1 Meu pai, minha mãe, minha querida Sueli, peço-lhes calma, coragem.
2 Não estou em situação infeliz, mas sofro muito com a atitude de casa. Auxiliem-me. É tudo, por agora, o que lhes posso dizer. Tenho a mente nublada. Consigo entender muito pouco aquilo que se passa em torno de mim. As lágrimas dos meus queridos me prendem.
Que há, meu Deus?
3 Não pensem que desapareci para sempre. Estarei, porém, com vocês na condição em que estiverem comigo.
Fortes, me fortalecerão. Desanimados, me farão esmorecer.
4 É muita coisa para observar, entretanto, não posso ainda. Creio apenas que perder o corpo mais pesado, não é desvencilhar-se do peso de nossas emoções e pensamentos, quando nossos pensamentos e emoções jazem nas sombras da angústia.
5 Eu encontrei muito amparo, mas a não ser o meu avô Basso, n a quem me ligo pelo coração, não tenho ainda memória para funcionar aqui; minha faculdade de lembrar está com vocês, assim à maneira de um balão escravizado. Ajudem-me. Preciso ver e ouvir aqui para retomar-me como sou.
6 As vozes de casa chegam ao meu coração e, como se continuássemos juntos, vejo-os no quarto, guardando-me as lembranças como se devesse chegar a qualquer instante. n E o meu pensamento não sai de onde me prendem. 7 Agradeço, sim, o amor em suas lágrimas. Agradeço o carinho em suas preces, mas venho pedir-lhes para viverem. Viverem! E viverem felizes, porque assim também serei feliz.
8 Esqueçam o que sucedeu, ninguém me prejudicou, ninguém teve culpa. Mal sabia eu que um passeio domingueiro era o fim da resistência física.
9 O coração parou, ao modo de um motor, de que não se descobre imediatamente o defeito.
10 Sou eu quem deu tanto trabalho aos amigos. n Notei quando me chamavam, quando me abraçavam, massageavam e me faziam quase respirar sem conseguir.
Agradeço por tudo.
11 Depois foi o sono, um sono profundo, do qual acordei para chorar com o pranto de meus pais e de meus afetos mais queridos.
12 Sueli, acalme-se e auxilie os pais queridos. Nada de lamentações e reclamações.
13 Deixei o corpo num domingo, sem extravagâncias quaisquer.
14 Há quem pense em drogas quando se deixa a vida física assim qual me sucedeu. n Mas não havia drogas, nem abuso da véspera. Estávamos sóbrios e brincávamos à maneira de pássaros descuidados.
15 Em qualquer lugar que me achasse, a queda de forças seria a mesma.
16 Estou saudoso de tudo, dos familiares queridos, dos companheiros, dos estudos e das aulas; entretanto, espero sarar e refazer-me. Para isso você, meu querido pai, e você, querida mãezinha, são as alavancas de que preciso para me levantar.
17 Aqui comigo estão o meu avô Basso e um coração de benfeitora a quem chamo Irmã Elvira. n Estou bem, mas é preciso melhorar.
18 Encaremos a vida como deve ser a vida perante Deus e esperemos o futuro melhor. Creiam que estou fazendo muita força para não acovardar-me.
Não posso aumentar-lhes os sofrimentos.
19 Agora, é o momento de pensarmos na fé, na fé viva que nos ergue o pensamento para a Vida Maior. Abençoem-me e ajudem-me.
20 Lembrem-me estudando e não morto, porque a vida não admite a morte. Por hoje nada mais consigo escrever.
21 A garganta, como se eu fosse falar, está constrangida, e as lágrimas estão contidas, a ponto de rebentar. Quero confiar em Deus e em vocês e por isso termino, com um abraço, deixando aqui a vocês aquele beijo de todos os dias, rogando a Deus para que nos fortaleça e nos abençoe.
