1 Senhor, eu que vivia em vãos clamores,
Vinha de longe em ânsias aguerridas,
Sob a trama infernal de horrendas lidas,
Entre largos caminhos tentadores.
2 Tronos, glórias, tiaras, esplendores
E cidades famélicas vencidas…
Tudo isso alcancei, de mãos erguidas
Aos gênios tenebrosos e opressores.
3 Mas, fatigado, enfim, de ser verdugo,
Roguei, chorando, a graça de teu jugo
E enviaste-me a lepra e a solidão.
4 E, confinado às dores que me deste,
Abriu-se-me a visão à luz celeste,
E achei-te, excelso, no meu coração.
III
1 Hoje, Mestre, ante a cruz em que te apagas,
Na compaixão que ajuda e renuncia,
Não te peço o banquete da alegria,
Embora o doce olhar com que me afagas.
2 Venho rogar-te a túnica das chagas
Para que eu volte à estrada escura e fria,
Em que os filhos da noite e da agonia
Sofrem ulcerações, bramindo pragas…
3 Dá-me, de novo, a lepra que redime,
Conservando-me a fé por dom sublime,
Agora que, contente, me prosterno!
4 E que eu possa exaltar, por muitas vidas,
Sobre o lenho de angústias e feridas,
O teu reino de amor divino e eterno.
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