1 Mãezinha Dirce, meu pai Severino, meus queridos, peço a Deus nos abençoe.
2 Quem recebe socorro deve agradecer tão depressa quanto possível. É o que faço, rogando aos nossos Benfeitores para que concedam aos meus pais queridos e a todos os nossos a felicidade que me deram.
3 Mãezinha querida, o primeiro laço de prisão que me libertou foi aquele do momento de sua comunicação telefônica com a minha querida vovó Deolinda. n Quando o seu coração e o dela se misturaram no fio com as mesmas alegrias e com as mesmas lágrimas, reconhecendo que eu não havia desaparecido, aquela emoção das duas funcionou em mim por mão bendita a desatar-me para a Vida. 4 Achava-me livre daquela nuvem de pranto e de aflição que nos aguilhoava os pensamentos na mesma sombra. E daí em diante, desde as nossas conversações em casa até às surpresas na Faculdade, n entre os companheiros e professores, a existência foi se modificando.
5 Estou melhor, mais forte, experimentando novas forças e novas alegrias no coração.
E agradeço. Agradeço aos queridos pais, à vovó Deolinda, à tia Amelinha, ao tio Olavo n e a todos os corações inesquecíveis, tudo de bom que estou recebendo em tranquilidade e esperança. Agradeço ao tio Alberto e à tia Olga n e a todos — todos os que me fazem sentir que a morte se fundiu na vida, como a neblina se dissipa diante do Sol.
6 Agora compreendo que a sombra do corpo sem alma é assim quais o frio e a treva. Surgindo o calor e a claridade, frio e treva simplesmente não existem.
7 Louvado seja Deus que nos arranca da dúvida para a certeza, da saudade para a esperança! Felizmente, as impressões últimas desapareceram e estou íntegro em minhas faculdades.
8 Hoje, diante das lições que estou assimilando, reconheço que certas dificuldades orgânicas representam as lembranças derradeiras de desajustes que nós mesmos criamos em nós, em nosso corpo espiritual. 9 Muitas vezes, cometemos determinadas faltas, prejudicando a nós próprios, regressamos à Espiritualidade com os traços desses gestos infelizes e retomamos o corpo no renascimento com as marcas dessas atitudes com que assinalamos as peças de nosso envoltório orgânico. É por isso que eu trazia a luta congênita que me impôs a desencarnação violenta. n
10 Felizmente, a provação terminou e tenho hoje os meus recursos perfeitos no cérebro com que renascera, carregando o ponto enfermiço que se exteriorizou por fim, constrangendo-me à partida súbita, e com as bênçãos da compreensão de que hoje me felicito com os sentimentos renovados da querida família, estou transformado para seguir adiante, buscando valores que ainda não tenho, a fim de ser-lhes mais útil. 11 Vovó Pessoa ou vovó Zezé n está comigo nestes momentos e agradece-lhes igualmente por mim.
12 Mãezinha Dirce, sejamos felizes. Deus colocará em suas mãos e nas mãos de meu querido papai Severino tudo aquilo de que necessitamos para auxiliar àqueles que atravessam dificuldades e lutas maiores do que as nossas.
13 Um novo Mundo se descortina aos meus olhos. Penso na Engenharia, cujos estudos espero rearticular; no entanto, com ela, reconheço presentemente que é necessário estudar a ciência do amor para que venhamos a praticá-la. 14 Começo os meus exercícios nas aulas de casa. Primeiro, meus pais queridos, incluindo os meus queridos tio Olavo e tia Amelinha, por vovó Deolinda e por todos os nossos, mas já posso dizer que estou igualmente cooperando na paz e na alegria de nossa Regina, de nossa Míriam, de nosso Celso, n e de outros companheiros da minha faixa de tempo, de vez que é preciso ajudar para sermos ajudados.
15 Mãezinha Dirce e meu pai Severino, muito obrigado por havermos enxugado os olhos para fitar a Terra que não conhecíamos: a Terra dos que se arrastam em duros problemas da vida material, dos que choram sem esperança, dos que se perderam nas sombras do pessimismo, dos que experimentam abandono por moléstias que lhes carcomem as forças, dos que caminham a sós, rogando a Deus um lugar dentro da noite que lhes permita o repouso sem maior aflição…
16 Deus de bondade, quantos ensinamentos é preciso que a morte nos aponte! Benditas sejam assim as nossas dores, porque todas elas, em nossa separação, funcionaram por medicamentos da alma, ensinando-nos a usar as fibras mais profundas do coração!
17 Estou feliz, porque senti em todos os entes amados essa renovação que experimentei! Não é o adeus que a morte nos impõe e sim a luz da vida que ela nos descerra, ensinando-nos a ver — a ver por dentro de nós, com os olhos do coração.
18 Temos aqui muitos amigos que nos prometem sustento e cooperação, apoio e auxílio constantes. Nosso amigo Augusto n e nosso amigo Senhor Abreu n me recomendam dizer às nossas irmãs Dona Yolanda e Dona Laura que eles se encontram aqui e agindo sempre para que as estradas do dia a dia se façam sempre mais claras.
19 Vovó Bonfim, n uma abnegada amiga e benfeitora devotada que vim a conhecer aqui com o meu avô Severino, abraça ao querido tio Olavo, de quem beijo as mãos na condição, não só de sobrinho, mas também de seu filho espiritual. Somos tantos neste recinto, mas, acima de tudo, todos me dizem: Tato, o maior de nós que está presente em nossos grupos de prece é Jesus, sempre Jesus, representado pelos Benfeitores que nos amparam e nos socorrem a vida. Que Jesus, assim nos abençoe e nos fortaleça.
