1 Quis demorar-me contigo, quando me procuraste pedindo luz.
2 Perdoa-me se não pude mergulhar o pensamento, de imediato, em tuas cogitações.
3 Falavas dos mundos superiores e indagavas pelo destino; exaltavas a Ciência e citavas a História.
4 Discutias os problemas sociais com tanta beleza que, em verdade, aspirei a sentar-me ao teu lado para ouvir-te todas as confidências.
5 Entretanto, por mais me detivesse em tua palavra, trazia no coração os gritos reiterados de quantos me chamavam, impacientes.
6 Não sei se chegaste a ver as mulheres enfermas e as crianças esfarrapadas que choravam, junto de nós, invejando os cães de luxo que passavam de carro…
7 Decidia-me a comentar os temas que me propunhas, quando notei a dama bem posta, repreendendo o homem cansado que esmolava na rua e corri a vê-lo. Envergonhado, o infeliz debatia-se em pranto. Amparei-o como pude e segui-lhe o passo, encontrando-lhe a companheira a gemer num montão de lixo, aguardando a morte. O menor dos seis pequeninos que a rodeavam, cravava nela o olhar ansioso, esperando o leite que secara no peito. A pobre mãe fitava-me agoniada, como a pedir-me lhe reavivasse os seios desfalecentes… Nisso, vi-lhe o esposo desesperado intentando morrer… Entreguei-os aos vizinhos, tão desditosos quanto eles mesmos, e depois de acalmá-los, no bálsamo da oração, volto a ver-te.
8 E agora, a ti que me buscaste as mãos rogando conhecimento, estendo igualmente as minhas, a suplicar-te migalha de auxílio para aqueles que esmorecem de fome e pranto.
9 Vem comigo e não te dês a longas indagações! Ajudando aos que sofrem, seguiremos o Cristo que dizemos amar e, decerto, que a luz te abençoará em silêncio, porque Ele próprio, como outrora, te repetirá no júbilo do serviço: “Aquele que me segue não anda em trevas.” ( † )
Meimei