Jair Presente
COMENTÁRIOS
Nesta mensagem psicografada 42 dias apenas depois da morte de Jair Presente, são trazidas à baila, como também veremos nas próximas mensagens, revelações completamente desconhecidas pelo médium.
Seu contato superficial com a família do Jair, mal serviu para as identificações protocolares, de molde a aqui encontrarmos citações apenas compreendidas pelos familiares do jovem desencarnado.
Assim, à semelhança dos comentários anteriores, arrolaremos alguns dados que mais diretamente chamam a atenção nesta mensagem:
1 — Avô Basso — refere-se Jair ao avô materno, Vicente Basso, desencarnado há 12 anos em São Pedro, SP, com 84 anos de idade.
2 — “Vejo-os no quarto guardando-me as lembranças como se devesse chegar a qualquer instante” — realmente D. Josefina e Sueli confirmam que pouco antes da viagem a Uberaba, estavam guardando os petrechos de Jair em seu quarto de estudo, quando lhes ocorreu à lembrança que o filho em Espírito poderia estar naqueles momentos entrando no quarto, o que as deixou embaraçadas, posto que Jair não gostava que se mexesse em suas coisas.
3 — “Sou eu quem deu tanto trabalho aos amigos. Notei quando me chamavam, quando me abraçavam, massageando e me faziam quase respirar sem conseguir” — Esta afirmativa de Jair vem de encontro ao depoimento de Carlos Roberto Ramos Fonseca, um dos amigos que estavam na Praia Azul junto dele, quando de sua morte. Carlos afirma que foi feito de tudo para que Jair se recuperasse: massagem cardíaca, respiração boca-a-boca, exatamente como informa Jair, confirmando os depoimentos de outros Espíritos desencarnados no sentido de que presenciam todas as ocorrências com seu corpo cadaverizado, sendo essas impressões as primeiras que anotam em suas observações, logo após a passagem para o Plano Espiritual. Assim, nas primeiras horas após a morte, permanece o Espírito ligado ao corpo, como se ainda o estivesse ocupando.
4 — Embora chocante, merece ser mencionada a afirmativa de Jair em sua mensagem, quando diz: “há quem pense em drogas, quando se deixa a vida física, assim qual me sucedeu. Mas não havia drogas, nem abusos de véspera. Estávamos sóbrios e brincávamos à maneira de pássaros descuidados”. Informou-nos D. Josefina, mãe de Jair, de que fora advertida da possibilidade de Jair haver falecido envolto na atmosfera inebriante dos tóxicos, tendo lhe sido afirmado mesmo que de muitos dos jovens de hoje não se pode esperar situação diferente. Tal afirmativa descabida, para tantos quantos conheceram Jair Presente, muito chocou sua mãe. Jair, em Espírito, desmentiu a aleivosia.
5 — A respeito de Irmã Elvira, encaminhamos o leitor para a mensagem seguinte, recebida 15 dias depois.
Logo no início de sua primeira página do Além, Jair faz uma afirmação absolutamente coincidente com relatos de outros Espíritos, quando nos falam da vida no Plano Espiritual.
Diz Jair: “sofro muito com a atitude de casa”. Sem dúvida todos os Espíritos que se comunicam conosco, comentam que recebem os pensamentos dos familiares encarnados com uma sensibilidade muito grande: se os pensamentos são vazados em anseios de conformação e alegria, sentem-se bem, mais reconfortados em sua nova condição. Contudo, se, em seu nome, lágrimas de desespero são derramadas, dores, saudades são rememoradas, sofrem muito por não poderem retornar ao lar saudoso e reintegrar-se ao convívio mais direto de seus familiares queridos.
A observação de Jair deve servir de alerta para todos nós que enfrentamos as difíceis situações criadas pela separação transitória, pois não devemos aumentar os tormentos daqueles que nos precederam na passagem para o Lado de Lá, com a exteriorização de nossas dores e lágrimas. Devemos, sim, animá-los com nossas preces e nossos pensamentos construtivos.
Caio Ramacciotti