Da esperança
Por cinco dias n
1 Mais de seis lustros passaram.
Francisco Teodoro, o industrial suicida, experimentara pavorosos suplícios nas trevas…
Defrontado por crise financeira esmagadora, havia aniquilado a existência.
2 Tivera vida próspera. À custa de ingente esforço, construíra uma fábrica. Importando fios, conseguira tecer casimiras notáveis. E o trabalho se lhe desdobrava, promissor. Operários e máquinas eficientes, armazéns e lucros firmes.
3 Surgira, porém, a retração dos negócios.
Humilhavam-no cobranças e advertências, a lhe invadirem a casa. Frases vexatórias espancavam-lhe os ouvidos.
— Coronel Francisco, trago-lhe as promissórias vencidas.
— Sr. Francisco, nossa firma não pode esperar.
4 O capitão de serviço pedia mais tempo; apresentava desculpas; falava de novas esperanças e comentava as dificuldades de todos.
Meses passaram pesadamente.
Cartas vinagrosas chegavam-lhe à caixa postal.
5 Devia a credores diversos o montante de oitocentos contos de réis. A produção, abundante, descansava no depósito, sem compradores.
6 Procurava consolo na fé religiosa.
Por toda parte, lia e ouvia referências à Divina Bondade. Deus não desampara as criaturas, — pensava. Ainda assim, tentava a oração, sem abandonar a tensão.
7 E porque alguém o ameaçava de escândalos na imprensa, com protestos públicos, em que seria indicado por negociante desonesto, escreveu pequena carta, anunciando-se insolvável, e disparou um tiro no crânio.
8 Com imenso pesar, descobriu que a vida continuava, carregando, em zonas sombrias de purgação, a cabeça em frangalhos…
9 Palavra alguma na Terra conseguiria descrever-lhe o martírio. Sentia-se um louco encarcerado na gaiola do sofrimento. Depois de trinta anos, pôde recuperar-se, internando-se em casa de reajuste, reavendo afeições e reconhecendo amigos…
10 E agora que retornava à cidade que lhe fora ribalta ao desespero, notava, surpreendido, o progresso enorme da fábrica que lhe saíra das mãos.
11 Embora invisível aos olhos físicos dos velhos companheiros de luta, abraçou, chorando de alegria, os filhos e os netos reunidos no trabalho vitorioso.
12 E após reconhecer o seu próprio retrato, reverenciado pelos descendentes no grande escritório, veio a saber que acontecimento importante sucedera cinco dias depois dos funerais em que a família lhe pranteara o gesto terrível.
13 À face da alteração na balança comercial do País, ante a grande guerra de 1914, o estoque de casimiras, que acumulara zelosamente, produziu importância que superou de muito a quatro mil contos de réis.
14 Mostrando melancólico sorriso, o visitante espiritual compreendeu, então, que a Bondade de Deus não falhara.
Ele apenas não soubera esperar…
Hilário Silva
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Esperança — doce alento
De quem serve, ama e confia,
Escora no sofrimento,
Pão nosso de cada dia. ( † )
Oscar Batista
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Se sofres dores crescentes,
Não esmoreças na estrada.
Quando chega a meia-noite,
É hora da madrugada. ( † )
Lauro Pinheiro
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Diante da noite, não acuse as trevas. Aprenda a fazer lume. ( † )
André Luiz
[1] Esta mensagem foi publicada originalmente em 1960 pela FEB e é a 7ª lição da 2ª parte do
livro “A Vida Escreve.”