O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Luz acima — Irmão X


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Como tratar médiuns

1 Você pergunta a mim, Espírito desencarnado, qual a maneira adequada de tratar os médiuns. Alega que muitos passaram por seu clima individual, sem que pudesse compreendê-los. Começam a tarefa, entusiásticos, e, lestos, abandonam a sementeira. Alguns sustentam o serviço por algum tempo; outros, contudo, não vão além de alguns meses. Muitos se afastam, discretos, recuando deliberadamente, ao passo que outros tantos resvalam, monte abaixo, atraídos por fantasias tentadoras.

2 Afirmando seu amor à doutrina que nos irmana agora, você indaga com franqueza: como tratar essa gente, para que o Espiritismo não sofra hiatos nas demonstrações da sobrevivência?

3 Não tenho pretensões a ensaísta de boas maneiras. Malcriado quanto tenho sido, falece-me recurso para escrever códigos de civilidade, mesmo no “outro mundo”.

4 Creio, todavia, que o médium deve receber tratamento análogo ao que proporcionamos a qualquer ser humano normal.

5 Trata-se de personalidade encarnada, com obrigações de render culto diário à refeição, ao banho e ao sono comum. Deve atender à vida em família, trabalhar e repousar, respeitar e ser respeitado. 6 Não guardará o talento mediúnico, à maneira de enxada de luxo que a ferrugem carcome sempre, mas evitará a movimentação intempestiva de suas faculdades, tanto quanto o ferreiro preserva a bigorna. 7 Cooperará, com satisfação, no esclarecimento dos problemas da vida, junto aos estudiosos sinceros; todavia, não entregará seus recursos psíquicos à curiosidade malsã dos investigadores sem consciência, detentores de leviandade incurável, a pretexto de colaborar com os cientistas do clube dançante, que vazam comentários acadêmicos, entre um sorriso de mulher bela e uma dose de aguardente rotulada de uísque.

8 Esta é uma definição sintética que me cumpre fornecer, de passagem; entretanto, já que você se refere ao amor que assegura consagrar ao Espiritismo edificante, conviria sondar a própria consciência.

9 Realmente, são inúmeros os companheiros que se precipitam da tarefa mediúnica ao resvaladouro do desencanto e do sofrimento, como andorinhas de voo alto, atiradas, semimortas, do firmamento ao bojo escuro do abismo. Vemos, no entanto, que se os pássaros, algumas vezes, descem ao círculo tenebroso, sob o fascínio de perigosa ilusão, na maioria dos casos caem mutilados sob golpes de caçadores inconscientes.

10 Doloroso é dizer; contudo, quase todos os médiuns são anulados pelos próprios amigos, sem maior consideração…

11 O Plano superior traça o programa de trabalho, benéfico e renovador. O funcionário da instrumentalidade concorda com os seus itens e dispõe-se a executá-lo, mas, escancarada a porta do serviço, a chusma de ociosos adensa-se-lhe em torno.

12 Esqueçamos a fileira compacta dos investigadores e curiosos que transformam em cobaia o primeiro doente psíquico que lhe cai sob as unhas. As reclamações insaciáveis dos próprios irmãos de ideal são mais venenosas. Identificando-as, somos forçados a reconhecer que os espiritistas modernos têm muito que aprender acerca do equilíbrio próprio, antes que o primeiro médium com tarefa definida possa cumprir integralmente sua missão.

13 O intermediário entre os dois Planos move-se com extrema dificuldade para entregar às criaturas terrestres a mensagem de que é portador. Se os adversários gratuitos recebem-no a pedradas de ironia, os afeiçoados principiam por erigir-lhe pedestal envolto em grossas nuvens de incenso pernicioso. 14 O servidor inicia o ministério, quase sempre às tontas, embriagado pelo aroma ardiloso do elogio desregrado. Dentro em pouco tempo, não sabe como situar-se. Os adeptos e simpatizantes da causa se incumbem de convertê-lo em permanente motivo de espetáculo. 15 Quando o exibicionismo não se prende à tentação de convencer os vizinhos, fundamenta-se em supostas razões de caridade. Intensifica-se a luta entre a Esfera superior, que deseja beneficiar o caminho coletivo com a projeção de nova luz sobre a noite dos homens, e a arena terrestre, onde os homens cuidam de manter, com desespero, os seus interesses imediatos na carne. 16 O responsável direto, pela ação mediúnica, raramente segue marcha regular. Se permanece no serviço do ganha-pão digno, os companheiros se encarregam de perturbá-lo, chamando-o insistentemente para fora do reduto respeitável em que procura ganhar a vida com nobreza e honestidade. 17 Se mostra alguma instabilidade na realização, improvisam-se tribunais acusadores, ao redor dele; mas se revela perseverança no bem, surge, com mais ímpeto, o assédio de elementos arrasadores, ansiosos por derrubá-lo. 18 Se permanece no posto, é obrigado a respirar solidão quase absoluta, de vez que as exigências do serviço se multiplicam, por parte dos companheiros de fé, enquanto seus domésticos e afins, em regra geral, dele se afastam, cautelosamente, por não haverem nascido com a vocação da renúncia. 19 Passa a viver, compulsoriamente, as existências alheias, inibido de caminhar na própria rota. É compelido a ingerir, com o almoço, fluidos de desesperação e inquietude de pessoas revoltadas e intemperantes que o buscam, ostentando o título de sofredores. 20 Debalde namora o banheiro com saudade de água salutar na pele suarenta, porque os legítimos e falsos necessitados da própria confraria lhe absorvem as horas, reclamando atenção individual. 21 Trabalha no setor cotidiano de ação, sob preocupações e expectativas infindáveis da guerra nervosa. E quando consegue a estação de pouso noturno, alcança o leito de corpo esfalfado e a resistência em frangalhos.

22 Se o vanguardeiro não retrocede, fustigado pelos demônios da imprudência e da insensatez e se não se faz presa de entidades maliciosas que o conduzem ao palco da, “triste figura”, cabe-lhe o destino da válvula gasta prematuramente.

23 Liga-se o aparelho radiofônico, entretanto, a mensagem chega rouquenha ou não pode enunciar-se. A máquina delicada estala e chia inutilmente. A eletricidade e a revelação sonora continuam existindo, mas o aparelho complicou-se, não pela lei do uso e, sim, pelos golpes do abuso.

24 Compreende, acaso, o que estou comentando?
A força, espiritual e a contribuição renovadora dos missionários da sabedoria vibrarão junto de vocês, todavia, como se exprimirem convenientemente se os interessados perseguem os aparelhos registadores e os inutilizam, através da exaustão e do vampirismo, portadores da enfermidade e da morte?

25 Como somos forçados a reconhecer, meu caro, é tão difícil encontrar médiuns aptos a lidarem com os espiritistas do primeiro século de codificação kardeciana, como é raro encontrar espiritistas que saibam lidar com eles…


Irmão X

(Humberto de Campos)

Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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