Desde os primeiros momentos de minha presença no trabalho espírita, na União Espírita Sergipana, o nome de Francisco Cândido Xavier tem-me sido uma bandeira sem similar, por suas qualidades de médium cristianizado, que à distância sempre venerei, lá no nordeste.
Já o tinha por médium incomum, acima de qualquer avaliação em termos humanos. E tal o imaginava, assim fui encontrá-lo pela primeira vez, em Pedro Leopoldo.
Corria o ano de 1949…
Leopoldo Machado coordenava, no Rio de Janeiro, a Festa Nacional do Livro, com o propósito de reunir jovens de todo o Brasil. Compareci ao Encontro, representando Sergipe Espírita.
A incontida vontade de conhecer e abraçar Chico Xavier fez-me embarcar num avião no Rio, após o Encontro, e descer na Pampulha, quando a capital mineira, hoje importante e formosa metrópole, era uma miniatura do que é hoje.
A cidade, com seus vagarosos bondes circulando o Pirulito, na Praça Sete, para retomar, logo depois, o caminho dos bairros, possuía apenas três prédios altos: Acaiaca, IAPI e Hotel Financial.
Logo ao chegar, a ânsia de conhecer e abraçar o médium, que à distância amava. E lá fui, de ônibus, pela estrada velha que passava em Venda Nova, a região de Neves e Vera Cruz, para, afinal, chegar a Pedro Leopoldo.
A emoção — lembro-me bem — foi enorme, ao olhar pela janela da acolhedora casa de D. Geni Xavier, onde funcionava, então, o Centro Espírita Luiz Gonzaga. O Chico, aparentemente distraído, de costas, simples e de uma simpatia contagiante, manuseava, curvado sobre a mesa, laudas de papel.
A mesa, coberta com alvíssima toalha; um recipiente com água e copos em torno; um banco com marca de ferro de passar roupa, se não me engano — tudo isto permanece em minha retentiva visual, por carinhosa e agradável lembrança.
Estava, enfim, em Pedro Leopoldo. E diante de mim; o Chico Xavier!…
Após os cumprimentos e antes do início da reunião, Chico dá notícias do movimento espírita sergipano, citando, nominalmente, companheiros encarnados e desencarnados, fazendo especial referência ao Major Vianna de Carvalho, o grande apóstolo cearense, que impulsionou o Espiritismo também no nordeste, empolgando imensos auditórios com seu verbo inflamado e culto.
Foi uma noite realmente encantadora, assinalando, para mim, a realização de um grande desejo.
Quando regressei a Aracaju, já com o pensamento e o coração desejosos de transferir a residência para Belo Horizonte, escrevi no “Sergipe-Jornal”, respeitado órgão da imprensa sergipana, uma série de artigos contando as emoções da viagem a Pedro Leopoldo, do encontro com o Chico, cujos recortes conservo em meu arquivo pessoal por tesouro recordativo.
Dois meses depois, viajava em definitivo para Belo Horizonte, desembarcando de novo na Pampulha. Era o dia 4 de setembro de 1949.
O primeiro pensamento, tal como na primeira viagem: ir logo a Pedro Leopoldo, desfrutar do privilégio de, novamente, ver e abraçar o querido companheiro, o que fiz com a alma inundada de felicidade.
A mediunidade de Chico Xavier e a sua singular personalidade evidenciaram-se-me de forma incontestável, ao ouvi-lo discorrer, com a segurança e esplendor de sua vidência, sobre o que ocorria comigo, registrando a presença do meu pai, um dos pioneiros do Espiritismo em Sergipe, grande doutrinador e polemista e médium de várias faculdades, desencarnado em 1931, ou psicografando íntima mensagem do coração paterno, tão íntima que pouca gente, de Aracaju, conhecia os fatos e situações nela inseridos, relacionados com a nossa equipe familiar.
