VERSOS DO NATAL
1 Enquanto a glória do Natal se expande
Na alegria que explode e tumultua,
Lembra o Divino Amigo, além, na rua…
E repara a miséria escura e grande.
2 Aqui, reina o Palácio do Capricho
Que a louvores e júbilos se entrega,
Onde a prece ao Senhor é surda e cega
E onde o pão apodrece sobre o lixo.
3 Ali, ergue-se a Casa da Ventura,
Que guarda a fé por fúlgido tesouro,
Onde a imagem do Cristo, em prata e ouro,
Dorme trancada em cárceres de usura.
4 Além, é o Ninho da Felicidade
Que recorda Belém, cantando à mesa,
Mas, de portas cerradas à tristeza
Dos que choram de dor e de saudade.
5 Mais além, clamam sinos com voz pura:
— “Jesus nasceu!” — É o Templo dos Felizes
Que não se voltam para as cicatrizes
Dos que gemem nas chagas de amargura…
6 Adiante, o Presépio erguido em trono
Louva o Rei Pequenino e Solitário,
Olvidando os herdeiros do Calvário
Sobre as cinzas dos catres de abandono.
7 De quando em quando, o Mestre, em companhia
Daqueles que padecem sede e fome,
Bate ao portal que lhe relembra o nome,
Mas em resposta encontra a noite fria.
8 E quem contemple a Terra que se ufana,
Ante o doce esplendor do Eterno Amigo,
Divisará, de novo, o quadro antigo:
— Cristo esmolando asilo na alma humana.
9 Natal!… O mundo é todo um lar festivo!…
Claros guizos no ar vibram em bando…
E Jesus continua procurando
A humilde manjedoura do amor vivo.
10 Natal! eis a Divina Redenção!…
Regozija-te e canta, renovado,
Mas não negues ao Mestre desprezado
A estalagem do próprio coração.
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