, também acreditava, como continuo acreditando, na comunicação com os Espíritos; até que um dia, um grande amigo e excelente colega, já falecido, Dr. Oswaldo Barreto, espírita dos mais eminentes e cultos, aconselhou-me a frequentar ou estudar o Espiritismo kardecista.
Não cheguei, naquela época, a por em prática tal conselho, dado que, pouco tempo depois, minha vida e as de minha mulher e filhos foram abaladas por uma, para nós, terrível tragédia: nosso filho Carlos Alberto fora vítima de um acidente fatal, de motocicleta! Descrever o nosso sofrimento e as aflições pelas quais passamos em consequência dessa inesquecível perda, é realmente difícil, pois somente os pais, em situação semelhante, é que podem avaliar. Estávamos assim, desesperados, quando uma pessoa caridosa nos encaminhou à casa de uma senhora espírita, Da. Zilda Giunchetti Rosin, cuja missão, por ter perdido, num desastre de automóvel, seus dois únicos e maravilhosos filhos, Dráuzio e Diógenes, além, da de doutrinação, em que é excelente, era e é a de consolar pais que perderam filhos e, com Da. Zilda começamos a conhecer a doutrina espírita-cristã e a receber os primeiros ensinamentos, o que, afinal, muito nos ajudou, proporcionando-nos as primeiras resistências para enfrentarmos o desespero da separação de nosso amado filho; além de termos testemunhado, por duas ou três vezes em sua casa, durante a prece, a presença de seus dois filhos, através de leves estalidos de uma lâmpada elétrica instalada no teto de um dos compartimentos do pavimento superior; por tudo o que, e o mais que adiante relato, muito devemos à Da. Zilda.
Minha mulher, entretanto, continuou desesperada ainda por muito tempo e sempre desinteressada do Espiritismo, até que uma noite, passados uns três anos, ela surpreendeu-me com pedido repentino, dizendo-me: “ Quero falar com Chico Xavier!”. Respondi-lhe, então, que isso não era fácil, pois o Chico morava em Uberaba, cerca de 500 quilômetros de São Paulo, ao que ela disse: “Não tem importância, quero falar com o Chico Xavier neste fim de semana, esteja ele onde estiver.” Não querendo perder tão inesperada oportunidade, mas não sabendo como chegar até ao Chico, lembrei-me de Da. Zilda e telefonei-lhe em seguida, a fim de solicitar-lhe uma apresentação, pois sabia que ela se dava com o Chico e tive outra surpresa: ela também iria a Uberaba e se prontificou a nos acompanhar lá, como de fato ocorreu.
Assim, numa sexta-feira à noite, véspera do Dia das Mães, em 1973, na Comunhão Espírita Cristã, fomos, apresentados por Da. Zilda ao Chico Xavier! O nosso primeiro encontro com o Chico, como aliás sempre acontece com as demais pessoas no mesmo estado de desespero, como acontecia com minha mulher e também comigo, foi por demais emocionante! Mas o Chico, com aquela sua voz mansa e suave, como sempre fala com todos, foi um bálsamo para nossas almas e, antes de me ver, pois ainda não lhe fora apresentado, disse à minha mulher: “Não chore, minha filha, pois ao meu lado está um rapaz mandando um abraço para o Carlinhos!” Mas, se o Chico não sabia o meu nome, pois não tinha ainda sido apresentado e se muito menos sabia que, em família, sou chamado por esse diminutivo, tal recado já nos deixou atônitos! E não parou aí a nossa admiração. No dia seguinte, sábado, fomos novamente a uma sessão, menos numerosa e lá Da. Zilda recebeu, psicografada pelo Chico, uma longa e linda mensagem de seu filho mais velho, Drausio, que, como sempre, foi lida por ele e qual não foi nossa surpresa quando, a certa altura, dizia a mensagem: “ Está aqui o jovem Carlos Alberto que manda um cravo vermelho para a sua mãezinha Olga. Ele está sendo assistido pelo irmão Arthur Toledo e pelo irmão Zoilo Simões”! Não pude conter minha emoção, pois além de ouvir o nome de nosso amado filho, ouvira também o do meu querido Pai, falecido em 1935 e, ainda o do Sr: Zoilo Simões, falecido alguns anos antes, conforme notícia que eu lera num jornal, vítima de acidente de automóvel. Mas o que surpreendia era o fato de que o Chico não sabia o nome de meu Pai e, muito menos, o do Sr. Zoilo Simões, pessoa, aliás, que eu não conhecera e que nunca vira, pois deixei São Manoel quando tinha quatro anos de idade e dele sabia apenas o nome, por ser o mesmo de antiga e respeitável família de minha terra. Mas não foi só. Logo em seguida nós e todos os presentes, inclusive o Chico, tomamos “passe” dado por algumas senhoras que adentraram o salão e, durante os minutos que permanecemos tomando “passe”, o salão, de grande proporções, foi tomado de um forte e delicioso perfume de rosas, sendo eu informado que era da presença de uma entidade de luz, chamada Scheilla. E, assim que terminou o “passe”, desapareceu o perfume como que por encanto… Esse fato, evidentemente sobrenatural, foi comentado pelas pessoas presentes, a maioria das quais vindas de fora, inclusive por nosso filho Antônio Carlos, que nos acompanhou em nossa primeira viagem a Uberaba. Nesses dois dias que lá passamos, tivemos a oportunidade de fazer grandes amizades, especialmente com aqueles que, em razão da dor, buscaram alívio junto ao Chico Xavier.
