O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Instruções psicofônicas — Autores diversos


59 n

Um coração renovado

A noite de 7 de abril de 1955 integrou a semana com que a Cristandade rememorou a flagelação de Jesus.

Em nosso Grupo foi mais intensa a movimentação socorrista em favor dos sofredores desencarnados, dentre os quais sobressaíram diversos irmãos hansenianos que, mesmo além da morte, revelavam dolorosas fixações mentais de revolta e amargura. Vários dos médiuns presentes foram veículos deles, convocando-nos ao argumento evangélico e à oração para o alívio que reclamavam.

Concluindo as nossas tarefas, no horário dedicado aos Instrutores Espirituais, os recursos psicofônicos do médium Xavier foram ocupados pelo poeta Jésus Gonçalves, n desencarnado em Pirapitingui, que também passou pela provação da lepra, cuja palavra nos trouxe amoroso esclarecimento.


I


1 Amigos.

Sou o vosso irmão Jésus Gonçalves, o leproso de Pirapitingui, a quem o Espiritismo ofereceu nova visão da vida.

2 Agradeço-vos o concurso fraterno, em socorro dos irmãos hansenianos desencarnados.

Vieram conosco, entre a lamentação e a revolta, perturbados e oprimidos…

No mundo, receberam a chaga física por maldição, quando poderiam utilizá-la como porta salvadora, e, no mundo espiritual, experimentam os efeitos da rebeldia.

Trazem, ainda, na organização perispirítica, os remanescentes da enfermidade que os acabrunhava e, no íntimo, sofrem a indisciplina e a inconformação.

3 Graças a Jesus, porém, recolheram o benefício da calma, pelas sementes de renovação evangélica espalhadas em vossos estudos de hoje e esperamos possam imprimir, desde agora, novos rumos à própria transformação.

4 E, agora, peço permissão para orar convosco.

Nesta noite, em que toda a Cristandade se volta, reconhecida, para a memória do Mestre, sentimo-lo igualmente em seu derradeiro sacrifício e, mentalizando-O no madeiro, de alma genuflexa, trazemos a Ele, nosso Eterno Amigo e Divino Benfeitor, a nossa prece de leproso diante da cruz.


Em seguida a leve pausa, o Espírito de Jésus Gonçalves modificou a inflexão de voz e, erguendo-se para o Alto, orou, em lágrimas, comovedoramente:


II


1 Senhor, eu que vivia em vãos clamores,

Vinha de longe em ânsias aguerridas,

Sob a trama infernal de horrendas lidas,

Entre largos caminhos tentadores.


2 Tronos, glórias, tiaras, esplendores

E cidades famélicas vencidas…

Tudo isso alcancei, de mãos erguidas

Aos gênios tenebrosos e opressores.


3 Mas, fatigado, enfim, de ser verdugo,

Roguei, chorando, a graça de teu jugo

E enviaste-me a lepra e a solidão.


4 E, confinado às dores que me deste,

Abriu-se-me a visão à luz celeste,

E achei-te, excelso, no meu coração.


III


1 Hoje, Mestre, ante a cruz em que te apagas,

Na compaixão que ajuda e renuncia,

Não te peço o banquete da alegria,

Embora o doce olhar com que me afagas.


2 Venho rogar-te a túnica das chagas

Para que eu volte à estrada escura e fria,

Em que os filhos da noite e da agonia

Sofrem ulcerações, bramindo pragas…


3 Dá-me, de novo, a lepra que redime,

Conservando-me a fé por dom sublime,

Agora que, contente, me prosterno!


4 E que eu possa exaltar, por muitas vidas,

Sobre o lenho de angústias e feridas,

O teu reino de amor divino e eterno.


Jésus Gonçalves


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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