Naquela época, Chico Xavier vinha mais vezes a Belo Horizonte, participava de reuniões, orientava-nos, em grupo de estudos, sobre assuntos doutrinários. Suas nobres atividades, menos intensas do que hoje, obviamente permitiam maiores contatos, durante os quais lições inesquecíveis e fatos maravilhosos eram-nos transmitidos.
Muita coisa extraordinária aconteceu.
D. Balbina, uma senhora humilde, que me fora vizinha, na infância, em bairro pobre, identifica-se dando a época — dia, mês e ano — de sua desencarnação.
Meu pai, Basílio Martins Peralva, envia-me oportunos recados. Lívio Pereira da Silva, notável tribuno e admirável médium receitista, mineiro de Teófilo Otoni, mas radicado desde jovem em Sergipe, desencarnado em Maceió, Alagoas, em consequência de uma pneumonia dupla contraída após conferência em noite de grande calor, quando suara demais, encharcando a camisa, trazia-me pelo Chico advertências e orientações que me foram valiosas à adaptação em Minas Gerais. Oportunamente, se materializaria, tendo o próprio Chico por médium, todo iluminado, dialogando comigo durante cerca de cinco minutos.
Chico Xavier, perto ou longe, tem-me sido amigo excepcional e caridoso. Quando não ajuda pela palavra, na televisão, por carta, em pensamento ou em desdobramento natural, fá-lo pelos milhares de mensagens espalhadas pelo Brasil inteiro.
Os livros por ele psicografados chegam-nos quase mensalmente, por condutores de amor e luz, mercê do esforço de editoras que põem nas livrarias o apreciável alimento: o livro espírita.
Emmanuel, seu Instrutor, Bezerra de Menezes, André Luiz, Irmão X, Meimei, Maria Dolores, Batuíra e tantos outros Espíritos que interpretam, fielmente, o pensamento crístico; são benfeitores de todos os instantes, graças à mediunidade do Chico.
A psicografia do médium mineiro, exercida, publicamente, durante 50 anos, tudo nos tem ofertado: religião, filosofia, ciências, romance, poesia, história, apólogos etc., consubstanciando uma literatura altamente educativa, de conteúdo moral inestimável e, sobretudo, inultrapassável, insubstituível.
De certo tempo para cá; um novo sentido caracteriza a sua mediunidade: o recebimento de mensagens esclarecedoras e reconfortantes, posteriormente enfeixadas em livros que percorrem os quadrantes do País e se projetam no plano internacional.
“Jovens no Além”, “Somos Seis”, “Amor e Luz” e “Crianças no Além” são obras de rara beleza, trazendo a corações saudosos, de pais, amigos e parentes, abençoadas compensações espirituais, contribuindo para que almas antes infensas às realidades do após-morte, despertem para tarefas de amor, no campo da beneficência, sob a inspiração e o influxo de corações recém-libertos que voltam, pela mediunidade de Chico Xavier, para afirmar que a vida continua, noutra dimensão.
E uma etapa nova, que ratifica o sentido cristão da mediunidade do querido companheiro.
Estou certo, em Deus, de que, por muitos e muitos anos, teremos entre nós, no plano físico, o valoroso e fidelíssimo servidor de Jesus, sempre debruçado sobre laudas de papel a escrever, escrever… Enquanto o lápis desliza, celeremente, fixando apontamentos consoladores, cantando a glória da Imortalidade, estancam-se lágrimas, corações aflitos são lenitivados.
Corações que pranteiam, no transe compreensível da saudade, que é, no dizer do poeta, “a presença do ausente”. Deus abençoe o querido amigo, em seus 67 anos de fecunda existência, e nos seus 50 anos de missão mediúnica, dando-lhe, centuplicadamente, tudo quanto tem dispensado, a mim e a milhares de pessoas, em amor e carinho.
José Martins Peralva Sobrinho
(Av. Amazonas, 2760 - Apto. 103 - B. Horizonte, MG.)