A partir de então, passamos, de tempos em tempos, a frequentar as sessões espíritas de Chico Xavier, em Uberaba, a princípio na Comunhão Espírita Cristã e, depois, no Grupo Espírita da Prece e a ouvir dele, em suas prédicas e em suas visitações e distribuição aos pobres, a doutrina espírita cristã, consubstanciada no “O Evangelho Segundo o Espiritismo” e os seus ensinamentos sobre as virtudes que devemos praticar para o aperfeiçoamento de nossas almas, especialmente a caridade. Somente através de Chico Xavier e de seus edificantes exemplos, é que tivemos uma noção exata do que seja “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos”. E também, através dele, é que temos recebido o conforto moral de que tanto necessitávamos, minha mulher e eu, face à perda corporal de nosso amado filho Carlos Alberto.
A propósito, devo relatar ainda que, graças a Deus e a Jesus, recebemos duas maravilhosas e consoladoras mensagens de nosso filho Carlos Alberto, psicografadas por Chico Xavier: a primeira, na noite de 14 de junho de 1974 e a segunda, no dia 13 de setembro de 1975: mensagens essas que, a exemplo de tantas outras recebidas por inúmeras pessoas que perderam entes queridos, por conterem tantas particularidades, notadamente de família, completamente ignoradas por Chico Xavier, são uma prova evidente que o nosso amado filho, em espírito, está vivo e velando por nós. Fato também surpreendente ocorreu quando da última citada mensagem: após entregar-nos os originais da mensagem, o Chico me perguntou: “Você sabe quem é Giuseppe Sanzi?” Indagando da razão da pergunta, Chico esclareceu: “É que o Carlos Alberto disse-me há pouco que ele está muito ligado ao ramo da família, da Itália.” Não podendo esconder a minha admiração, pois todos os nossos amigos, inclusive o Chico, só nos conheciam em Uberaba, por Olga Toledo e Carlos Toledo, respondi-lhe: “.Não sei, Chico, quem é Giuseppe Sanzi, mas tenho a lhe dizer que o meu sogro se chamava Affonso Sanzi e, portanto, Sanzi é o sobrenome de solteira de minha mulher.” Em seguida, Chico perguntou-me: “Existe lá em São Paulo uma Rua Pedroso?”, ao que eu lhe respondi: “Sim, existe e eu moro na Rua Pedroso de Moraes”, tendo o Chico dito então: “É isso mesmo, Pedroso de Moraes.” “Porque essa pergunta?”, indaguei. Respondeu-me o Chico: “Porque o Carlos Alberto também me disse que tem passado pela Rua Pedroso de Moraes e tem ouvido uma música do Roberto Carlos, que fala num amor inconstante, mas que o amor dele por vocês é constante.” Essa música, que eu não conhecia, tentei saber qual era, em várias casas de discos de São Paulo, mas sem resultado, até que, tempos depois, minha netinha Fanny, que ignorava completamente aquele assunto, perguntou-me se eu queria ouvir a primeira música que ela aprendera ao violão: e tocou e cantou, para mim, uma das músicas de Roberto Carlos, chamada “Olha”, que era aquela que eu tanto procurava…
Naqueles dois primeiros dias que, em 1973, passamos em Uberaba, também conhecemos nossa grande amiga, Da. Yolanda Cesar, que igualmente perdera um de seus filhos, um lindo e forte rapaz, de nome Augusto, a quem muito devemos por todo consolo que temos recebido do Chico Xavier, pois a exemplo do que tem feito conosco, é incansável em ajudar a todas as pessoas que se encontram no estado de tristeza, de aflição e de desespero, em que ela e nós estivemos, pelo que somos sumamente gratos a ela.
E através de Da. Yolanda, viemos a conhecer e a frequentar o Lar do Amor Cristão, desta Capital, caridosa entidade kardecista, na qual, além de recebermos ensinamentos da doutrina espírita-cristã e de recebermos também os benefícios de “passes magnéticos”, temos encontrado, em seus dignos e bondosos dirigentes, inestimáveis apoio e conforto moral.
Feito o retrospecto de nosso relacionamento com o Chico Xavier, nosso querido irmão em Jesus, o Divino Mestre, o meu depoimento sobre a sua respeitável pessoa, pode ser assim resumido:
Chico Xavier, que recentemente completou 50 anos de contínua mediunidade, fato por si só extraordinário, e que durante esse longo tempo, sempre assistido por Espíritos de Luz, só tem se dedicado a fazer o bem a todas as pessoas que o procuram, sem distingui-las se são ricas ou pobres, a par de ser um homem de extrema bondade, de notória integridade de caráter, de reconhecidas virtudes, entre as quais ressaltam a humildade, a paciência e a caridade, e de uma cultura geral e religiosa admiráveis, é um anjo de paz e amor que Deus enviou à Terra! Felizes aqueles que tiveram ou têm o privilégio de se aproximar de Chico Xavier.
Carlos Eduardo de Toledo
(A. Pedroso de Morais, 691 - Apto. 12 - São Paulo, SP.)