1 O agrupamento doutrinário, naquela noite, apresentou aspecto festivo. Duas semanas antes, Abel, um dos orientadores espirituais da casa, anunciou a visita de um mensageiro de Jesus, marcada para aquela hora. Viria de muito alto, não só trazendo a bênção do Senhor, mas também no propósito de inspecionar a humilde instituição.
2 Deviam preparar-se os companheiros para a venerável presença e, em razão disso, a pequena comunidade se desdobrou em serviço e carinho.
3 Nas paredes muito limpas viam-se tufos de flores odorantes. A luz derramava-se, profusa, de lâmpadas bem cuidadas. Extenso tapete amortecia o rumor dos passos de quantos, cautelosamente, penetravam o recinto e a atmosfera recordava o sagrado silêncio de um templo antigo.
4 Quando os dez cooperadores encarnados se agregaram em torno da mesa simples e acolhedora, a rogativa do diretor se elevou, comovente e cristalina.
Nós mesmos, ouvindo-a, registávamos inefável emoção.
5 O grupo, realmente, constituía-se de servidores da crença, sinceros e bem-intencionados. Talvez, por isso mesmo, merecia a elevada deferência da noite.
6 Terminada que foi a oração de abertura, fomos notificados de que o embaixador de cima não tardaria. Com efeito, em dois minutos, inundou-se o ambiente de suave luz.
7 O emissário, como que cercado por vasta auréola de estrelas evanescentes, ingressou no santuário, revelando expressão de sublime benevolência.
8 Cumprimentou-nos, afavelmente, incorporou-se ao médium mais apto e, demonstrando avançada sabedoria e inexcedíveis virtudes, saudou a turma em serviço, comentando a magnanimidade de Jesus que nos permitia o júbilo daqueles momentos reconfortantes. Exaltou a expectativa da Esfera superior, relativamente à colaboração humana, e, em seguida, pediu que os amigos encarnados algo informassem, individualmente, com referência ao Espiritismo cristão na existência de cada um deles.
9 Tínhamos a ideia de contemplar iluminado instrutor em delicada maratona, junto a reduzida e estudiosa classe escolar.
10 Constrangidos pela generosidade e pelo carinho da solicitação, os companheiros passaram a responder, começando pelo condutor da assembleia.
— Graças a Deus! — Informou o presidente do grupo, — tenho aqui minha luz confortadora. O Espiritismo renovou-me os caminhos… Sou outro homem. Meu desagradável passado desapareceu… Em tempo algum recebi tamanha claridade no coração! Sou feliz, meu grande benfeitor, e agradeço ao Supremo Pai a dádiva do conhecimento que tanta ventura me trouxe!…
11 Logo após, falou D. Castorina, devotada cooperadora da organização:
— Encontrei nesta fé consoladora o meu refúgio de paz. Bendito seja Jesus, o nosso Divino Mestre!…
12 Depois dela, o Sr. Câmara, médium em desenvolvimento, esclareceu, emocionado:
— A Nova Revelação é maravilhosa fonte de alegria para minha alma. Não posso expressar a gratidão que me vibra no ser.
13 Calando-se o companheiro, o Sr. João Costa, admirável intérprete das ideias cristãs, explicou:
— Beneficiado que fui pelo Espiritismo, nunca mais sofri dúvidas. O Evangelho dá-me agora definitiva segurança, pois reconheço que a justiça divina é perfeita e que o Espírito é imortal.
14 A senhora dele, logo que o marido silenciou, tomou a palavra, assegurando:
— A doutrina é minha vida!…
15 Finda aquela assertiva breve, o Sr. Freitas, atencioso leitor de teses científicas e mais loquaz que os outros, comentou em fraseologia brilhante as ponderações “richeístas”, referiu-se ao metapsiquismo europeu e terminou, afiançando:
— O Espiritismo é o único sistema que pacifica a inteligência. Nele, temos a crença, a razão e a lógica perfeitamente atendidas.
16 Depois disso, D. Emerenciana enunciou:
— Nos princípios do Espiritismo cristão, achei a minha felicidade.
17 E D. Nair, ao lado dela, ajuntou:
— Eu também.
18 Por último, o Sr. Soares, fundamente concentrado na prece, exclamou:
— O Espiritismo é o meu farol definitivamente aceso… Sem ele, há muito tempo eu estaria nas trevas do crime…
19 Retornando à quietude anterior, o emissário agradeceu a reverência e o carinho que transpareciam das respostas ao pedido que formulara e acrescentou:
— Meus amigos, que a Nova Revelação é indiscutível mensagem do Céu para os caminhos humanos, estabelecendo o império do bem, provando a sobrevivência da alma além da morte e oferecendo conforto positivo, não padece qualquer dúvida! Todos vos sentis edificados, esclarecidos e felizes!… Mas o que Jesus deseja saber é justamente o que vindes realizando com essa bênção. Em verdade, o Espiritismo é vossa lâmpada… Que tendes feito dela? É um ideal superior… Que proveito organizais com ele? É uma dádiva celestial… Que benefícios produzis em vós outros ou em derredor de vossos passos, usando semelhante graça?
20 Interrompeu-se o inspetor divino e, em vista de se calarem os circunstantes, respeitosamente, a se entreolharem agora espantadiços, o venerando amigo despediu-se, bem-humorado, e prometeu voltar breve.
Irmão X
(Humberto de Campos)