O Caminho Escritura do Espiritismo Cristão
Doutrina espírita - 2ª parte.

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Intercâmbio do bem — Familiares diversos


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Selma Rodrigues Sanches

04 MARÇO 1969 — 07 ABRIL 1985

“Reconfortou-me muito. Não consigo expressar o quanto me senti feliz naquela noite. Impressionou-me a citação de minha irmã Amália, pois nunca havia falado dela; tive nove irmãos que desencarnaram muito cedo, e era difícil decorar o nome de todos.

“Mas foi bom saber que sua mensagem ensina-nos o que significa o suicídio. Sentimos que ela desestimula quem procura tal caminho, na ilusão de que os problemas e as amarguras cessarão.

“Agradeço aos bons irmãos Chico Xavier e Eurípedes, através dos quais me foi possível receber a mensagem, que tanto esclarecimento e conforto trouxe ao meu espírito.

“Que Deus os abençoe.”

(Júlia Rodrigues Sanches)


Selma nasceu e desencarnou em Santo André (SP).

Filha de D. Júlia Rodrigues Sanches e Nalmio Ribeiro Sanches, deixou, entre nós, também, a irmã Telma Rodrigues Sanches de Souza, casada com Eduardo Paulino de Souza.

Cursava o supletivo, 1.º grau, na ocasião de seu regresso à Vida Espiritual.




MENSAGEM


1 Mãezinha Júlia, abençoe-me.

2 Eu não saberia descrever as minhas impressões de horror, depois de haver feito levianamente a tentativa de tiro com a arma que me desapropriou a existência terrestre.

3 Estou aqui, acompanhada pela tia Amália Sanches n que vem assumindo diante de mim o papel de generosa mãe, suportando sem qualquer censura a inconsequência do meu gesto.

4 Acontece que naquele dia infeliz comecei a pensar no casamento da Telma e deixei que a melancolia se me apossasse do íntimo. 5 Senti o gosto amargo da solidão antecipadamente e perdi grandes oportunidades de aprendizado, aqui com a agravante de adquirir o remorso que me encegueceu para a trilha da aurora.

6 De que modo me descartarei dos sofrimentos, que eu própria, impensadamente, instalei por dentro de minhalma, ainda, creio, não sei como fazer.

7 O Eduardo não teve qualquer culpa. Eu própria vasculhei recantos e gavetas, até encontrar a arma que me pareceu uma joia admiravelmente talhada.

8 Experimentá-la foi o meu grande desastre e desconheço de que maneira iniciarei o meu esforço de rearticular o meu próprio controle.

9 Pedir perdão aos queridos pais, à irmãzinha e ao nosso amigo que nos honra a família, a meu ver, é a primeira medida para expungir a sombra que se condensou por dentro.

10 Preciso pensar nas causas de minha tristeza congênita, de meu desinteresse pela existência, o que significa, aos meus olhos, desrespeito às Leis de Deus.

11 Não tenho ainda visão ampla, capaz de senhorear os quadros que me cercam. A querida tia Amália Sanches é que se me fez o guia para movimentar-me.

12 Perdoe, mãezinha Júlia, a sua filha que se deixou dominar pelas influências infelizes que me rodearam, como que me impelindo ao gesto fatal.

13 Sofro muito, em consequência de minha inadaptação à vida. E a verdade é que a vida na Terra era a melhor escola de que poderia dispor, a fim de chegar aqui sem problemas constrangedores que me arrasam as energias.

14 O suicídio é uma calamidade para quem o pratica, de vez que suscitado por nossas próprias mãos o processo de sofrimento, não conseguimos prever o ciclo de provações a que teremos todos os sentimentos aprisionados numa rotina em que diariamente se nos refaz o martírio.

15 Perdoem-me em casa se lhes falo com esta linguagem da angústia. Não tenho outra para expor o meu íntimo carregado de frustrações. Ainda assim, espero em Jesus que jamais nos abandona.

16 Agora que me entrego à oração com todas as minhas forças, reconheço que recusar a vida que Deus nos concede é uma lesão da própria vida em nós e isso me aflige e quase me faz desesperar ao mesmo tempo.

17 Mãe, a tia Amália Sanches tem me falado de obsessões que nos seguem através de longas fases de nosso caminho e compreendo que fui vítima da cilada que me armaram, mas não quero isentar-me da culpa que se faz em mim complicado processo de perturbação e dor.

18 Peço-lhes vibrações de paz, a fim de que me tranquilize tanto quanto possível para refletir em recomeço do meu adestramento em resistência espiritual, porque já entendo que regressarei à Terra para transitar em caminhos iguais à estrada que abandonei indevidamente.

19 Em suma, desejo ao seu coração querido e a todos os nossos entes amados a felicidade que ainda não tenho para mim e compareço ante a família que me deu tanto amor, à feição da mendiga de afeto e compreensão em que presentemente me tornei.
Espero melhorar-me. Deus, que a ninguém menospreza, me renovará as energias para que me reencontre.

20 Muito amor para Telma. Meus pensamento de ternura e carinho para o Marcelo n que se me faz agora um credor de minha mais alta gratidão.

21 Muitas lembranças para a nossa casa que tornei quase infeliz, e agradecendo a sua bênção que me refaz a esperança de melhores dias, sou, com meu pai, como sempre, a sua filha, mais sua por ser aqui o coração desolado que lhe pede continuar sempre, nas orações de necessária renovação.


Selma Rodrigues

17 de maio de 1985. 


Caio Ramacciotti

Paulo de Tarso Ramacciotti



[50] Amália Sanches — irmã de D. Júlia, desencarnou há mais de 40 anos.

[51] Marcelo Bizenha — namorado de Selma.


Texto extraído da 1ª edição desse livro.

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