1 Doente, pobre, velhinho,
O desditoso Simão,
Arrimado a seu bordão,
Andava devagarinho…
2 Pés e mãos em chaga aberta,
Lá ia o velho, coitado!
Enfermo, desamparado
E humilde na estrada incerta.
3 Cabelo todo branquinho,
Rugosa a face morena,
O pobre metia pena
A vagar pelo caminho…
4 De onde viera? Ora, quem
Buscava saber ao certo?
Vinha de longe ou de perto?
Ninguém sabia, ninguém.
5 Só lhe sabiam do nome,
E que, em miséria, sem nada,
Ele esmolava na estrada,
A fim de matar a fome.
6 Estendendo seu chapéu,
Pedia, cheio de dor:
— Uma esmola, meu senhor,
Por amor ao Pai do Céu!…
7 Mas, oh! Deus, que desalento
Neste mundo de aflição!
Ninguém ouvia Simão
Nas horas do sofrimento.
8 — Passai de largo! é leproso!…
Diziam homens cruéis —
— Oh! não vos aproximeis
Deste ancião perigoso!…
9 — Ah! que graça! Põe-te à brisa! —
Exclamava outro passante —
Nada de esmola ao tratante,
Que este velho não precisa!…
10 O mendigo, nos seus ais,
Dizia: — Viva a saúde!
Trabalhei enquanto pude,
Agora, não posso mais…
11 Toda a gente lhe fugia,
Ninguém lhe dava uma sopa,
Nem um trapinho de roupa
Para a noite da agonia.
12 Muito tempo era passado,
E o desditoso velhinho
Sentia-se mais sozinho,
Mais doente, mais cansado…
13 Chegou, enfim, um momento
Em que o velho sofredor
Caiu de frio e de dor
Na estrada do sofrimento.
14 Caiu e sonhou, contente,
Embora a sede e o cansaço,
Que Jesus vinha do Espaço
Dizendo-lhe, docemente:
15 “— Escuta, meu bom Simão,
Não temas, querido amigo!
Sê forte! Eu estou contigo.
Chegaste à ressurreição.
16 “Não chores. Estou aqui!…
Terminou tua aflição,
Estás em meu coração!
Pensavas que te esqueci?
17 “Enquanto o mundo enganado
Atormentava-te ao peso
De zombaria e desprezo,
Eu sempre estive ao teu lado.
18 “Teus prantos e tuas dores
São, hoje, a luz que te veste
No campo do amor celeste,
Repleto de eternas flores.”
19 E Jesus, em voz mais terna,
Concluía: — “Vem, Simão,
À doce consolação
Do mundo de luz eterna!…”
20 E Simão, chorando e rindo,
A seguir, ditoso, o Mestre,
Esqueceu a dor terrestre,
No céu venturoso e lindo.
21 O caminho era de estrelas
De tão sublime matiz
Que o pobre ria, feliz,
Sem saber como entendê-las.
22 No outro dia, ao reconforto
Do sol de coroa erguida,
Acharam Simão sem vida…
O mendigo estava morto.
João de Deus
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