20 Paizinho Severino e mãezinha Dirce, mãezinha Amelinha e paizinho Olavo, façam por mim as lembranças e agradecimentos a todos os nossos. Meu afeto e meu reconhecimento a todos os caros amigos da FEI. O carinho que me dedicaram muito me enternece; entretanto, reconheço que nada sou ainda e não fiz o que devo fazer para merecer tantas bênçãos. Recebo, porém, tantas manifestações de bondade por empréstimo de recursos para o trabalho de hoje, a fim de resgatar amanhã os débitos que vou contraindo.
21 Queridos meus, minha querida vovó Deolinda, recebam todo o meu amor e todo o meu reconhecimento. Rogo me perdoem as omissões. Queremos lembrar nomes nos lápis e marcar notas de gratidão pessoal; entretanto, ao escrevermos, as letras vão saindo do coração, sem que a memória, por vezes, consiga entrar naquilo que fazemos.
22 Mãezinha Dirce e meu pai Severino, com todos os nossos, peço guardarem o meu carinho de todos os instantes. Que Deus nos conserve nas vibrações de fé e alegria a que fomos conduzidos pela bondade dos nossos amigos da Vida Espiritual, a fim de crescermos em esperança e amor, serviço e construção nos valores da alma, são os meus votos.
23 Aos meus queridos, corações abençoados do meu coração, o abraço do filho, sempre reconhecido e cada vez mais filho e amigo nas bênçãos de Deus.
Carlos Alberto
(Tato)
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Novamente as revelações desconcertantes do Além. Detalhes aparentemente simples, fatos ocasionais do cotidiano e citações fartas são o cartão de visitas do jovem que se materializa aos pais nas palavras candentes de quem, despojado do corpo físico, não consegue fixar sua imagem na retina de nossos olhos.
Em sua mensagem anterior, Carlos Alberto surpreende-nos quando se refere à sua prima, ausente da reunião em Uberaba, chamando-a por Regina, como o fazia quando “vivo”, embora os outros familiares a tratem por Célia. Alerta-nos a atenção ao pedir aos pais que abençoem o seu Tato, apelido íntimo e carinhoso vedado aos familiares mais chegados. Observa recônditas recordações do Dr. Marins e fala de sua morte.
Nesta mensagem, anotamos os seguintes elementos dignos de citação:
1 — Vovó Deolinda — Deolinda Glianda da Silva, avó materna de Carlos Alberto, residente em Santos. O jovem refere-se claramente ao telefonema de D. Dirce à mãe, três dias antes de viajar para Uberaba, dizendo de sua certeza na sobrevivência do filho, documentada na primeira mensagem e, porque não, falando da esperança em novo encontro com a mediação do querido Chico.
2 — Surpresas na Faculdade — entende D. Dirce, a mãe de Carlos Alberto, ser referência à surpresa de que se viram acometidos os colegas da FEI, quando foram visitados pelos pais do ex-estudante daquela Faculdade. Dada a disputa pela palavra do “morto” que seus pais levavam através da mensagem psicografada pelo Chico Xavier, viram-se obrigados os colegas de Carlos Alberto a imprimir na própria FEI cópias da mensagem para satisfazer a todos.
3 — Tio Olavo — Olavo Jorge Bonfim, tio de Carlos Alberto, esposo de D. Amélia, citada na mensagem anterior. Muito queridos do jovem que os considerava como aos próprios pais.
4 — Tio Alberto e Tia Olga — Alberto Pessoa, da Silva e Olga Bonamini Pessoa da Silva, também residentes em Santos.
5 — Faz Carlos Alberto referência ao aneurisma cerebral, cuja ruptura o levou para a Espiritualidade. Ao falar da fixação no corpo espiritual, ou perispírito, das falhas decorrentes de gestos infelizes de outras vidas, dá-nos exemplo vivo de como se processa a Justiça Divina. Pelo livre arbítrio, incorporamos ao corpo espiritual essa ou aquela deficiência a se exteriorizar no corpo material em consequentes lesões ou mutilações.
Somos hoje o reflexo do que fizemos ontem, ensina-nos Emmanuel, como amanhã colheremos nossa plantação de hoje, de modo que a infinita bondade de Deus nos concede a oportunidade de refazermos, nas lutas da Terra, o nosso equilíbrio espiritual, através da experiência abençoada da reencarnação.
Os paroxismos da agressão ao corpo espiritual se revelam nas mutilações ou lesões congênitas graves, como ocorre nas paralisias cerebrais ou nas cardiopatias congênitas, onde as lesões físicas, correspondentes às lesões do corpo espiritual, decorrem de compromissos assumidos em existências passadas, como por exemplo a morte antecipada pelo suicídio.
6 — Vovó Pessoa ou Vovó Zezé — Maria Josefa Pessoa dos Santos; bisavó materna, desencarnada em Portugal há 70 anos, tempo suficientemente longo, cremos, para que sua lembrança fosse sequer fugaz entre os pais de Carlos Alberto, durante a recepção da mensagem pelo Chico.
7 — De nossa Regina, de nossa Míriam e de nosso Celso — Regina já foi identificada na mensagem anterior. Míriam e Celso são os primos Míriam Aparecida Pessoa da Silva, professora em São Vicente e Celso Alberto Pessoa da Silva, estudante em São Paulo.
8 — Augusto Cezar Netto, um dos autores espirituais do livro.
9 — Sr. Abreu — Serafim Pereira de Abreu, desencarnado em 1973, esposo de D. Laura Moreira de Abreu, residente em São Paulo e presente à reunião.
10 — Vovó Bonfim — assim era chamada quando na Terra a Srª Alvarina Jorge Bonfim, mãe do tio Olavo. Vovó Bonfim faleceu em 1944.
Caio Ramacciotti